O primeiro-ministro António Costa manifestou esta terça-feira a convicção de que José Saramago não será o único escritor português a ganhar um prémio Nobel mas vincou que o autor, cujo centenário se comemora, é um orgulho nacional.

“Entre todos aqueles que escrevem em português, seja em Portugal, no Brasil em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor, São Tomé e Príncipe ou na Guiné foi, até agora, o primeiro que recebeu o maior prémio mundial na área da literatura que é o Prémio Nobel”, disse António Costa perante cerca de uma centena de alunos aos quais transmitiu o “orgulho nacional” perante o feito de José Saramago.

Na escola Básica Integrada Fernando Casimiro da Silva, onde participou nas comemorações do centenário do nascimento do escritor que esta terça-feira completaria 99 anos, o primeiro-ministro frisou que a atribuição do prémio ao português foi “uma felicidade”, acrescentando estar “seguro de que não será o último” e que outros escritores “portugueses, ou que escrevem em português o poderão ganhar”.

A escola de Rio Maior, no distrito de Santarém, foi a escolhida pelo governante para assinalar o arranque das comemorações, “através da leitura simultânea em mais de 300 escolas de Portugal, em cerca de 40 escolas das Canárias e em centenas de escolas em toda a América Latina”, em que à mesma hora, alunos desenvolveram atividades em torno do conto de José Saramago “A Maior Flor do Mundo”.

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Depois de ouvir a leitura do conto protagonizada por alunos do 5.º e do 6.º ano e de assistir à sua discussão numa tertúlia de alunos do 9.º ano, António Costa aproveitou para transmitir mais jovens “a mensagem atual” que já então Saramago difundia na obra, e mais premente ainda numa altura em que se discutem “as alterações climáticas” e os seus efeitos, que fazem que com   venhamos a ter “água a mais no mar e a menos na terra”.

O conto de Saramago, no qual o Nobel defende que “cada um deve fazer algo maior que ele próprio”, foi também o mote para o primeiro-ministro elogiar a escola que, durante a pandemia de Covid-19, quando “as escolas tiveram que fechar e se implementou o estudo em casa”, foi “em todo o país, o agrupamento em que maior número de docentes se disponibilizou para participar nesta iniciativa”.

A comemoração do centenário de José Saramago, foi também o pretexto para o regresso do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues às memórias do tempo em que, enquanto aluno, conheceu o autor.

“Cada vez que saímos de Portugal entendemos a força grande que José saramago tem no mundo, mas cada vez que vamos a agrupamentos, como este, através das diversas atividades, acabamos por entender como o autor acaba por magnificar as nossas vidas e nos deixar uma marca indelével sobre a sua obra, sobre o sentido de justiça, sobre o sentido de nos desafiar afazer cada vez melhor”, disse o ministro.

Os dois governantes seguiram depois para Azinhaga do Ribatejo, a aldeia ribatejana onde o escritor nasceu, e onde foi plantada uma árvore, a 99.ª de uma centena de oliveiras que a Fundação José Saramago decidiu plantar na localidade ao longo dos últimos dois anos.

Costa deseja que centenário de Saramago crie novas gerações de leitores

O primeiro-ministro disse esta terça-feira, na Azinhaga, Golegã, esperar que as comemorações do centenário do Nobel da Literatura José Saramago permitam “criar novas gerações de leitores” do escritor, continuando a valorizar e a preservar a língua e a cultura portuguesas.

António Costa ajudou a plantar a 99.ª oliveira das 100 que ficarão a ladear uma rua da aldeia natal de José Saramago, no dia em que o escritor faria 99 anos, assinalando o arranque das celebrações do Centenário.

Antes da cerimónia na Azinhaga — na qual foi recebido pela neta de José Saramago, Ana Matos, coordenadora do polo da Azinhaga da Fundação José Saramago, e pelos presidentes da Câmara Municipal da Golegã (Santarém), António Camilo, e da Junta de Freguesia da Azinhaga, Vítor Guia –, António Costa assistiu, numa escola em Rio Maior, à leitura do conto “A Maior Flor do Mundo”, iniciativa que decorreu em simultâneo em 300 escolas do país e noutras nas Canárias e em vários pontos da América Latina.

O primeiro-ministro quis realçar a “mensagem muito atual” do conto, a necessidade de “regar cada flor para que cada flor seja preservada”, desejando que cada um “saiba fazer o que Saramago fez”, uma “obra maior que ele próprio”, que “perdura para além da sua vida na terra”, multiplicando-se “por diversas línguas por todo o mundo”.

“É essa sementeira de leitura que temos que continuar a fazer, porque os livros só vivem se houver quem os leia e é essa a mensagem que temos que dar”, afirmou, desejando que as celebrações do centenário do escritor permitam, sobretudo, “criar novas gerações de leitores de Saramago”.

“É assim que a nossa língua e a nossa cultura se continuarão a valorizar e a enriquecer um pouco por todo o mundo, porque cada um que lê acrescenta um pouco ao livro que o escritor escreveu”, disse, sublinhando o final do conto “A Maior Flor do Mundo”, que “cada um possa reescrever aquela história com as suas próprias palavras e dar-lhe uma nova continuidade”.

Costa disse esperar que as oliveiras para Saramago plantadas na Azinhaga perdurem para que, daqui a um século, “alguém as veja” e “continue a lembrar-se que Saramago existiu e, sobretudo, a ler o que Saramago escreveu”.

O comissário das comemorações do Centenário de Saramago, Carlos Reis, salientou a simbologia da plantação da oliveira com o “semear de leituras” que está a ser promovido em escolas do país inteiro e também de outros locais do mundo. “Esta cerimónia é carregada de simbolismo, porque não há nada mais futurante do que plantar uma árvore. Ela já não servirá muitos dos que aqui estão, mas fica, como fica a obra de José Saramago”, afirmou.

Ana Saramago Matos salientou o “momento simbólico, repleto de afeto e de sentido para a Fundação e a família” de Saramago, anunciando que cada uma das 100 árvores receberá nomes de personagens dos livros de José Saramago, sendo que a 100.ª, a plantar daqui a um ano, terá o nome da avó Josefa.

“Gostaríamos que estas 100 oliveiras devolvessem a José Saramago aquela infância que ele sentiu que lhe tinham roubado com o desaparecimento dos olivais. Gostaríamos que estas 100 oliveiras fossem um sinal de revolta e de esperança por um mundo mais sustentável”, afirmou a neta do escritor.

Ana Matos incluiu nos seus agradecimentos as muitas pessoas que tornaram a iniciativa possível, como Manuel Coimbra, que ofereceu as oliveiras, e a equipa de jardinagem que diariamente cuida das árvores. Nas ofertas finais, Ana Matos brindou António Costa com um saco de pano e um bloco com a inscrição da frase de Saramago “O caos é uma ordem por decifrar”.

O convite de Vítor Guia ao primeiro-ministro para um prato de feijão com couves para o almoço ficou para outra ocasião.

Artigo atualizado às 19h30