As coisas não andavam propriamente bem no clube, as coisas não melhoraram em nada na Seleção. Com a necessidade de fazer apenas um ponto para carimbar a passagem à fase final do Campeonato do Mundo, o capitão de Portugal viu a hipótese gorar-se (para já) com um golo em cima do minuto 90 e sabe agora que, para estar no seu quinto Mundial consecutivo, terá de chegar no melhor momento possível ao final do mês de março, quando se realizam os playoffs de apuramento para o Qatar. Até lá, Ronaldo tem uma outra questão por resolver. E o jogo com o Watford, no regresso da Premier League, era o primeiro desafio.

Ronaldo foi, voltou e nem sequer mudou de camisola. Mas a Manchester que deixou não é a mesma Manchester que encontrou

“É hora de arregaçar as mangas novamente e cumprir a nossa missão! Vamos perseguir o que queremos alcançar esta época”, escreveu o avançado no lançamento do encontro do Manchester United, apostando na redenção depois de uma espiral de resultados negativos no Campeonato com apenas uma vitória nos últimos seis jogos, uma mudança de sistema que pouco ou nada melhorou o rendimento da equipa e a descida ao sexto lugar a nove pontos da liderança. Aliás, mais do que perder com Aston Villa, Leicester, Liverpool e Manchester City ou empatar com o Everton (o triunfo com o Tottenham então de Nuno Espírito Santo foi a exceção), o que mais abalou a equipa foi mesmo a forma como chegaram essas derrotas.

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Foi por isso que, numa fase em que os rumores sobre uma mudança no comando técnico são cada vez mais insistentes e em que o nome de Zinedine Zidane ganha peso em Old Trafford, Ole Gunnar Solskjaer decidiu chamar uma espécie de gabinete de crise para tentar perceber os melhores caminhos para mudar o rumo atual dos red devils, falando com um grupo de seis jogadores com peso no plantel sobre o momento da equipa: Harry Maguire, Luke Shaw, Lindelöf, Matic, Bruno Fernandes e Ronaldo. O teor desse encontro em Carrington, na manhã de quinta-feira, não foi conhecido mas o objetivo era claro: endireitar resultados e exibições numa semana que teria ainda jogos com Villarreal (Champions) e Chelsea (Premier).

Era neste contexto que chegava a partida frente ao treinador que escreveu uma das épocas mais simbólicas de sempre na Premier League, Claudio Ranieri, quando levou o Leicester a um improvável título em 2016. E o italiano não teve dúvidas na altura de escolher o maior problema que teria pela frente agora a liderar o Watford. “O Cristiano é um dos melhores jogadores do mundo. Ele é bom para o futebol porque muitos jovens admiram-no. Por favor, podem dar-me o Ronaldo que para mim ele não será problema e deixo-o jogar todos os minutos que quiser”, atirou de forma irónica antes do jogo. No entanto, e como ficou mais uma vez provado, Ronaldo não é, nunca foi nem algum dia será fator único para qualquer equipa onde jogue. E aquilo que o Manchester United continua a não jogar nem sempre pode ser disfarçado…

De regresso ao 4x2x3x1, com Sancho, Rashford e Bruno Fernandes no apoio a Ronaldo na frente e Matic a juntar-se a McTominay no meio depois da chegada tardia de Fred da seleção brasileira, Solskjaer voltava à fórmula inicial em termos táticos mas nem por isso as melhorias foram imediatas. Longe disso, com uma pitada de polémica à mistura: na sequência de um penálti de Sarr defendido por De Gea, Kiko marcou mas o lance foi anulado e repetido por haver jogadores das duas equipas na área antes do tempo antes de nova parada do espanhol que não defendia um castigo máximo há cinco anos mas que agora vai nos dois (ou três, contando com o anulado) seguidos. Aos 11′ ficava um primeiro aviso ao Manchester United de um Watford mais intenso, mais agressivo com e sem bola e a mostrar-se apostado em fugir aos últimos lugares.

Os red devils tinham mais posse mas era o conjunto da casa que chegava ao último terço com capacidade de criar oportunidades de golo entre vários erros da formação de Manchester na construção e pouca bola nas unidades da frente. Assim, foi quase de forma natural que chegou o 1-0 por Joshua King, que surgiu sozinho na área para desviar na passada de pé esquerdo após assistência de Emmanuel Dennis (28′). Marcus Rashford, com dois lances na mesma jogada, ainda obrigou Ben Foster a defesas complicadas mas o jogo estava mesmo a jeito para o Watford, que aproveitando a total passividade e os muitos erros de posicionamento do United chegou ao 2-0 antes do intervalo com um remate cruzado de Sarr (44′).

Solskjaer arriscou logo no descanso, tirando McTominay para lançar Van de Beek em campo. O corredor central ganhava maior criatividade e o 2-1 demorou apenas cinco minutos a surgir com Ronaldo a assistir de cabeça o neerlandês na área para o golo. O jogo ficava reaberto, Ronaldo continuava a aparecer cada vez mais no encontro mas a expulsão de Maguire por acumulação de amarelos, num lance em que ficou mal na fotografia ao perder o lance em zona proibida, condicionou o resto da reação do Manchester United, que ainda assim teve mais três oportunidades com o avançado a finalizar entre remates ao lado, assistências e um golo anulado por fora de jogo. A derrota ainda se tornou goleada nos descontos, com João Pedro e Dennis a fazerem o 4-1 com os visitantes perdidos em campo, e agora os red devils correm o risco de caírem ainda mais na classificação, ficando a 12 pontos da liderança reforçada do Chelsea.