Imran Khan ameaçou impor a lei marcial para que não tivesse de entregar o poder à oposição, de acordo com documentos que o The Guardian teve acesso.

Um ministro enviou na sexta-feira (dia anterior à votação) uma mensagem a um líder da oposição, na qual estava escrito: “Lei marcial ou eleições – a escolha é sua”. Um ultimato, entre a exigência da marcação de eleições antecipadas de Khan ou os militares no poder – como aconteceu repetidamente na História do Paquistão —, que foi recusado.

Já em declarações aos jornalistas, Fawad Chaudhry, o então ministro da Informação, atirou: “Se a lei marcial for imposta no país, os partidos da oposição serão os responsáveis, já que estiveram envolvidos na compra e venda de votos”. Chaudhry nega, contudo, as alegações sobre as tentativas de Khan de influenciar a votação da moção de censura proposta pela oposição contra o seu governo.

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Recapitulando, o então primeiro-ministro da potência nuclear com 220 milhões de habitantes fez de tudo para contornar a respetiva votação. O texto deveria ter sido votado no último domingo, mas o vice-presidente da Assembleia recusou fazê-lo e Khan defendeu a dissolução da Assembleia e a marcação de eleições antecipadas, conseguindo o apoio do Presidente da República, Arif Alvi. A oposição recorreu ao Supremo Tribunal, que considerou que as ações de Khan eram inconstitucionais, ordenando que a votação prosseguisse no sábado.

Nessa tarde, enquanto os deputados pró-governo empatavam e obstruíam o processo por horas, o líder da oposição, Bilawal Bhutto Zardari, avisou na sessão parlamentar: “Imran Khan quer que o exército se envolva”.

De acordo com um oficial de segurança, sob anonimato, Khan tentou demitir o chefe do Exército para levar os militares a assumir o controlo e impor a lei marcial. “As forças [de segurança] receberam informações sobre tal e bloquearam o plano. Khan queria criar uma enorme crise para permanecer no poder”, sublinhou a mesma fonte ao The Guardian.

Pelas 23h, chegou a notícia de que a antiga estrela de críquete, eleita em 2018, estava reunida com o general Qamar Javed Bajwa, chefe do Exército. Os órgãos de comunicação locais informaram que Bajwa disse a Khan para aceitar o destino e parar de interferir na votação.

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Mais tarde, por volta da 1h30, o primeiro-ministro foi formalmente afastado do cargo – votaram a favor 174 membros da Assembleia de 342 lugares. Nunca nenhum primeiro-ministro paquistanês terminou o mandato porém, até agora, também nunca nenhum tinha sido derrubado pelo Parlamento.

A tentativa de “eliminação do chefe do Exército no cumprimento de interesses políticos” também foi destacada numa petição apresentada no Supremo Tribunal de Islamabad pelo advogado Adnan Iqbal na noite da conturbada expulsão.

O líder da oposição e irmão de Nawaz Sharif (primeiro-ministro destituído pelo Supremo e condenado por corrupção), Shehbaz Sharif, de 70 anos, um político veterano que lidera o partido Liga Muçulmana do Paquistão e liderou a campanha de oposição legislativa, é o provável sucessor para ocupar o cargo como interino até que novas eleições sejam realizadas nos próximos seis meses.