A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, publicou esta terça-feira uma carta aberta aos meios de comunicação social de todo o mundo com o seu testemunho de como está a viver, na Ucrânia, a guerra lançada pela Rússia contra o seu país. Na carta, Zelenska acusa a Rússia de Putin de travar uma guerra contra civis inocentes e apela à NATO que feche o espaço aéreo da Ucrânia para que os militares ucranianos possam derrotar as forças russas.

Zelenska, a arquiteta e argumentista que é casada com Volodymyr Zelensky desde 2003, diz que escreveu a carta em resposta aos múltiplos pedidos de entrevista que recebeu nos últimos dias.

“Recentemente, um assombroso número de meios de comunicação social de todo o mundo abordou-me com pedidos de entrevista. Esta carta serve como a minha resposta a esses pedidos e é o meu testemunho da Ucrânia“, explicou Zelenska no início da carta.

“O que aconteceu há pouco mais de uma semana era impossível de acreditar. O nosso país era pacífico; as nossas cidades, vilas e aldeias estavam cheias de vida. No dia 24 de fevereiro, todos nós acordámos com o anúncio de uma invasão russa. Tanques cruzaram a fronteira ucraniana, aviões entraram no nosso espaço aéreo, lançamentos de mísseis cercaram as nossas cidades. Apesar das garantias dos meios de propaganda apoiados pelo Kremlin, que chamam a isto uma ‘operação especial’, isto é, na verdade, o homicídio em massa dos civis ucranianos“, escreveu Zelenska.

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Para a primeira-dama ucraniana, “o mais aterrador e devastador desta invasão são as mortes de crianças”.

“A Alice, de oito anos, que morreu nas ruas de Okhtyrka enquanto o seu avô a tentava proteger. Ou a Polina, de Kiev, que morreu nos bombardeamentos com os seus pais. O Arseniy, de 14 anos, foi atingido na cabeça por destroços e não pôde ser salvo porque a ambulância não conseguiu chegar até ele devido ao fogo intenso. Quando a Rússia diz que ‘não está a lançar a guerra contra os civis’, invoco em primeiro lugar os nomes destas crianças assassinadas“, afirmou Olena Zelenska.

“As nossas mulheres e crianças vivem agora em abrigos anti-bomba e em caves. Provavelmente, já todos viram as imagens das estações de metro de Kiev e de Kharkiv, onde há pessoas deitadas no chão com as suas crianças e animais de estimação presos por baixo. Para alguns, isto são só consequências da guerra; para os ucranianos, é agora uma realidade horrível. Em algumas cidades, as pessoas passam vários dias sem chegar aos abrigos anti-bomba por causa dos bombardeamentos indiscriminados e deliberados das infraestruturas civis”, denuncia a primeira-dama ucraniana.

Olena Zelenska aponta o drama dos recém-nascidos como uma das mais graves consequências da guerra.

“Os primeiros recém-nascidos da guerra viram o tecto de cimento da cave, o primeiro ar que respiraram foi o ar acre do subterrâneo e foram recebidos por uma comunidade encurralada e aterrorizada. Nesta altura, há várias dezenas de crianças que nunca conheceram a paz nas suas vidas”, escreveu. “Esta guerra está a ser travada contra a população civil e não apenas através dos bombardeamentos.”

A guerra contra estas pessoas inocentes é um duplo crime“, condena Zelenska.

O apelo à NATO: “Fechem o céu”

A primeira-dama ucraniana deixou ainda apelos específicos ao Ocidente e condenações duras contra a Rússia. “As nossas estradas estão inundadas de refugiados. Olhem para os olhos destas mulheres cansadas e para as crianças que carregam com elas a dor e o coração partido de quem deixou os entes queridos e a vida que conheciam para trás”, escreveu.

“O agressor, Putin, achou que iria lançar a blitzkrieg sobre a Ucrânia. Mas subestimou o nosso país, o nosso povo e o seu patriotismo. Os ucranianos, independentemente das perspetivas políticas, da língua materna, das crenças e das nacionalidades, mantêm-se unidos como nunca”, assegurou. “A Ucrânia quer paz. Mas a Ucrânia vai defender as suas fronteiras. Defender a sua identidade.

“Nas cidades em que os bombardeamentos continuam, onde as pessoas estão debaixo dos destroços, sem conseguirem sair das caves durante dias, precisamos de corredores para a ajuda humanitária e para evacuar os civis até um lugar seguro. Precisamos que aqueles que estão no poder fechem os nossos céus”, pediu Zelenska.

A primeira-dama refere-se a um pedido, já formulado por Volodymyr Zelensky aos líderes ocidentais, para que estabeleçam uma zona de exclusão aérea sobre o espaço ucraniano. Porém, Estados Unidos, NATO e Reino Unido já afirmaram que fazê-lo seria uma declaração de guerra contra a Rússia, com consequências imprevisíveis.

Fechar o espaço aéreo ucraniano seria uma declaração de guerra — e podia levar à Terceira Guerra Mundial, dizem especialistas

“Fecham o céu e nós tratamos da guerra no solo por nossa conta”, insistiu Zelenska, deixando um aviso ao Ocidente: “Esta é uma guerra na Europa, perto das fronteiras da UE. A Ucrânia está a travar a força que pode, agressivamente, entrar nas vossas cidades amanhã sob o pretexto de salvar civis. Se não pararmos Putin, que ameaça começar uma guerra nuclear, não haverá nenhum lugar seguro no mundo para nenhum de nós.”