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Papa consagra Rússia e Ucrânia e condena destruição causada pela guerra

Este artigo tem mais de 2 anos

O Papa Francisco consagrou esta sexta-feira a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, numa celebração realizada em simultâneo no Vaticano e em Fátima, onde está o cardeal Konrad Krajewski.

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O Papa Francisco consagrou esta sexta-feira a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, numa celebração realizada em simultâneo no Vaticano e em Fátima, onde está o cardeal Konrad Krajewski, enviado do Papa. A celebração em Fátima pode vista aqui — enquanto a celebração no Vaticano pode ser recordada aqui.

A consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria está diretamente relacionada com as aparições de Fátima, em 1917. Nessas aparições, de acordo com o relato feito pela irmã Lúcia e validado pela Igreja Católica, a Virgem Maria teria revelado aos três pastorinhos — as crianças portuguesas Francisco, Jacinta e Lúcia — que a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria e a sua devoção levariam à conversão da Rússia ao catolicismo e ao fim da guerra.

No final do evento religioso, o Papa Francisco consagrou  a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Hoje em dia, notícias e imagens de morte continuam a entrar nas nossas casas, enquanto as bombas destroem as casas de tantos dos nossos indefesos irmãos e irmãs ucranianos”, disse o pontífice na homilia.

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“A guerra atroz que foi infligida a muitos e que faz com que todos sofram, provoca em cada um o medo e a aflição. Vivemos dentro de nós uma sensação de impotência e incapacidade”, acrescentou.

O Papa afirmou que “as garantias humanas não são suficientes” e que é precisa “a presença de Deus, da certeza do perdão divino, o único que elimina o mal, desarma o ressentimento e restaura a paz ao coração”.

As pessoas por si só, referiu, não podem “resolver as contradições da história” ou as do coração humano, pelo que precisam da “força sábia e gentil de Deus”.

“Em união com os bispos e os fiéis do mundo”, Francisco desejou “trazer ao imaculado Coração de Maria tudo o que estamos a viver, renovar-lhe a consagração da Igreja e da humanidade como um todo e consagrar-lhe, de uma forma particular, o povo ucraniano e o povo russo, que com carinho filial a veneram como mãe”.

Centenas de fiéis em Fátima

Centenas de pessoas estiveram concentradas junto à Capelinha das Aparições, em Fátima, onde tem lugar a recitação do rosário, na qual foram consagradas a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. A cerimónia foi presidida pelo Esmoler Apostólico, cardeal Korad Krajewski, como Legado Pontifício, em simultâneo com a consagração que o Papa Francisco fará na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

O movimento no Santuário de Fátima começou, a partir da hora de almoço, a registar um aumento comparativamente ao normal em dias de semana normais, com os fiéis a tentarem aproximar-se o mais possível da Capelinha das Aparições, onde o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marcou presença, que no final da consagração, indicou que o Papa fez contactos para resolver a situação. “Estão em curso esforços diplomáticos. A Santa Sé tem uma diplomacia muito eficaz, de centenas de anos”, disse.

Na oração preparada pelo Papa Francisco para a consagração desta sexta-feira, lê-se que “descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo”.

O Papa considera também que os homens esqueceram “a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais”. “Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão; Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear; (…) mostrai aos povos o caminho da fraternidade”, são alguns dos apelos deixados naquela oração.

As aparições de Fátima e a guerra na Rússia

As seis aparições de Fátima ocorreram entre maio e outubro de 1917, justamente o ano da Revolução Russa, em que o Império Russo colapsou e deu lugar à criação da União Soviética. De acordo com a tradição fixada pela Igreja Católica, a Virgem Maria teria aparecido a três crianças pastoras da região de Ourém — Jacinta, Francisco e Lúcia — para lhes pedir que rezassem pela paz no mundo e para lhes comunicar uma mensagem de conversão que ficaria popularmente conhecida como “o segredo de Fátima”.

Imagem de Nossa Senhora de Fátima recebida por multidão na Ucrânia. A história de 100 anos de ligação entre Fátima e a guerra na Rússia

Analfabetas e habitantes de uma região rural durante a Primeira República, dificilmente se poderia argumentar que as três crianças estivessem ao corrente dos acontecimentos que na altura ocorriam na Rússia. Tinham, porém, uma noção clara do clima de guerra que se vivia na Europa, que na altura atravessava a Primeira Guerra Mundial, na qual Portugal participou — e muitos homens da Cova da Iria, incluindo familiares dos três pastorinhos, haviam sido enviados para a guerra.

Na primeira aparição, em maio de 1917, Nossa Senhora terá pedido às crianças que rezassem o terço diariamente para alcançar a paz no mundo e para que a guerra terminasse. No mês seguinte, a Virgem Maria comunicou aos pastorinhos que Jesus queria que se estabelecesse no mundo a devoção do Imaculado Coração de Maria. Mas foi na terceira aparição, em julho de 1917, que ocorreu uma das principais revelações de Fátima: as três partes do segredo.

