A porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha para a Ucrânia exigiu esta sexta-feira às duas partes na guerra o respeito do direito internacional nas garantias de segurança para a fuga dos civis dos locais de conflito e nos corredores para entrega de ajuda humanitária.

Em entrevista à Lusa, Lucile Marbeau afirmou que é necessário um “diálogo contínuo entre todas as partes para lhes lembrar” que a Ucrânia e a Rússia têm “as suas obrigações legais ao abrigo do direito humanitário internacional” e devem “dar uma passagem segura” aos civis.

Sem nunca referir qual das partes não está cumprir as obrigações do direito internacional, Lucile Marbeau recorda que, segundo os acordos subscritos pela Rússia e Ucrânia, os “civis que quiserem sair [dos locais de conflito] devem poder fazê-lo de uma forma segura, sem risco”, algo que não está a acontecer neste momento em muitas áreas.

Guerra já fez pelo menos 1.232 mortos e 1.935 feridos civis

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tratam-se de “obrigações legais” que devem ser cumpridas, insiste. “Lembramos continuamente a todas as partes que estão obrigadas pelo direito humanitário internacional”.

Elogiando a cooperação da Cruz Vermelha ucraniana, Lucile Marbeay agradece o grande número de voluntários, “muitas vezes gente sem experiência que só quer ajudar” e outros que “se apresentam ao serviço com lágrimas silenciosas apenas porque querem ajudar a melhorar situação das pessoas que aqui estão necessitadas”.

Na segunda-feira, a Cruz Vermelha e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários conseguiram enviar um comboio humanitário com 60 toneladas de alimentos e bens de primeira necessidade para os civis cercados em Kharkiv, mas o cenário continua “complexo” noutras zonas da Ucrânia.

ONU entregou “em segurança” alimentação e medicamentos em Kharkiv

“Vemos milhares de pessoas deslocadas, a chegar todos os dias de cidades onde há combates violentos” que “lhes destroem qualquer esperança”, disse à Lusa.

Em todo o país, a Cruz Vermelha tem cerca de 40 centros para pessoas deslocadas, mas, do lado russo, não existem serviços da organização.

A Cruz Vermelha entrega mantimentos — “artigos muito simples” — e produtos de higiene, explicou Lucile Marbeau, salientando que a organização dá apoio diário também a deslocados em fuga para outros locais.

No caso de Dnipro, a quarta cidade da Ucrânia e o maior ponto de chegada de refugiados do leste do país, a Cruz Vermelha procura encontrar os deslocados para lhes entregar “um suporte mínimo” até que consigam chegar ao seu destino.

Muitos dormem “perto da estação de comboios” porque “querem mover-se rapidamente” para locais mais seguros. Naquela zona, a Cruz Vermelha colocou colchões para as famílias e tem apoio psicológico para quem precisa.

“Há gente que viveu semanas debaixo de terra”, salienta a dirigente, na entrevista à Lusa, que lamenta a violência deste conflito, entre dois países a desenvolverem ações militares diretas.

Por isso continuamos “a dialogar com todas as partes” e o que “estamos a fazer agora é aumentar a assistência que podemos dar às duas zonas que estão próximas da linha da frente”, disse.