5x5x0. Cinco defesas, cinco médios, nenhum avançado. Foi assim, com um sistema raramente ou até nunca visto no futebol internacional, que Diego Simeone apresentou o Atl. Madrid a meio da semana na primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões. Contra o Manchester City, em Inglaterra, o treinador argentino construiu uma autêntica muralha — que só quebrou com um remate certeiro de De Bruyne.

Apesar de ser conhecido precisamente pelo calculismo, pelo pragmatismo e pelas preocupações defensivas, Simeone ainda teve a capacidade de surpreender ao aparecer no Etihad sem avançados. Uma surpresa que, ainda assim, teve mais críticas do que propriamente elogios — começando desde logo por Arrigo Sacchi, antigo treinador italiano.

Guardiola não jogou com 12 mas quem tem De Bruyne joga sempre com mais um (a crónica do Manchester City-Atl. Madrid)

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“Tem um catenaccio dos anos 60. Uma ideia velha. Que futebol é este? Não te dá alegria nem quando vences, ganhas sem merecer. Não gosto e acho estranho que os espanhóis, acostumados à beleza do futebol, aceitem isso. Simeone tem valores morais importantes, é um líder. Deveria fazer mais e acreditar mais nele próprio”, defendeu em declarações ao jornal Gazzetta dello Sport, sublinhando que os colchoneros não fizeram qualquer remate em Inglaterra.

Ora, este sábado e antes de receber os ingleses no Wanda Metropolitano para a segunda mão da eliminatória europeia, o Atl. Madrid visitava um Maiorca que está a lutar para não descer. João Félix, que foi eleito o melhor jogador do mês de março na liga espanhola, era poupado e começava no banco, com Simeone a manter Griezmann no onze e a motivar o regresso à titularidade de Suárez, Yannick Carrasco e De Paul.

Numa primeira parte muito pobre e sem qualquer remate enquadrado, tanto de um lado como do outro, o Atl. Madrid voltou a confirmar que tem muitas dificuldades quando enfrenta adversários que lhe oferecem a bola, a iniciativa e a dianteira da partida. Os colchoneros só ficaram perto do golo com um remate ao lado de Marcos Llorente ainda nos instantes iniciais (4′), numa das poucas aproximações à baliza de Sergio Rico, e o encontro chegou ao intervalo praticamente sem história.

Simeone mexeu no início da segunda parte, algo que se afigurava quase obrigatório para que o jogo fosse agitado, e lançou Lemar e Matheus Cunha nos lugares de Griezmann e Koke. A partida melhorou e abriu, com Suárez a assinar o primeiro remate enquadrado com um cabeceamento que Sergio Rico defendeu (56′), e Javier Aguirre respondeu a Simeone ao colocar o japonês Kubo. O jovem de 20 anos, que está emprestado ao Maiorca pelo Real Madrid, mexeu com o encontro e empurrou a equipa para a frente, correspondendo à subida de ritmo e intensidade que o Atl. Madrid tinha imposto a partir do intervalo.

João Félix e Vrsaljko entraram pouco depois da hora de jogo mas, sem que a dupla alteração tivesse tempo para ter qualquer impacto na partida, o Maiorca abriu o marcador. Reinildo fez falta sobre Maffeo no interior da grande área do Atl. Madrid e Muriqi, na conversão, colocou a equipa de Javier Aguirre a ganhar (68′). Nos 20 minutos que restavam até ao fim, os colchoneros subiram as linhas mas nunca estiveram propriamente perto do empate, ficando muito longe de encostar o Maiorca às cordas e capitulando face à inevitabilidade da derrota.

O Atl. Madrid perdeu pelo segundo jogo consecutivo e na antecâmara da decisiva receção ao Manchester City e começa a deixar fugir o segundo lugar da liga espanhola para o Sevilha e até o terceiro para o Barcelona, já que os catalães têm os mesmos pontos que os colchoneros mas menos dois encontros disputados. Desta vez, Simeone deixou o 5x5x0 em casa — mas o desfecho foi exatamente o mesmo.