Marina Ovsyannikova, a jornalista que interrompeu um noticiário do canal estatal russo com um cartaz antiguerra foi acusada, esta segunda-feira, de ser uma “espiã britânica”. No final de um programa, um dos principais pivôs da cadeia televisiva controlada pelo Kremlin, Kirill Kleimyonov, denunciou que “antes [do protesto]” a mulher de 43 anos “tinha falado com a embaixada britânica”.

“Quem de entre nós tem uma conversa telefónica com uma embaixada estrangeira?”, questionou Kirill Kleimyonov, ao mesmo tempo que apareciam várias manchetes de jornais ocidentais a relatar a história.

O pivô afirmou que a jornalista “traiu” a Rússia de forma “fria” por um “bónus” — alegadamente, de acordo com a versão russa, seria paga para o fazer. “Ser emocionalmente impulsivo é uma coisa, traição é outra”, insinuou Kirill Kleimyonov, acrescentando que a “traição era sempre uma escolha pessoal”.

Em resposta a estas acusações, os serviços secretos britânicos negaram que tenham tido qualquer contacto com Marina Ovsyannikova. “Está é outra mentira propagada pela máquina de desinformação”, indicaram.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Marina Ovsyannikova sinalizou, em entrevista à CNN, que existe uma “desconexão entre a realidade e o que é apresentado nos canais de televisão do país”, tendo sido o motivo pelo qual decidiu interromper o noticiário. “Tenho sentido cada vez mais uma dissonância cognitiva entre as minhas crenças e o que dizemos no ar”, lamentou Marina Ovsyannikova, acrescentando que até a sua mãe sofreu “lavagem cerebral” com a propaganda estatal. “Era simplesmente impossível ficar em silêncio”, declarou.

“Tive medo até ao último minuto”. Jornalista russa que protestou em direto diz-se arrependida de ter contado “mentiras” na televisão

Na passada segunda-feira, a jornalista entrou a meio de um noticiário com cartaz com a seguinte mensagem inscrita: “Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui, estão-vos a mentir”.