O antigo presidente da Câmara de Santa Comba Dão, João Lourenço, e mais oito arguidos foram esta segunda-feira condenados a penas de prisão suspensas por estarem envolvidos num esquema em que fundos comunitários foram usados para obras já feitas.

O juiz Júlio Gantes disse que se provou “tudo o que estava em causa no processo”, que, além de João Lourenço, envolve engenheiros civis e um arquiteto da Câmara de Santa Comba Dão, o presidente do conselho de administração da Embeiral, António Carlos Lemos, e engenheiros civis desta empresa.

O processo refere-se a concursos públicos relacionados com a requalificação de estradas e de centros históricos das freguesias, tendo os arguidos sido condenados pelos crimes de prevaricação de titular de cargo público, fraude na obtenção de subsídios e falsificação de documentos.

A João Lourenço — que foi presidente da autarquia entre 2005 e 2013 — o Tribunal de Viseu aplicou uma pena de prisão de sete anos, que foi suspensa por se ter confirmado que sofre da doença de Alzheimer.

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“Não há dúvida de que tem Alzheimer, muito pior do que à data em que iniciámos o julgamento” (em outubro de 2020), não permitindo a lei uma pena de prisão efetiva nestes casos, explicou.

Os restantes arguidos foram condenados a penas de prisão suspensas, que variam entre os cinco e os três anos. A Embeiral foi também condenada a 450 dias de multa, o que totaliza 157.500 euros.

Júlio Gantes disse nunca ter visto “nada assim”, lamentando a forma como agiram os funcionários da Câmara e da Embeiral: “primeiro fazia-se e depois formalizava-se”.

Se até consegue compreender que empreiteiros locais se sentissem obrigados a fazer as obras para não perderem clientes futuros, o juiz considera “uma coisa inadmissível” que uma empresa como a Embeiral, que tem outros negócios, até na área da saúde, entre neste tipo de esquema.

Mesmo tendo o julgamento chegado ao fim, o juiz admitiu que “dificilmente se sabe que obras foram feitas” com as quantias referidas no processo, se já foram todas pagas ou se estão por pagar.

O juiz frisou que os crimes cometidos são graves, referindo que “em causa está a própria economia, a verdade dos negócios, a contratação pública, a boa-fé e a concorrência”.

É uma vergonha para todos os autarcas honestos que temos no país“, considerou, acrescentando que é também uma vergonha para Santa Comba Dão e para Portugal.

“O que pensa a Europa disto? Podemos confiar num país assim?”, questionou Júlio Gantes, avisando que “as consequências podem parecer pequenas”, mas efetivamente não o são.

O juiz afirmou que a Câmara de Santa Comba Dão “ainda tem ações em tribunal por causa disto” e que, em última análise, serão os contribuintes portugueses, e os munícipes de Santa Comba Dão em particular, que terão de pagar os custos.

Júlio Gantes terminou a sessão falando em lealdade e honestidade e perguntou aos arguidos: “podemos estar bem integrados (na sociedade) se somos desonestos?”