O astronauta da agência espacial norte-americana Carlos Garcia-Galan afirmou que “vai demorar algumas gerações” até a humanidade conseguir realizar uma missão tripulada a Marte e fixar-se por lá. Até lá, é preciso fazer mais do que regressar à Lua: é preciso saber como lá ficar, nomeadamente com a construção de um laboratório espacial em torno dela — o Sistema Gateway.

Na palestra que conduziu no palco Deep Tech na Web Summit esta quinta-feira, o veterano da NASA recordou que o projeto Artemis, concebido pela agência americana para realizar a primeira missão tripulada à Lua desde 1972 (desta vez com mulheres entre os astronautas), tem objetivos diferentes da missão Apollo.

“Quando fizemos a Apollo, a prioridade era apenas ir. Agora é fazer uma estação e construir uma infraestrutura para operarmos a longo prazo na Lua e aprendermos para darmos o próximo passo”, comparou Carlos Garcia-Galan. De resto, é a única maneira de a humanidade “chegar ainda mais longe”.

Os motivos vão além da obtenção de conhecimento técnico e dos incentivos económicos: “O regresso à Lua vai ser um tsunami de inspiração”, acredita o astronauta: “É permitir aos exploradores e empreendedores do futuro que o que parece impossível não o é”.

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O primeiro passo é daqui a três meses, em fevereiro de 2022, com o lançamento de uma missão não tripulada em redor da Lua, a Artemis 1, com o propósito de testar os sistemas tecnológicos do projeto. Segue-se uma missão tripulada, mas sem a aterragem na superfície lunar, ainda em 2022 — a Artemis 2. Só à terceira é que a humanidade alunará finalmente, volvida mais de meia década desde a última missão Apollo, em 2024.

Como a missão Artemis foi concebida para o caso de tudo correr mal

Os astronautas da missão Artemis viajarão no interior da cápsula Orion, uma nave especial quase totalmente autónoma com uma estrutura no topo parecida a uma antena. É, na verdade, um complexo sistema para abortar missões, munido de três propulsores, que dispara o módulo dos astronautas em direção à Terra para aterrarem em segurança no mar.

O módulo atinge os 805 quilómetros por hora em apenas 10 segundos e os astronautas no interior são submetidos a uma força 12 vezes superior à força gravítica em Terra. No interior do módulo de tripulação, sonorizado com tecnologia de ponta para evitar ruídos durante o lançamento e a aterragem, estão instalados microfones e colunas de alta performance para facilitar a comunicação. Se, por algum motivo, todos os sistemas informáticos falharem, o módulo aciona computadores suplentes e umas câmaras que localizam o módulo no espaço.

A nave está ainda protegida pelo maior escudo térmico alguma vez construído, capaz de suportar temperaturas na ordem dos 3.000ºC (metade da registada na superfície do Sol). Não podia ser de outra maneira: quando atravessa a atmosfera, a fricção com os materiais da cápsula submetem o módulo a temperaturas que podem ultrapassar os 1.000ºC.