O último ano de Emile Smith Rowe foi algo tirado de um sonho de qualquer criança que queira ser jogador de futebol: tornou-se presença habitual no onze do Arsenal a partir do Boxing Day da época passada, renovou contrato no verão e assumiu a camisola 10 que já foi de Bergkamp, marcou em três jogos consecutivos na Premier League já esta temporada e é uma peça instrumental numa equipa de Mikel Arteta que estabilizou e que está no 5.º lugar da liga inglesa. Esta semana, tudo isso ganhou uma dimensão maior quando foi convocado pela primeira vez para a seleção de Inglaterra.

Aí, vai reencontrar Phil Foden, o colega de quarto dos tempos em que ambos conquistaram o Mundial Sub-17, em 2017. “Já estivemos a ver fotos desses tempos dos Sub-17, a rir dos nossos penteados. Olhar para esses tempos dá-me sempre uma motivação extra”, recorda o avançado de 21 anos, convocado por Gareh Southgate para os jogos contra a Albânia e San Marino a contar para a qualificação para o Mundial 2022, ao The Guardian. Smith Rowe teve uma ascensão meteórica no último ano, tornando-se titular da equipa onde realizou toda a formação, mas só recentemente é que adotou todas as exigências da vida de um atleta profissional.

“Eu não costumava comer muito bem. Também não bebia água, antes dos jogos não estava propriamente hidratado. Agora tento concentrar-me muito nisso. O Arsenal é exigente mas eu não ouvia, para ser honesto. Sei que errei aí. Agora estou sempre a ouvir. As minhas fraquezas são o chocolate e o Nando’s, gosto muito do Nando’s. Mas tentei cortar em tudo isso ao máximo. O clube arranjou-me um ‘chef’, chama-se Chris e vem a minha casa todos os dias. Vivo com a minha mãe e ela cozinhava mas agora já não tem de o fazer, o Chris cozinha para mim e para ela. Antes era demasiado preguiçoso”, explica o jogador, referindo a cadeia sul-africana de frango assado que foi fundada por um português.

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Emile Smith Rowe nasceu e cresceu em Croydon, no sul de Londres, embora agora represente um dos principais emblemas do norte da capital inglesa. Antes de chegar à formação do Arsenal, chegou a ser rejeitado em Cobham, o centro da formação do Chelsea. “Estive lá umas três ou quatro semanas mas, na altura, eu era muito pequeno, muito magro e estava sempre a perder duelos. Não conseguia envolver-me e não tocava na bola as vezes suficientes. Acho que foi por aí que acabei por não ficar”, recorda, acrescentando que acabou por escolher os gunners porque era o clube que apoiava. Quanto tinha “15 ou 16 anos”, chegou a ser abordado pelo Tottenham — mas nem sequer quis ouvir a proposta.

Estreou-se na equipa principal do Arsenal em setembro de 2018, num jogo da Liga Europa contra o Vorskla Poltava — e num grupo onde também estava incluído o Sporting –, tornando-se o primeiro jogador nascido no século XXI a atuar no clube. Em janeiro do ano seguinte, acabou por ser emprestado ao RB Leipzig até ao final da temporada mas chegou lesionado e nunca se afirmou, tendo disputado um total de 28 minutos e sempre enquanto suplente utilizado. “Foi difícil mas fez de mim um homem”, lembra Smith Rowe.

Em janeiro de 2020, voltou a ser cedido mas desta feita ao Huddersfield, do Championship. Tornou-se uma presença habitual na equipa de Danny Cowley, marcou duas vezes ao longo de 19 jogos e até fez o golo que acabou por garantir a manutenção do clube no segundo escalão inglês, contra o West Bromwich Albion. As boas exibições valeram-lhe o regresso ao Arsenal e o fim dos empréstimos, conseguindo encontrar espaço no plantel de Mikel Arteta e agora até no onze inicial do treinador espanhol. Quatro vezes internacional Sub-21, Emile Smith Rowe foi uma das surpresas na lista de Gareth Southgate para o duplo compromisso de Inglaterra e dificilmente será um nome que vai desaparecer novamente.