Depois do ainda por explicar caso da agressão a Kheira Hamraoui, jogadora do PSG, o desporto francês está a atravessar um novo episódio de violência: Margaux Pinot, judoca que conquistou a medalha de ouro em Tóquio em equipas mistas, acusou o marido de a ter agredido violentamente no passado fim de semana. A camada adicional? O marido é Alain Schmitt, antigo judoca que é também o treinador da francesa.
A agressão terá acontecido na madrugada de sábado para domingo na casa que o casal partilha em Paris e na sequência de uma discussão. “Fui vítima de uma agressão em minha casa pelo meu companheiro e treinador. Fui insultada, socada, a minha cabeça foi contra o chão várias vezes. Finalmente, fui estrangulada”, escreveu Margaux Pinot nas redes sociais, numa legenda que acompanha uma fotografia onde surge visivelmente magoada, com feridas e hematomas na face.
Segundo o Le Monde, Alain Schmitt foi detido ainda na mesma madrugada, por volta das 2h30, visivelmente embriagado e horas antes de partir para Israel, onde iria assumir o cargo de treinador da seleção feminina de judo do país. A polícia foi alertada pela vizinhança do casal, que acabou por ouvir os gritos de ajuda de Margaux Pinot e acolheu a judoca até as autoridades chegarem. Schmitt, que também tinha hematomas na zona da cara, ficou detido até terça-feira à noite, altura em que foi ouvido, negou todas as acusações de violência doméstica e acabou libertado por falta de prova. Ainda assim, o Ministério Público de Bobigny, a região parisiense onde o casal reside, já recorreu da libertação do treinador.
“Estava a morrer. Tenho vários ferimentos, um nariz fraturado e 10 dias de baixa. A justiça decidiu libertá-lo. Do que vale a defesa de calúnia contra as minhas feridas e o sangue espalhado pelo meu apartamento? Estava a faltar a minha morte? Provavelmente, foi o judo que me salvou”, acrescentou a atleta de 27 anos nas redes sociais. Quando foi ouvido, Alain Schmitt reconheceu que existiu uma altercação física entre os dois mas explicou que se tratou de “um tornado”, com pegas de judo e sem agressões. Para Margaux Pinot, o que se passou “não foi um combate de judo, já que teve socos”.
Já esta quinta-feira, o treinador deu uma conferência de imprensa onde quis denunciar o “linchamento de que tem sido alvo na comunicação social”. Rodeado pelos advogados, com um olho negro, Schmitt garantiu que Margaux foi a primeira a partir para a agressão física. “Ela atirou-se a mim, agarrou-me pelos colarinhos. Eu recuei e ela atirou-me contra a ombreira da porta, bati com a cabeça. Levantei-me um bocado atordoado, ela agarrou-me e foi aí que ficou tudo uma confusão. Fomos contra as paredes, o radiador, uma porta. Estão a gozar comigo? Claro que ela está a mentir. Porquê? Porque não queria que eu fosse embora. E resultou”, disse o francês, que reafirmou que não agrediu a judoca e que revelou que pediu para fazer uma queixa-crime quando a polícia chegou.
Do lado do judo francês, porém, o apoio é unilateral e coloca-se do lado de Margaux Pinot. “Não tenho palavras para expressar tudo aquilo que está a passar pela minha cabeça e pelo meu corpo, enquanto mulher, depois daquilo que a minha colega sofreu”, referiu Clarisse Agbégnénou, judoca que foi campeã olímpica dos -73kg em Tóquio. Já Teddy Riner, estrela do judo francês que tem cinco medalhas olímpicas e foi oito vezes campeão mundial, mostrou-se “profundamente afetado” pelo episódio. Por fim, a própria Federação Francesa de Judo, no papel da presidente Stéphane Nomis, disse estar “chocada” e não compreender a decisão da libertação de Alain Schmitt.
Para além da medalha de ouro conquistada em Tóquio, a judoca foi campeã europeia dos 70kg em 2020 e 2019 e alcançou a prata na mesma competição já este ano, em Lisboa, e em 2017. Entretanto, a Federação Israelita de Judo já anunciou que cortou toda a comunicação com Alain Schmitt, deixando cair a intenção de o contratar para selecionador pelo menos até que o caso esteja devidamente resolvido.
(notícia atualizada às 16h13 com informação sobre a conferência de imprensa de Alain Schmitt)