A vitória com o Burnley abriu uma janela de oportunidade para a redenção, a derrota frente ao Wolves escancarou a porta para mais uma semana de crise instalada em Old Trafford com notícias a uma cadência quase diária de jogadores descontentes, adeptos sem esperança no futuro imediato e Ralf Rangnick numa posição mais turva de um caminho que em condições normais deveria perdurar até ao final da temporada (passando depois para outras funções no clube). Em condições normais, a terceira eliminatória da Taça de Inglaterra seria uma espécie de picar o ponto a olhar já para a deslocação a Birmingham de sábado para a Premier League; ao invés, o ambiente criado dava outro contexto à receção ao Aston Villa.

11 jogadores que querem sair, o “ego” de Cristiano Ronaldo e o “padrinho” da pressão: a vida complicada de Rangnick no Manchester United

“Os jogadores estão desmoralizados. É uma sensação de déjà vu de anos anteriores, quando as coisas corriam mal. Os adeptos provavelmente pensam que os jogadores não estão em forma para colocar em prática aquilo que o treinador lhes pede mas isso não é verdade, alguns simplesmente perderam a motivação e a vontade. Depois, há a sensação numa parte da equipa que há alguns que são sempre chamados a jogar, independentemente do que façam”, revelou uma das fontes contactadas nos vários trabalhos feitos desde a última segunda-feira, apontando nomes como Lingaard, Dean Henderson, Van de Beek ou Bailly como alguns dos elementos que estariam dispostos a deixar o clube nos próximos tempos (até mesmo em janeiro).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois, a situação de Ronaldo, que ficou em branco na derrota com o Wolves em que foi pela segunda vez capitão dos red devils. Para alguns comentadores a chegada do português já começa a ser apontada como algo que trouxe mais prejuízos do que benefícios, para outros existe uma divisão no balneário também potenciada pela chegada do avançado, para outros ainda o próprio capitão da Seleção começa a ponderar a possibilidade de rumar a outro clube (até do Barcelona já se fala na Catalunha) pela falta de crença na capacidade de ganhar títulos. Opiniões e notícias para todos os gostos que, como acontece quase sempre, tem como raiz a falta de resultados. E esse era o principal problema imediato do Manchester United.

Lage deu dois chocolates para a festa de Moutinho no Teatro dos Sonhos (a crónica do United-Wolverhampton)

Com uma tática que muitas vezes se torna paradoxal perante as características dos jogadores sobretudo do meio-campo para a frente, num 4x2x2x2 que aposta em dois avançados mas que coloca muitas vezes os elementos de maior apoio pelo meio sem a profundidade necessária dos laterais pelos corredores, Ralf Rangnick procurava encontrar o equilíbrio que há muito se perdeu entre os red devils, tendo também esse barómetro do que rendeu a equipa sem Bruno Fernandes e com Bruno Fernandes em campo depois de uma hora sem uma única oportunidade na baliza do Wolves que mudou de forma radical. No entanto, e contra o Aston Villa, nem com o português o jogo melhorou. E, sem Ronaldo, de fora por precaução por ter indicado “um pequeno problema na anca nos últimos dias” (explicação de Rangnick), a mediania manteve-se. De certa forma, até piorou. E nem mesmo a passagem na eliminatória apaga a exibição.

Com algumas alterações em relação à equipa que perdeu com o Wolverhampton mas sem qualquer esboço de revolução (e aqui a eliminação da Taça da Liga pode ter servido de aviso…), o Manchester United começou melhor e com McTominay mais uma vez a destacar-se, não só pelo que consegue fazer a nível de recuperação e interceção de bolas mas também nos remates à baliza. Seria mesmo o escocês a inaugurar o marcador após cruzamento de Fred (8′), já depois de um remate forte para defesa de Emiliano Martínez (6′), num início com maior fluidez de jogo ofensivo tendo Bruno Fernandes e Rashford mais presentes. A seguir, voltou o filme do costume, para mal dos pecados dos adeptos da casa. E o 1-0 ao intervalo acabava por ser lisonjeiro.

Watkins deixou o primeiro sinal de perigo junto da baliza de David de Gea na sequência de um canto com primeiro desvio de Mings que o avançado do Aston Villa não conseguiu depois encaminhar para a baliza (11′). Depois foi Buendía, um artista da bola, que rematou forte para defesa do guarda-redes espanhol (27′). E a seguir ainda houve um tiro de Watkins à trave depois de uma tentativa falhada de controlo com a canela de Lindelöf que isolou o avançado (30′). E mais um remate de fora da área de Ramsey que sofreu um desvio e passou muito perto do poste da baliza dos red devils (32′). Cavani e Rashford ainda foram tentando um equilíbrio a nível de remates mas o perigo andava era na sua própria área. E assim continuou.

Sem que o Manchester United conseguisse chegar com o mínimo objetivo à baliza de Martínez, e em alguns momentos sem que conseguisse sequer ligar jogo a partir da zona de construção, o Aston Villa marcou por duas vezes em lances que seriam depois anulados: no primeiro golo invalidado pelo VAR Danny Ings fez o desvio final na pequena área com o braço à mistura (53′), no segundo golo invalidado logo pelo árbitro assistente o mesmo Danny Ings partiu de posição irregular antes do desvio final de Watkins (60′). O domínio dos villains era tal e as linhas apresentavam-se de tal forma subidas que foram os defesas a visar a baliza da equipa da casa, com Konsa e Matthew Cash a testarem os reflexos do sempre atento David de Gea.

Ainda houve alguns momentos em que o espaço deixado para a exploração da profundidade ameaçou um segundo golo dos visitados, como aconteceu num fantástico passe de primeira de Bruno Fernandes para a velocidade de Mason Greenwood que acabou com um remate para defesa apertada de Emiliano Martínez. No entanto, o domínio pertencia por completo ao Aston Villa, que viu Watkins voltar a ameaçar o empate num remate em arco que saiu a rasar o poste de baliza de De Gea e que ficou a reclamar (com razão) um penálti de Luke Shaw sobre Konsa depois de um toque com o braço na cara que deixou o central com marcas visíveis. Para a história fica o resultado e a passagem do Manchester United à próxima ronda, onde irá receber o Middlesbrough. E isso é sempre o dado mais importante. Mas a equipa jogou ainda pior…