Luís Montenegro apresentou esta quarta-feira formalmente a sua candidatura à liderança do PSD. Numa conferência de imprensa a partir da sede do partido, em Lisboa, o antigo líder parlamentar disse ao que vem: “Sou candidato ao PSD para ser primeiro-ministro de Portugal”.

[Pode ouvir aqui o discurso de candidatura à liderança do PSD de Luís Montenegro]

“Não nos assustam maiorias absolutas ou mandatos longos”. O discurso de apresentação de candidatura de Luís Montenegro

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“Portugal precisa de uma oposição implacável com os desvios do Governo. Uma oposição pronta para governar a qualquer momento”, sublinhou, recuperando as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, quando o Presidente da República avisou que “um cenário de eleições antecipadas será inevitável” caso o primeiro-ministro venha a abraçar um cargo europeu.

“Não nos assustam maiorias absolutas, nem mandatos longos. Pelo contrário. Encarámos isso como um desafio. Seremos eficazes na oposição para um dia sermos eficientes no Governo”, insistiu Montenegro, uma resposta indireta aos muitos dentro do PSD apostam que esta liderança será a prazo.

Ao lado de figuras como Assunção Esteves, Conceição Monteiro, militante número dois do partido, Joaquim Miranda Sarmento, Hugo Soares, António Leitão Amaro, Margarida Balseiro Lopes, Pedro Reis, Pedro Duarte ou Inês Domingues, Montenegro prometeu união, abertura e respeito por todas as sensibilidades do centro à direita.

“Esta candidatura resulta de uma ponderada reflexão e de uma convicção: sou capaz de unir o PSD e de o abrir à sociedade. O PSD só pode sobreviver e prosperar se souber atrair”, argumentou, prometendo fazer do partido a grande casa da família não socialista.

“A dispersão dos votos no centro-direita mostra que há lugar para novos discursos e narrativas. Esse espaço é por natureza do PSD, que é o incumbente do espaço não socialista e tem de voltar a ser a casa-mãe de todas as tendências não socialistas.”

O antigo líder parlamentar balizou depois o desafio eleitoral que o partido tem pela frente. “Em Portugal temos uma nova legislatura, mas isso não nos dá mais esperança e tranquilidade. É chegada a hora de abrir um novo ciclo no PSD. Portugal precisa da nossa força”, apontou Montenegro, antes de dizer o que deve distinguir o PSD do PS:

“Nos últimos 27 anos, o PS governou 20 anos. Não aceito que tenha de ser assim. Não tem de ser assim. Quero que os portugueses olhem para o PSD e não vejam apenas responsabilidade e rigor. O PSD é liberdade, modernidade, ambição, talento, igualdade de oportunidades.”

“O país vive há demasiado tempo amarrado ao socialismo, ao amiguismo, à subsidiodependência, rumo à cauda da Europa”, apontou. “O socialismo está a nivelar a sociedade por baixo. As desigualdades aumentaram. O socialismo trouxe pobreza, dívida, impostos e um Estado social frágil e abandonado.”

“Neste momento, como em poucos na história de Portugal, é preciso acreditar: acreditar no povo português, acreditar em cada ser humano, acreditar no PSD e na sua capacidade para liderar a oposição e depois liderar o país; acreditar que somos capazes, que somos reformistas e ambiciosos; acreditar que vamos conseguir atrair os melhores.”

Numa parte do discurso mais programática, Montenegro defendeu uma Saúde sem preconceitos ideológicos, uma “Administração Pública atrativa e eficiente”, uma Justiça célere e acessível para todos, que não dê tréguas à corrupção” e um “Estado e num Governo que não mande nas pessoas”.

Qual é a jogada de Montenegro se liderar o PSD?

Montenegro recusa vestir o fato que ainda é de Rio

Já na parte reservada às perguntas da comunicação social, Montenegro foi desafiado a dizer o que faria se tivesse de votar a moção de rejeição ao programa de governo apresentada pelo Chega. Atirando para canto, o antigo líder parlamentar insistiu que não vestiria o “fato de líder do PSD” enquanto os militantes assim não o decidirem.

Quanto à herança rioísta que recebe na bancada parlamentar, Montenegro prometeu um “trabalho muito profícuo com os deputados e com grupo parlamentar”, afastando qualquer sombra de polémica. “Assistiremos a coordenação total“, prometeu o social-democrata.

Perante a insistência dos jornalistas para perceber se entende que deve ser consultado na escolha da liderança parlamentar e de outros cargos de representação, nomeadamente os do Conselho de Estado, Montenegro repetiu que o PSD tem órgãos em funções e devidamente legitimados.

Sobre o seu previsível adversário — Jorge Moreira da Silva ainda não formalizou a candidatura, mas já fez saber que vai entrar na corrida –, Montenegro deixou claro que era “um amigo e uma pessoa muito qualificada” que vai elevar o combate pela liderança do PSD.

Esta é a segunda vez que Luís Montenegro se candidata à liderança do partido. Em 2019, já depois de ter tentado derrubar Rui Rio num Conselho Nacional, o antigo líder parlamentar disputou as eleições com o próprio Rio e Miguel Pinto Luz. Passou à segunda volta, mas acabou por perder, apesar dos expressivos 47% dos votos.

A partir daí, manteve-se no “recato” a que se submeteu, evitando participar na vida interna do partido. Apareceu ao lado de Paulo Rangel nas últimas diretas — sem nunca lhe declarar o apoio — e apareceu no último congresso do partido, a última entronização de Rio, para declarar total lealdade na prossecução dos objetivos eleitorais.

Cumpriu: ao longo da campanha para as legislativas, apareceu junto de Rui Rio na incursão pelo distrito de Aveiro. Com a saída anunciada do ainda líder do PSD, recebeu de Salvador Malheiro rasgados elogios, catapultando-o para a pole position da corrida à liderança do PSD.

O objetivo, no entanto, foi sempre escapar ao rótulo de candidato de fação. As primeiras escolhas para a equipa indiciam isso mesmo: Joaquim Miranda Sarmento, o homem para as finanças de Rui Rio vai coordenar, com Pedro Duarte, a moção de estratégia global com que Montenegro se vai apresentar a votos. Carlos Coelho, antigo eurodeputado, preterido por Rio nas últimas europeias, vai ser o diretor de campanha das diretas marcadas para 28 de maio.