Portugal e Timor-Leste assinaram esta segunda-feira acordos de cooperação bilateral e técnico-científica no setor agrícola e para desenvolvimento do café, o produto não-petrolífero mais exportado pelo país.

Os dois textos, assinados esta segunda-feira em Díli pelo embaixador de Portugal, José Pedro Machado Vieira, e pelo ministro da Agricultura e Pescas timorense, Pedro dos Reis, permitem continuar o projeto da Quinta Portugal, em Aileu, e aprofundar a investigação no setor do café.

O Projeto Quinta Portugal, que nasceu em 2000, é o maior projeto de cooperação bilateral portuguesa no setor da agricultura em Timor-Leste, sendo atualmente financiado pelo Camões, IP e implementado em parceria com o MAP.

Além de um memorando de entendimento geral, foi assinado um protocolo, a implementar ao longo de três anos, direcionado especialmente para o setor do café.

O protocolo de cooperação, que envolve ainda o Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, pretende “reatar e aprofundar o trabalho, iniciado entre 2009 e 2012, de caracterização e estudo das raças de ferrugem do cafeeiro existentes em Timor-Leste e a identificação de plantas promissoras para a criação de novas variedades de cafeeiro Arábica resistentes à doença”.

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A ferrugem alaranjada é a doença mais importante do cafeeiro Arábica podendo causar perdas de produção superiores a 30%.

A doença, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, infeta as folhas do cafeeiro, formando, na página inferior, pústulas de soros uredospóricos de cor alaranjada, o que pode provocar a queda prematura das folhas e enfraquecer a planta. Especialistas notam que as raças fisiológicas da doença identificadas em Timor-Leste estão caracterizadas pelo CIFC como “das mais virulentas de todo o mundo”.

A investigação permitirá, segundo os textos que acompanham os documentos assinados, conhecer melhor a doença e as principais raças existentes no território de Timor-Leste e, além disso, ajudar a identificar plantas produtivas e resistentes à doença.

Estas melhorias, a par da adoção de melhores técnicas de gestão das plantações (podas, adubações, etc.) são consideradas “estratégias fundamentais para o desenvolvimento da cafeicultura em Timor-Leste”, explicam os responsáveis do projeto.

José Pedro Machado Vieira recordou que o protocolo marca 21 anos de cooperação portuguesa contínua no setor agroflorestal em Timor-Leste, com a criação da Quinta de Portugal.

Projeto que, recordou, estabeleceu e manteve campos de demonstração, aumentou e diversificou o património vegetal, tendo “produzido mais de um milhão de plantas que apoiaram atividades de reflorestação em Timor-Leste”.

Em paralelo, recordou, foram capacitados milhares de agricultores, estudantes e técnicos, com apoio a produtores de café, incluindo na melhoria da gestão e produção.

Pedro Reis saudou o apoio de longa data que Portugal tem dado a Timor-Leste no setor agrícola, “ajudando a melhorar um setor de que depende a maioria da população timorense”, frisando em particular a importância do setor do café.

O governante mostrou-se otimista que as investigações ajudem a melhorar a qualidade e produção do café em Timor-Leste, crucial para as receitas de uma fatia significativa das famílias do país, corrigindo problemas que hoje afetam o setor.

“O café é o principal produto agroflorestal e a maior exportação não petrolífera, e contribui para os rendimentos de cerca de 37% de famílias timorenses“, disse.

“No entanto, nas plantações de café, olhando para os resultados, as produções são muito baixas porque os agricultores não dão muita importância à necessidade de reabilitação e gestão das plantações”, disse o ministro, notando que por isso, e pelo impacto da ferrugem, “cerca de metade dos produtores de café vivem com rendimentos abaixo da linha da pobreza“.

Os estudos anteriores foram levados a cabo no âmbito da cooperação bilateral e envolvendo o entretanto extinto Instituto de Investigação Científica Tropical, através do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, que atualmente integra o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Em concreto, os estudos permitiram identificar três novas raças de ferrugem alaranjada, com elevados níveis de virulência, nunca antes encontrados em rastreios realizados noutros países produtores de café.

“Sabendo-se que a ferrugem alaranjada é a doença mais importante do cafeeiro Arábica, podendo causar perdas de produção superiores a 30%, acreditamos que o seu estudo tem uma importância estratégica não apenas no contexto de Timor-Leste, mas também em todos os países produtores mundiais de café”, sublinhou José Pedro Machado Vieira.