Volodymyr Zelensky criticou, esta segunda-feira, os líderes do Ocidente por apenas reagirem com sanções mais fortes à Rússia depois de verem as imagens das atrocidades de Bucha. “Era realmente necessário esperar por isto para pôr de lado as dúvidas e a indecisão? Tinham de morrer em agonia centenas [de ucranianos] para os líderes europeus finalmente entenderem que a Rússia precisa de pressão mais severa?”, questionou o Presidente ucraniano.

Num discurso ao país, o chefe de Estado disse que tal atitude do Ocidente “parte o coração do todo o povo ucraniano” e também o “seu coração”. O motivo? “Só agora ouvimos de todos os líderes mundiais declarações que deveriam ter sido feitas há muito tempo, quanto tudo já estava completamente claro”, apelando aos líderes ocidentais para fornecer armas à Ucrânia, algo “necessário para expulsar os ocupantes” e para “libertar as cidades”.

“Eu não vos culpo — eu apenas culpo os militares russos. Mas poderiam ter ajudado”, afirmou Volodymyr Zelensky, que anunciou que o país já “está a começar a preparar todo o trabalho necessário” para repor a “vida normal” nas “áreas libertadas” pelo exército russo.

Referindo a visita a várias cidades nos arredores de Kiev — como Stoyanka, Irpin e Bucha —, o Presidente ucraniano descreveu-as como “arruinadas”. “Há equipamento militar queimado nas estradas, carros destruídos”, contou, acrescentando que havia carros com a inscrição “crianças” com “vestígios de balas”.

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Estimando mais de 300 vítimas mortais apenas em Bucha, Volodymyr Zelensky falou em “genocídio” na visita à cidade e, ao final da noite, admitiu ser “provável” que a “lista de vítimas seja muito maior quando toda a cidade for verificada”. O chefe de Estado ucraniano também apontou que “o número de vítimas” dos ocupantes “pode ainda ser maior” em Borodyanka e “em outras cidades libertadas”.

“Em muitas aldeias de Kiev, Chernihiv e Sumy, os ocupantes fizeram coisas que não tinham sido vistas desde a ocupação nazi há 80 anos. Os ocupantes vão seguramente ser responsabilizados por isto.” Zelensky deixou ainda uma promessa: “O resto das vossas vidas será atrás de umas grades, na melhor das hipóteses. Estamos em 2022. E temos melhores instrumentos do que os que acusaram os nazis depois da II Guerra Mundial. Faremos tudo para os punir.”

“Estamos a fazer de tudo para identificar todos os militares russos envolvidos nestes crimes o mais cedo possível”, prosseguiu o Presidente ucraniano, que fará “tudo” para os punir. “Será um trabalho conjunto com a União Europeia e outras instituições internacionais, em particular com o Tribunal Internacional de Justiça”, disse Volodymyr Zelensky, que revelou que todos “os crimes dos ocupantes estão documentados”. O objetivo é levar a cabo uma investigação “completa e transparente” para que o mundo consiga “ver o que a Rússia fez”.

Sobre os “propagandistas” russos que estão a tentar distorcer o que se passou em território ucraniano, Volodymyr Zelensky sublinhou que “todas as pessoas normais no mundo entendem quem trouxe guerra e mortes em massa ao território ucraniano. Há uma ampla evidência que são as tropas russas que destroem cidades pacíficas, torturam e matam civis”.