“À Solta na Internet”

Três jovens atrizes com ar de muito mais novas; um cenário em estúdio a recriar os seus respetivos quartos; três perfis falsos nas redes sociais. Esta foi a montagem feita pelos documentaristas checos Barbora Chalupová e Vit Klusák em “À Solta na Internet” para mostrarem a quantidade e a variedade de predadores sexuais a que os mais novos estão expostos “online”. E foram centenas os atraídos pela encenação, expondo-se sexualmente de imediato ao trio de raparigas — mesmo sabendo que elas “tinham” 12 anos –, enviando fotos e “links” pornográficos, oferecendo dinheiro em troca de imagens íntimas, propondo encontros e fins-de-semana e até recorrendo à chantagem. Um documentário impressionante e assustador sobre os perigos para os menores e os mais jovens que enxameiam a Net, e a forma com quem administra “sites” de relacionamento social e amizades se demite de os patrulhar, e que culmina com realizadores, técnicos e atrizes a confrontar um dos pedófilos que contactaram e tentaram aliciar uma destas. Um homem que trabalha a organizar férias e acampamentos de crianças.

“O Meu Ano com Salinger”

Na década de 90, a escritora Joanna Rakoff, então recém-saída da universidade, foi trabalhar como assistente para a agência literária novaiorquina que representava J.D. Salinger, que chegou a conhecer. Este filme de Philippe Falardeau adapta o livro que ela escreveu mais tarde sobre as sua recordações desse tempo e poderá interessar especialmente aos “salingerianos”, já que os vários pequenos episódios relacionados com o autor de Uma Agulha no Palheiro (que só ouvimos falar ao telefone e nunca vemos de perto, no par de vezes que aparece) são o que mais sobressai de um enredo simpático mas tépido, em que o realizador não nos consegue fazer sentir a vontade que move a jovem Joanna (interpretada por Margaret Qualley) para também ser escritora. O outro extra de “O Meu Ano com Salinger” é Sigourney Weaver no papel da diretora da agência, uma senhora da velha escola que põe grandes reticências à instalação de um computador no escritório.

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“Terra Nova”

Artur Ribeiro assina esta montagem para cinema de parte da série de televisão com o mesmo título, já exibida pela RTP, inspirada por “O Lugre”, de Bernardo Santareno. A ação passa-se a bordo de um dos barcos portugueses que há várias décadas rumavam aos mares gelados da Terra Nova para pescar o bacalhau, e lá ficavam por uma longa temporada. Porque a pesca tem sido má, o capitão decide apontar até à Gronelândia, rota nunca antes navegada pelos lugres. Na tripulação há um pescador que todos consideram ser portador de má sorte, e entre as tempestades, o frio e a crescente tensão entre os homens, instala-se um enorme mal-estar a bordo, que vai conduzir a um motim, apesar dos esforços apaziguadores do jovem médico do barco, na sua primeira viagem. Fazem falta mais produções de grande fôlego como esta ao cinema português, embora “Terra Nova” sofra por ser um sucedâneo para a tela de uma série, e de interpretações desiguais.

“O Último Duelo”

Baseado no livro homónimo de Eric Jager, este novo filme de Ridley Scott recria um acontecimento real. O duelo até à morte travado em França em 1386, durante a Guerra dos Cem Anos, entre Jean de Carrouges e Jacques Le Gris, ambos da pequena nobreza, que tinham combatido juntos e sido grandes amigos, até se terem zangado por questões de terras e de poder. E sobretudo por Marguerite, a mulher de Carrouges, ter acusado Le Gris de violação. O duelo, que teve que ser autorizado pelo rei por já estar proibido na altura, era decidido por “julgamento de Deus”. Se Carrouges perdesse e morresse, era sinal divino que a sua mulher tinha mentido e ela seria queimada viva como punição; se ele ganhasse, Deus estava do lado do vencedor, ela tinha dito a verdade e a infâmia cairia sobre o derrotado. Interpretam Matt Damom, Adam Driver Jodie Comer e Ben Affleck. “O Último Duelo” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.