A primeira parte do segredo de Fátima foi a visão do inferno. Segundo a tradição fixada pelo texto da Irmã Lúcia e confirmada pela Igreja Católica, os pastorinhos viram “um grande mar de fogo” debaixo da terra, onde habitavam todo o tipo de figuras demoníacas “entre gritos e gemidos de dor” — uma imagem impressionante que tem contribuído para moldar o modo como o inferno é concebido pelos católicos e que é interpretado pela Igreja Católica como um aviso à necessidade de conversão dos pecadores, o grande foco da oração dos pastorinhos. A segunda parte do segredo de Fátima prendia-se com o caminho para a paz e para o fim da guerra: a devoção do Imaculado Coração de Maria por todos os fiéis católicos e a consagração da Rússia à mesma devoção.

“Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre”, teria dito a Virgem Maria. “Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”

Esta parte do segredo de Fátima tem sido interpretada pela Igreja Católica como um alerta divino para os perigos do regime comunista e ateu que naquele ano começava a ganhar forma na Rússia — e que viria a ser responsável por grande parte das ameaças à paz global durante o século XX.

A terceira parte do segredo — e a mais controversa de todas, uma vez que se manteve efetivamente em segredo até à sua revelação por parte do Vaticano no ano 2000 — referia-se à ameaça ao “bispo vestido de branco”, uma referência posteriormente interpretada como uma profecia sobre os perigos que corria o Papa João Paulo II. O pontífice polaco foi alvo de um atentado contra a sua vida no dia 13 de maio de 1981 e, mais tarde, ofereceu a bala com que foi atingido ao Santuário de Fátima, como agradecimento por considerar que tinha sido a mão da Virgem Maria a desviar a trajetória da bala no último segundo.

O pedido da Virgem Maria foi atendido pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984, quando, perante a imagem original de Nossa Senhora de Fátima, o Papa consagrou a Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Para os crentes, há poucas dúvidas de que o cumprimento da vontade de Nossa Senhora foi determinante para o colapso do bloco soviético, que se desenrolaria nos anos seguintes. Um dos episódios mais conhecidos foi o desastre de Severomorsk, que ocorreu menos de dois meses depois da consagração — e justamente no dia 13 de maio de 1984. Nesse dia, uma grande parte das munições destinadas a equipar uma das frotas navais soviéticas detonou acidentalmente, limitando consideravelmente a capacidade dos russos de lançar um ataque marítimo contra a Europa.

O colapso da União Soviética e da esfera de influência de Moscovo, que se precipitou nos anos seguintes, é habitualmente ligado pela Igreja Católica à intervenção da Virgem Maria — e o Santuário de Fátima tem inclusivamente em exposição um fragmento do Muro de Berlim, cuja queda em 1989 simbolizou o fim da divisão na Europa.

Agora, com o regresso da guerra ao leste da Europa e a Rússia como protagonista do conflito armado, o Papa Francisco anunciou que voltaria a consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, de acordo com o pedido formulado há mais de um século pela Virgem Maria em Fátima. A consagração realiza-se esta sexta-feira, 25 de março, quando se cumprem exatamente 38 anos desde que João Paulo II fez o mesmo.

Um “gesto da Igreja universal”

Na carta que esta semana o Papa Francisco enviou aos bispos de todo o mundo, o pontífice sublinha que “já passou quase um mês do início da guerra na Ucrânia, que está a causar sofrimentos cada dia mais terríveis àquela atormentada população, ameaçando mesmo a paz mundial”.

“Nesta hora escura, a Igreja é fortemente chamada a interceder junto do Príncipe da Paz e a fazer-se próxima a quantos pagam na própria pele as consequências do conflito”, escreveu o papa na carta aos bispos, acrescentando que o ato desta sexta-feira “quer ser um gesto da Igreja universal, que neste momento dramático leva a Deus, através da Mãe d’Ele e nossa, o grito de dor de quantos sofrem e imploram o fim da violência, e confia o futuro da humanidade à Rainha da Paz”.

Neste contexto, o Papa convida os bispos a unirem-se ao ato de consagração e a convocarem “os sacerdotes, os religiosos e os outros fiéis para a oração comunitária nos lugares sagrados (…), de modo que o santo Povo de Deus faça, de modo unânime e veemente, subir a súplica à sua Mãe”.

Por seu turno, o Secretariado Geral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em comunicado, assegurou que, “em profunda comunhão com o Santo Padre, os bispos portugueses procurarão estar presentes nesta celebração em Fátima”.

“Pede-se que todas as paróquias, comunidades, institutos de vida consagrada e outras instituições eclesiais assumam esta intenção de consagração nas celebrações desse dia”, acrescenta o comunicado da CEP.

Entretanto, em Fátima, a consagração foi antecedida de uma vigília de jovens, entre elementos de congregações religiosas, Missão País, grupos da pastoral juvenil diocesana das dioceses do Centro, CNE (Corpo Nacional de Escutas) e colégios católicos, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário.

Os símbolos da Jornada Mundial da Juventude, que estão a realizar uma peregrinação pela diocese da Guarda até ao início do mês de abril, foram deslocados para Fátima para este momento de oração que decorreu entre a noite de quinta-feira e o início da manhã desta sexta-feira.

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