No ranking anual dos 100 melhores murais do mundo três são portugueses, e dois deles podem ser admirados em Lisboa e o outro em Cancún (México). Há ainda outro mural de um artista francês que escolheu uma parede da capital portuguesa para mostrar a sua arte. A lista é organizada pela Street Art Cities, a maior comunidade digital de arte urbana que escolhe no dia 6 de fevereiro o vencedor.

No bairro da Graça, encontra-se “Fado Tropical em tons RGB”, da autoria de Ozearv, um dos portugueses selecionados. Vive ali e escolheu uma parede pela qual tinha uma “paixão antiga”. “Sentir a renovação” do bairro fê-lo criar uma imagem com “duplo sentido”, conta ao Observador.

A “beleza sufocante” que pintou é uma metáfora para o estado da Graça, que é um reflexo da “mudança cultural” de Lisboa nos dias de hoje. O propósito é transmitir essa mensagem, e saber que isso lhe valeu uma nomeação é “ótimo”.

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A cerca de dez quilómetros de distância, no bairro da Ajuda, o gigante mural de Regg, “The Linen Ghost”, pode ser apreciado com toda a atenção. O artista quis eternizar a “bravura e a coragem” dos primeiros residentes do bairro 2 de maio e, antes, houve toda uma pesquisa: “Nós falamos com os moradores mais antigos”, frisa. A história que retratou é a dos “tais fantasmas que assombravam à noite as pessoas daquele bairro”.

Pintou num tom “surrealista, não tão literal” e admite que a mensagem é “dúbia”: “Eu não posso exigir às pessoas que percebam a minha interpretação”. Todavia, uma coisa é certa: “ninguém fica indiferente”, reforçando que as pessoas, quando o viam a trabalhar, iam ter com ele para falar sobre os significados da figura. “É o meu trabalho plantar uma semente na cabeça das pessoas”, reforça.

Sem se querer “armar”, é “um orgulho” estar numa lista de pessoas “que andam com o Street Art para a frente”. E mais: ser este o mural escolhido é ainda “mais simbólico, porque não é uma imagem fácil de consumir”.

Já noutro país, o artista Mr Kas uniu a vontade de retratar Frida Khalo à visita à cidade de Cancun, no México, vinca ao Observador. É o “puzzlelism”, nome que utiliza para descrever o seu próprio estilo, que o faz “criar algo diferente e único” – mesmo quando a figura principal da obra é alguém já múltiplas vezes retratada.

Saber que faz parte dos melhores 100 murais é “bom”, porém não é razão para criar expetativas, alerta: “No mundo da arte ninguém é melhor que ninguém e cada artista tem a sua técnica, a sua história e a sua identidade”.

Alexandre Hopare Monteiro é um dos franceses nomeados, mas com uma pintura em território português: “Alto do Longo”, o mural que está no Bairro Alto, ao cimo da rua O Século,  O artista quer levar o espectador a uma reflexão sobre o conceito “contraditório” de pintar à noite, como se lê na publicação do Instagram.

Do Canadá a Itália, de África do Sul até a Jordânia, há outros 96 murais a concurso — a imagem 37, da autoria de Lalone, em Alora (Espanha) não está disponível para download. Qualquer pessoa pode votar no seu preferido. A 6 de fevereiro um destes murais portugueses pode ser considerado o melhor do mundo.