Os Verdes reuniram-se em Conselho Nacional e as conclusões não sorriem ao Governo. José Luís Ferreira afirma que o silêncio do Executivo transmite a ideia clara de que o Orçamento “é para morrer” e diz ainda que “há indícios” que apontam no sentido do fim da solução governativa dos últimos anos, baseada em entendimentos entre o PS e os partidos à sua esquerda.

Ainda que depois da audiência de sexta-feira com o Presidente da República o líder da bancada do PEV José Luís Ferreira já tivesse avançado que Os Verdes não viabilizaram o Orçamento do Estado na atual redação, este sábado chega a posição oficial do partido: “o PEV não se revê minimamente neste Orçamento tal como se apresenta, no entanto, considera que há ainda tempo até à votação na generalidade”.

O partido bateu os eixos que levou ao Governo, um por um, para demonstrar que o Executivo “ignorou literalmente os contributos do PEV”. Na área do combate à pobreza, o PEV fala da não atualização do mínimo de existência e do facto de os escalões do IRS não acompanharem a inflação; lamenta que não haja qualquer desenvolvimento no “sentido de avançar para a progressiva gratuitidade dos transportes públicos”; aponta a falta de medidas de relevo na área da limpeza do país e de “cuidar dos recursos”; diz que os investimentos previstos na saúde, educação, cultura ou justiça “ficam muito longe do necessário” e que a aposta na “agricultura familiar e biológica foi completamente ignorada”.

Quanto ao hipotético cenário de crise política, Os Verdes não se deixam incomodar: “Os Verdes olham para este Orçamento sem pressões e sem dramatizações, e independentemente de acenos ou ameaças de crise”.

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Acrescentam Os Verdes, aliás, que “em crise estão os serviços públicos há tempo de mais” e que o Orçamento se mostra “incapaz de fazer sentir esse crescimento na vida das pessoas e na qualidade dos serviços públicos”.

O Conselho Nacional do PEV não se revê minimamente neste Orçamento tal como se apresenta, no entanto, considera que há ainda tempo até á votação na generalidade, para procurar soluções, pelo que atribui à Comissão Executiva a responsabilidade para acompanhar o processo, desde que o Governo e o PS manifestem sinais nesse sentido, lê-se no comunicado.

“Com este silêncio do Governo dá ideia de que isto é para morrer”

Questionado se este momento parece ser o fim da solução governativa dos últimos anos, baseada em entendimentos entre o PS e os partidos à sua esquerda, o dirigente e deputado do PEV respondeu: “Sim, eu acho que há indícios que apontam para esse sentido.”

Em conferência de imprensa sobre as conclusões do Conselho Nacional do PEV, na Casa do Alentejo, em Lisboa, José Luís Ferreira referiu que nesta fase “nos anos anteriores o processo estava muito mais avançado” e que agora nem sequer há qualquer reunião marcada, concluindo: “As coisas conforme estão, com este silêncio do Governo, dá ideia de que isto é para morrer.”

O que ficou decidido pelo Conselho Nacional do PEV foi que, “tal como está”, a proposta do Governo “terá o voto contra” deste partido, mas que “há ainda tempo até à votação na generalidade para procurar soluções com vista a viabilizar o Orçamento do Estado para 2022”.

José Luís Ferreira adiantou que, “para esse efeito, o Conselho Nacional responsabilizou a Comissão Executiva para ir acompanhando todo o processo, desde que haja algum sinal de abertura ou disponibilidade por parte do Governo e do PS para que haja essa conversa” – o que deve acontecer “até à votação na generalidade”.