O jogo parecia resolvido depois do bom arranque do Manchester United com dois golos, a próxima partida no sábado terá particular importância por ser uma receção ao atual quarto classificado da Premier League (West Ham), Ralf Rangnick quis mexer na equipa. Até aqui, tudo certo. Normal. Mas o facto de um dos escolhidos para sair ter sido Cristiano Ronaldo e a reação do português desde o momento em que percebeu que iria deixar o campo acabou por tornar-se tema principal no dia em que os red devils voltaram a vencer no Campeonato, mantendo o sétimo lugar mas ficando mais próximos dos lugares de Champions.

Acertou na trave, originou o 2-0, foi substituído, atirou o casaco ao chão, acabou a a falar com o técnico: o regresso de Ronaldo no United

Depois de uma primeira parte muito apagada, à semelhança do rendimento da equipa sobretudo no plano ofensivo (lá atrás David de Gea voltou a segurar o conjunto de Manchester), Ronaldo começou o segundo tempo com um cabeceamento à trave após cruzamento da direita de Bruno Fernandes, viu Elanga abrir o marcador e teve um papel determinante no segundo golo de Greenwood, com um fantástico passe com o peito a isolar Bruno Fernandes antes da assistência para o avançado inglês. Aos 70′, ainda sem o golo que procurava, foi substituído pelo regressado Maguire e acabou por “explodir” na zona técnica.

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Já a falar sozinho enquanto se encaminhava para a linha lateral, Ronaldo ainda atirou o casaco ao chão, sentou-se na zona de escadas e não no banco de suplentes e foi atirando para o lado “Porquê eu, porquê eu?”. Mais tarde, Ralf Rangnick, que desde o primeiro instante se tinha apercebido do desagrado do português, foi à zona onde se encontrava o avançado e esteve algum tempo à conversa do número 7, que no final da partida parecia mais calmo e sereno do que tinha manifestado quando saíra de campo.

“Ele disse-me ‘Porquê eu? Por que me tiraste de campo?’ Disse-lhe que tinha de tomar a decisão pela equipa, pelo clube. Talvez dentro de alguns anos, quando for treinador, perceberá. Não esperava que ele me abraçasse depois de o ter tirado. Sei como pensam os goleadores e aquilo que os motiva mas as minhas decisões são com base no interesse da equipa. Não tenho qualquer problema com o Cristiano”, começou por comentar o técnico alemão depois do triunfo por 3-1 com o Brentford na BT Sports.

“É normal, um avançado quer sempre marcar golos mas ele regressou de uma pequena lesão e o mais importante foi lembrar que temos mais um jogo pela frente. Tal como aconteceu no Villa Park, nós tínhamos de defender a liderança no marcador e o mais importante era voltarmos a uma linha com cinco defesas. Apesar de não termos conseguido manter a baliza a zeros, foi importante que nada de mais acontecesse”, acrescentou depois na conferência de imprensa, relativizando o episódio com o português.

“Quando marcámos o terceiro golo não estava contente mas ele regressou há pouco de uma lesão. Fiquei contente por tê-lo disponível para o jogo de hoje. Disse-lhe, quando ainda estávamos a ganhar por 2-0, que tínhamos de aprender alguma coisa com aquilo que aconteceu em Villa Park. Depois desse jogo estava chateado comigo mesmo por não ter trocado a equipa outra vez para uma linha de cinco defesas. Hoje aconteceu o mesmo e não queria cometer o mesmo erro duas vezes. Depois disse-lhe: ‘Ouve, Cristiano. Tu com 36 anos estás em grande forma mas quando fores treinador começarás a ver como um. O meu trabalho é tomar decisões para o melhor da equipa e do clube. Espero que vejas as coisas dessa forma”, explicou ainda, voltando à conversa que teve com o número 7 na altura da substituição.

Os comentários à ação, esses, foram maioritariamente críticos para Ronaldo, entre a compreensão da vontade de marcar de qualquer avançado e aquilo que era mais importante para a equipa no jogo.

“Estou realmente surpreendido. A maior parte do tempo tudo gira em torno dele, mas não devia ser sempre assim. Há que finalizar o trabalho e garantir os três pontos. O que ele fez foi despropositado. O Rangnick ou um dos seus companheiros devia recriminá-lo publicamente depois do jogo, isso ia doer-lhe muito mais. O Cristiano deve pensar que a equipa não é só ele”, referiu Andy Townsend, antigo médio internacional irlandês que passou por Southampton, Chelsea ou Aston Villa, na rádio Talk Sport.

“A equipa estava a ganhar por 2-0 e Ronaldo procurava subir na tabela dos marcadores. Mas o treinador resolveu bem a situação, falou com ele e explicou-lhe a substituição. Há jogos a cada três dias e terá oportunidades para marcar mais golos”, disse de forma mais branda o antigo internacional e capitão do Manchester United Rio Ferdinand, jogador que tem uma ligação de muitos anos com o português.