A Itália e a França assinaram esta sexta-feira, em Roma, um pacto bilateral de cooperação reforçada, conhecido como Tratado do Quirinal, num contexto de transição na Europa com a saída de Angela Merkel do Governo alemão.

O tratado foi assinado no palácio presidencial do Quirinal, pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, e pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, na presença do chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella.

Draghi, Macron e Mattarella trocaram longos abraços enquanto aviões italianos e franceses voavam sobre Roma, deixando um rasto de fumo com as cores dos dois países, segundo descrição da agência de notícias France-Presse (AFP).

O tratado prevê uma cooperação reforçada nas mais diversas áreas: diplomacia e defesa, transições digitais e ambientais, cultura e educação, cooperação económica e industrial, e setor espacial.

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O conteúdo exato do tratado não foi tornado público, de acordo com a AFP.

Como membros fundadores da União [Europeia] e primeiros signatários dos tratados (…), defendemos uma Europa mais integrada, mais democrática e mais soberana”, disse Macron após a assinatura, citado pela AFP.

Draghi declarou que o acordo traduz um “momento histórico” e destacou que as instituições dos dois países se baseiam “nos mesmos valores republicanos, no respeito pelos direitos humanos e civis, e no europeísmo”.

Sergio Mattarella afirmou, por sua vez, que “uma relação mais forte entre a Itália e a França ajuda a construir uma Europa mais forte, o que é hoje ainda mais necessário face aos desafios que só uma Europa mais integrada pode enfrentar”.

O comissário europeu para a Economia, o italiano Paolo Gentiloni, saudou na rede social Twitter um acordo franco-italiano que “fortalece toda a União Europeia (UE) numa fase histórica de transição”.

Uma fonte do Governo italiano disse que o tratado terá “um importante valor simbólico” num contexto europeu marcado pela instabilidade após o Brexit (saída do Reino Unido da UE) e a transição política na Alemanha, com o fim da era Merkel, marcada pela concertação de posições do eixo franco-alemão.

Segundo a AFP, Macron afirmou durante a visita a Roma, iniciada na quinta-feira, que a França não procura “caminhos alternativos” à relação franco-alemã após a saída de Merkel, sublinhando, aliás, que a chanceler alemã ainda está em funções.

Este “tratado de cooperação bilateral reforçada” é o segundo do género estabelecido pela França após o Tratado do Eliseu celebrado com a Alemanha, em 1963, que foi atualizado pelo de Aachen, em 2019, assinado por Macron e Merkel.

O tratado assinado esta sexta-feira tinha sido anunciado em 2017, mas foi congelado após a formação, em 2018, de um governo populista em Itália liderado pelo Movimento 5 Estrelas (antissistema), em coligação com a Liga (extrema-direita) de Matteo Salvini.

No início de 2019, as relações entre os dois países foram afetadas quando o então vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio, se encontrou com um líder dos “coletes amarelos” (movimento de contestação) em França e Matteo Salvini, que era ministro do Interior, pediu a demissão de Macron.

Em protesto, Paris chamou temporariamente o seu embaixador em Roma, naquela que foi a mais grave crise diplomática entre os dois vizinhos desde 1945, segundo a AFP.

A Itália e a França são a segunda e a terceira maiores economias da zona euro, atrás da Alemanha.

Em conjunto, representam quase um terço dos cidadãos da UE e do seu Produto Interno Bruto (PIB).