A mais recente versão da nova estratégia de Defesa da UE que está a ser negociada entre os “27” já incorpora “algumas preocupações portuguesas”, mas o ministro João Gomes Cravinho espera ainda uma maior atenção ao oceano Atlântico.

Em declarações à Lusa e à RTP em Brest, França, à margem de uma reunião informal de ministros da Defesa da União Europeia, que tem entre os pontos a “Bússola Estratégica”, Gomes Cravinho voltou a salientar a importância deste documento, pois, “pela primeira vez, a UE assume-se como tendo relevância geopolítica e explica como essa relevância se deve demonstrar nos próximos quatro, cinco anos” e disse acreditar na sua adoção em março, como previsto, mas se possível com algumas alterações.

“Esta versão nova que temos agora é uma versão melhorada, incorporou algumas preocupações portuguesas, nomeadamente um reforço das partes dedicadas à segurança marítima, mas acreditamos que até março ainda pode sofrer algumas alterações positivas”, disse, referindo-se ao mais recente ‘esboço’ do documento apresentado pelo Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell.

O ministro da Defesa apontou que se “reforçou a dimensão da segurança marítima”, o que vai ao encontro das pretensões de Portugal, que, todavia, quer ainda mais.

“Nós queremos que [essa dimensão] se reforce ainda mais na «Bússola estratégica», e esperamos que daqui até março isso aconteça, nomeadamente com referências muito mais claramente vincadas ao oceano Atlântico”, disse.

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Gomes Cravinho explicou que, na atual versão do documento, “o Atlântico está um pouco ausente”, o que não faz sentido, dada a sua importância.

Temos o Mediterrâneo, temos referências ao Índico e ao Indo-Pacífico, falta-nos referências muito claras ao Atlântico, que é um oceano da maior importância geoestratégica para a Europa e que é cada vez mais um espaço de contestação e de concorrência entre grandes potencias, e por isso faz sentido que esteja presente, disse.

João Gomes Cravinho não deixou, contudo, de saudar a convergência entre os 27 numa matéria, de segurança e defesa, que não era por regra consensual.

“Creio que aquilo que nós verificamos agora é que o grau de convergência entre os europeus é tal que começamos a falar de aspetos de pormenor, e isso significa que não há risco de o documento não ser adotado em março”, disse.

A reunião informal de ministros da Defesa em Brest termina esta tarde com um almoço de trabalho conjunto com os ministros dos Negócios Estrangeiros — entre os quais Augusto Santos Silva —, consagrado precisamente à «Bússola Estratégica», o novo ‘roteiro’ de Defesa da UE que o Conselho Europeu deverá adotar na cimeira de chefes de Estado e de Governo agendada para março em Bruxelas.