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"Mother / Android". Mãezinha, não te apagues

Este artigo tem mais de 2 anos

Que “Mother / Android” possa ter chegado ao topo dos mais vistos na Netflix Portugal só pode querer dizer uma coisa: andamos com demasiado tempo livre.

Acompanhamos a fuga de Georgia (Chloë Grace Moretz, que, ainda há dias, era a criança-prodígio de “Kick Ass”), que carrega uma gravidez não planeada, e do namorado Sam (Algee Smith). Mas para onde fogem eles?
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Acompanhamos a fuga de Georgia (Chloë Grace Moretz, que, ainda há dias, era a criança-prodígio de “Kick Ass”), que carrega uma gravidez não planeada, e do namorado Sam (Algee Smith). Mas para onde fogem eles?

Acompanhamos a fuga de Georgia (Chloë Grace Moretz, que, ainda há dias, era a criança-prodígio de “Kick Ass”), que carrega uma gravidez não planeada, e do namorado Sam (Algee Smith). Mas para onde fogem eles?

Pense em “Exterminador Implacável” e retire-lhe toda a tensão, todo o suspense, todo o medo. Tire-lhe a figura mitológica de Arnold Schwarzenegger e o carisma, rebeldia, inteligência, humanidade badass de Linda Hamilton. Tire-lhe os efeitos especiais seminais para a época e a banda sonora de génio. Finalmente, tire-lhe também o argumento, a densidade dos jogos temporais e os volte-faces inesperados e claustrofóbicos. Talvez então fique perto da banalidade indigente que é “Mother/Android”.

Sim, estamos perante a enésima variação do tema “revolta das máquinas”, mas com uma originalidade: esta parece mesmo ter sido escrita por uma máquina. Vulgar, vazia, atira os clichés do género para diante da câmara e fica à espera que funcionem sozinhos, nem se dando ao trabalho de os ligar (Mattson Tomlin, o realizador e “argumentista”, está escalado para escrever o primeiro episódio de uma nova série televisiva a partir, precisamente, do universo “Exterminador”. Tenham medo, tenham muito medo).

Tudo acontece num futuro próximo em que as pessoas têm mordomos-robô, perfeitamente aparentados a um humano comum, à parte os olhos que se transformam em néons azuis quando se lhes dá a azia. Até que, um dia, sem surpresa, as máquinas viram-se do avesso e decidem tomar conta disto e exterminar a espécie humana. Ao certo, porquê, com que plano, organizado por quem e porquê para aquele momento específico (tudo começa numa revolta numa cozinha particular – não exatamente o sítio que escolheria para decapitar a resistência humana, mas isto sou eu, que tenho sangue, coração e alergias), ninguém se dá ao trabalho de explicar. O mais divertido é que há um momento mais adiante no filme em que uma personagem pergunta isto explicitamente a outra e, quando ela vai para responder, alguma coisa acontece que interrompe a conversa – para nunca mais ser retomada.

[o trailer de “Mother / Android”:]

A partir dali, tudo se trata de acompanhar a fuga de Georgia (Chloë Grace Moretz, que, ainda há dias, era a criança-prodígio de “Kick Ass”), que carrega uma gravidez não planeada, e do namorado Sam (Algee Smith). Mas para onde fogem eles, pergunta o leitor? Para alguma ilha gelada no Ártico onde não existam máquinas? Para o quartel-general que lidera esta rebelião bate-chapas, para a tentar desmantelar na origem? Claro que não – isso obrigaria a ter pensado uma história. Eles fogem para Boston, onde contam ter o apoio hospitalar de que precisam para o parto e que dizem estar bem fortificada pela resistência humana. Daí, pretendem ir para a Coreia, que anunciou estar a recolher mães e bebés, a fim de salvaguardar a continuidade da espécie.

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Ora, porque é que as máquinas se revoltaram em todo o lado, exceto em Boston e na Coreia, é outra coisa que o espectador tem de imaginar por si. Talvez a Samsung patrocine o filme, em vez da Apple. E em Boston usem outro serviço de internet – sabe-se lá.

A longa fuga é feita através de uma mata interminável – que, aparentemente, é o que liga Nova Iorque a Boston neste futuro próximo – vagamente salpicada de peripécias gratuitas e anúncios às Converse All Star, que têm direito a mais grandes planos do que os “robôs” e pelo menos duas referências explícitas no diálogo, elogiando-se, imagine-se, o seu conforto naquelas caminhadas todo-terreno (devem ter mudado muito).

A única coisa boa de “Mother/Android” é que, ao menos, não gastou muito dinheiro. A “mãe” do título aparece 95% do tempo e os “androides” 5%, o elenco é mínimo e o cenário fundamentalmente a dita mata

Não querendo estragar o que, à partida, é já azedo, digamos que a fuga lá caminha para o seu destino, entre máquinas assassinas que, afinal, fazem prisioneiros (vá lá perceber-se) e uma traineira com três orientais, que espera a hora para largar o serviço e voltar para a Coreia, quando lá aparece um bebé para não dar aquela maçada toda da viagem por mal empregue.

A única coisa boa de “Mother/Android” é que, ao menos, não gastou muito dinheiro. A “mãe” do título aparece 95% do tempo e os “androides” 5%, o elenco é mínimo e o cenário fundamentalmente a dita mata, que lembra o típico décor dos filmes de escola, precisamente por serem feitos sem dinheiro. Só isto, bem como, no fundo, se tratar de um filme fácil de produzir em pandemia, pode justificar que algum estúdio tenha decidido financiar tal coisa. Mas, que “Mother/Android” tenha chegado a ser o filme mais visto na Netflix Portugal neste início de ano, só pode querer dizer uma coisa: andamos com demasiado tempo livre.

Um dia, há-de se fazer o estudo do efeito que pandemia, confinamentos e isolamentos tiveram no tipo de conteúdo que consumimos. Se é bem verdade que arrasou sectores inteiros da economia, foi também o milagre que muita imitação barata de filme, série e restaurante com serviço de entregas fica a dever à bicharada.

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