“O PS está confiante de que ele se vai manter no cargo depois das eleições de janeiro próximo”. Neste caso, “ele” é António Costa e quem o diz é o homem mais falado para lhe suceder na liderança do PS, Pedro Nuno Santos. Com uma garantia: o PS tem “orgulho” no trabalho que Costa tem feito.

Em entrevista à revista Frontline, que faz capa com este trabalho, o ministro das Infraestruturas e da Habitação faz questão de tentar desvalorizar a questão da sucessão: “António Costa é primeiro-ministro há seis anos e tem desempenhado o cargo com inteligência e empenho. O PS está confiante de que ele se vai manter no cargo depois das eleições de janeiro próximo, porque o PS tem um trabalho de grande valor feito nos últimos seis anos e temos orgulho nele”.

A tese que tem circulado nos bastidores — incluindo entre os apoiantes de Pedro Nuno, os chamados ‘pedronunistas’ — é simples: se António Costa perder as eleições ou se, mesmo ganhando, não conseguir uma maioria estável para formar Governo e assegurar a governação do país, o tempo do atual primeiro-ministro estará esgotado. E aí poderá começar o ciclo de Pedro Nuno, que nunca desmentiu a vontade de liderar o PS — mas sempre sem entrar em confronto direto com Costa.

Pedro Nunismo em contenção no PS (por agora)

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Desta vez, o ministro insiste no discurso em que tem apostado para afastar essas especulações: “O PS deve ter uma votação reforçada e é somente nisso que os socialistas estão concentrados“, insiste. E, questionado sobre a hipótese de o partido conseguir conquistar uma maioria absoluta nas eleições de janeiro, Pedro Nuno — que há semanas veio defender o cenário da geringonça, dizendo que não foi um “parênteses” na democracia portuguesa — desvia o assunto: “O PS vai-se apresentar a eleições com o seu programa, com a sua visão para o país e deve-se bater pelo melhor resultado possível“. Sem referências à maioria “estável, reforçada e duradoura” que Costa tem pedido.

Na mesma entrevista, o ministro diz “não ter grandes dúvidas” de que “a aposta na ferrovia veio para ficar” e quer ficar com essa marca no seu currículo: “Não deixa de me causar alguma perplexidade como é que um país que não produz petróleo demorou estas décadas todas a perceber que tinha de reduzir a dependência do automóvel e que tinha uma boa solução para isso”. E garante que conta ter a proposta do Plano Ferroviário Nacional pronta para enviar ao Parlamento já em 2022.

Sobre o dossiê quente da TAP, o ministro garante que a companhia aérea “não vai deixar de ser uma grande empresa” e que em 2025 “está previsto que venha a registar lucros” — até lá, assume, o caminho será “desafiante”. Apesar de o novo aeroporto em Lisboa continuar a não avançar, décadas depois de ter sido sinalizada essa necessidade, o governante frisa que “todos os partidos com assento parlamentar defendem a expansão da capacidade aeroportuária na região de Lisboa” (mas com soluções diferentes) e que depois da Avaliação Ambiental Estratégica o Governo “selecionará a nova localização” e “terá o apoio do maior partido da oposição para alterar a lei que atualmente garante um poder de veto aos municípios sobre a localização do aeroporto”, garantia já dada pelo PSD.

A outra prioridade, frisa, será ainda a questão da Habitação: o Estado “não foi capaz de cumprir um direito igualmente fundamental, que é o direito de todos a uma habitação digna” e é preciso reforçar “claramente a oferta pública de habitação, que representa apenas 2% do total de alojamentos”. São, no entanto, planos que só poderão ser cumpridos caso o PS consiga continuar a governar (e com Pedro Nuno no elenco).