(em atualização)

Depois de ser campeão do mundo, campeão da Europa e capitão de todos, Ricardinho anunciou o quase inevitável: o jogador de 36 anos vai deixar a Seleção Nacional de futsal e abandonar as competições internacionais. A confirmação oficial surgiu esta terça-feira, em conferência de imprensa na Cidade do Futebol e ao lado de Jorge Braz e Fernando Gomes, já depois de o atleta ter dado uma pista bastante clara nas redes sociais.

“Hoje vai ser um dos dias mais duros da minha carreira desportiva, mas também de maior orgulho!”, escreveu Ricardinho no Twitter, numa legenda que acompanhava uma ilustração do jogador com a camisola da Seleção. Natural de Valbom, em Gondomar, Ricardinho estreou-se por Portugal em 2003, com apenas 18 anos e pouco depois de chegar ao Benfica. De lá para cá, somou 187 internacionalizações e 141 golos e acabou por assumir um papel de capitão que só agora vai deixar. Conquistou o primeiro título em 2007, no Mundialito, e chegou ao topo da carreira com as vitórias no Europeu de 2018 e no recente Mundial de 2021 — onde foi eleito o melhor jogador e acabou por fazer o último jogo pela Seleção.

“Hoje vim aqui anunciar o fim de um ciclo”, começou por dizer Ricardinho, que recordou os primeiros dias na Seleção Nacional e a derrota na final do Europeu da Hungria, em 2010, onde não esteve por lesão. “Deus tinha algo ainda mais bonito e grandioso para nós. Desculpem falar no individual: para mim. Depois de passar dois dos piores anos da minha vida, desportivamente falando — com a saída triste de Espanha, com o tema da Covid, com o projeto meio falhado em França que foi uma aposta pessoal, com uma das lesões mais graves que se pode ter no desporto –, tinha somente mais uma bala no cartucho para disparar, que era o Mundial da Lituânia. Para quem não sabe, quando foi o apuramento na Póvoa de Varzim, naquele último jogo, o Portugal-Itália, também me caíram as lágrimas quando ouvi o hino. Possivelmente, nessa altura, já iria ser o meu último jogo independentemente do desfecho. Graças a Deus, com trabalho, com o ‘mister’ que anda há 20 anos a fazer-nos crer que somos os melhores, conseguimos apurar-nos”, acrescentou o jogador, eleito o melhor do mundo em seis ocasiões.

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“Tinha marcado essa linha, essa etapa, de que o Mundial ia ser a minha última competição pela Seleção — fosse qual fosse o desfecho. Por vários anos de dedicação, por momentos difíceis, pelas lesões, por estes últimos dois anos de muito desgaste, principalmente psicológico. Toda a gente sabe e viu a minha dedicação nesta última caminhada. Agarrei-me aos meus companheiros, à crença do treinador e até dos portugueses que estiveram presentes no Mundial. Termino da melhor maneira esta página e esta história. Com um Campeonato da Europa, com um Mundial, com títulos individuais que espero que os meus companheiros e de agora e do futuro consigam bater. Venho aqui dizer que vou dizer um até já à Seleção Nacional. É a decisão mais difícil que estou a tomar na minha carreira desportiva. Acho que é hora de dar lugar aos demais, aos mais jovens. Sinto que dei tudo o que tinha para dar à Seleção desde os 16 anos até ao dia de hoje. Espero que entendam as minhas palavras, este meu sentimento, esta minha decisão. Sou orgulhosamente português e vou continuar a ser português e a acompanhar os meus companheiros”, terminou Ricardinho, que não conseguiu esconder a emoção e evitar as lágrimas durante o discurso.

O selecionador nacional Jorge Braz, que tomou o microfone depois do anúncio do jogador, começou o seu discurso bem disposto: “Não trouxe a prancheta para te atirar com ela. Mas foram 11 anos a aturar-te, que desafio, que privilégio e que aprendizagem conjunta no fundo”, recordando o momento que se tornou viral, durante o Mundial, em que atirou a prancheta para o chão durante um desconto de tempo. “Foram momentos fantásticos, uns bons, outros menos bons, mas sempre na procura da excelência e muito graças à exigência que colocaste sempre a ti próprio. Contagiou sempre os que te rodeiam. Estiveste no topo dos topos muitas vezes e levaste muita gente a estar”, acrescentou o treinador.

“A vida, e sabes como eu penso, é mais do que títulos e campeonatos, mas o que deixamos para trás”, frisou Jorge Braz, destacando o “legado” que Ricardinho deixa “para as pessoas”. “És um exemplo do que é superar e atingir, de forma correta. Sentiste o futsal e as pessoas como ninguém. Que orgulho ter feito parte deste teu percurso, mas acima de tudo que orgulho ter contribuído para o legado que estás a deixar”, finalizou o selecionador nacional.

Também o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, usou da palavra e destacou que a “decisão do Ricardinho” foi anunciada “bem perto dos troféus que ajudou a conquistar”. “Podia vir aqui falar da carreira do Ricardo, do que lutou por nós e chorou por nós, mas prefiro falar do homem que está para lá da quadra. E do que nos ensina quando não está a jogar”, começou por dizer, destacando que “nunca se sabe onde nasce o talento”. “Devemos olhar para a base e o Ricardo tem um compromisso enorme com a base. Não há outro atleta de alto nível que tenha investido mais tempo a ir a escolas, associações, clubes, a incentivar raparigas e rapazes para jogar futebol. É um motor de ignição”, elogiou.

Já depois dos discursos de Jorge Braz e Fernando Gomes, Ricardinho acabou por confirmar que ainda vai realizar uma última internacionalização em território português para se despedir da Seleção Nacional dentro de campo e “cumprir um sonho” — o de entrar em campo com os dois filhos. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol deixou também o anúncio de que o jogador vai ser embaixador vitalício da Seleção e Bebé, Pedro Cary e Pany Varela, entre outros, estiveram presentes na conferência de imprensa. No final da cerimónia, Ricardinho recebeu uma camisola de Portugal com a palavra “Mágico” nas costas.

[Ouça aqui a entrevista que Ricardinho deu à Rádio Observador no passado mês de abril:]

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