Primeiro, a suspensão do Grande Prémio de Sochi em 2022. Pouco depois, a rescisão unilateral de contrato com os promotores da corrida em solo russo que vetava qualquer corrida nos próximos três anos. A Fórmula 1 foi dos primeiros desportos a tomar medidas perante a invasão da Rússia à Ucrânia e, após uma semana, existia apenas uma só ligação da modalidade ao país de Vladimir Putin. Uma ligação que, de acordo com as autoridades, era mais estreita do que se pensava. E num mês Nikita Mazepin perdeu tudo o que tinha.

Escuderia de Fórmula 1 Haas rescinde com russo Nikita Mazepin

“Não existe qualquer razão legal para que a equipa tenha decidido terminar o contrato a partir do momento em que a FIA nos deixava correr com a bandeira neutra. Aceitei ser neutro e queria escrever uma carta sobre isso. Mas não me deram tempo. Fiquei sem o sonho pelo qual lutei durante 18 anos da minha vida e sem forma de o defender”, queixara-se o piloto de 23 anos que iria cumprir o segundo ano na Fórmula 1 pela Haas, antes de ver o vínculo rescindido assim como a ligação da equipa com o patrocinador Uralkaki.

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“O mundo já não é o que era há duas semanas. Eu sei e entendo isso, é um tempo difícil. Tenho amigos dos dois lados do conflito e nada se compara com isso. Mas não quero falar sobre esse assunto. Só falo do facto de que, na semana passada, me disseram que o meu contrato seria terminado quando a FIA e o Conselho Mundial me disseram que poderia correr com a bandeira neutra. Aceitei incondicionalmente, pelo que a decisão da Haas de rescindir unilateralmente não foi tomada através de sanções, de uma autoridade desportiva, de algo que eu tenha feito ou o meu pai ou a empresa dele. E não acho que isso seja bom”, disse ainda Nikita Mazepin, numa vídeochamada a vários meios internacionais realizada a partir de Moscovo.

“Fiquei sem o sonho pelo qual lutei durante 18 anos da minha vida.” Nikita Mazepin quebrou o silêncio sobre a saída da Fórmula 1

Sem equipa, sem contrato e sem o sonho que pretendia prolongar, o russo anunciou nesse dia que iria criar uma fundação com o nome de “We Compete as One” para apoiar outros atletas que estivessem na sua posição, com grande parte dos fundos a chegarem da fortuna do pai, o oligarca bielorrusso Dmitri Mazepin, também ele acionista da Uralkali e para muitos a “razão” para o filho ter chegado à Fórmula 1. No entanto, um mês depois, volta a lidar com mais sanções a par do pai, neste caso por decisão do governo italiano.

Ao abrigo do que tem sido decidido por vários países que impuseram medidas contra a Rússia e os interesses económicos russos no estrangeiro, as autoridades transalpinas apreenderam propriedades num valor acima dos 100 milhões de euros à família Mazepin, que está colocada na lista de nomes e entidades sancionadas pelas ligações a Putin, tendo como principal alvo uma casa de campo situada no norte da Sardenha que é conhecida como Rocky Ram. A informação foi confirmada por uma fonte policial à Reuters, sendo que só em Itália as sanções a pessoas do círculo do líder russo já passam dos 900 milhões de euros.

De recordar que Dmitry Mazepin entrou na lista de sanções da União Europeia como “um membro do círculo próximo de Vladimir Putin”, depois de ter estado num encontro com o presidente da Rússia no dia do início da invasão à Ucrânia a par com outros 36 empresários. Já Nikita Mazepin entrou numa lista transversal ao Reino Unido como “uma pessoa associada a um importante empresário [o pai] envolvido em setores económicos que fornecem uma fonte substancial de receita para o governo da Federação Russa”. E foi contra isso que o piloto se voltou a pronunciar nos últimos dias, falando mesmo de um “cancelamento cultural”.

“Não concordo que esteja na lista das pessoas sancionadas e como já tinha dito antes é algo contra o qual tenciono lutar. Talvez agora não seja o tempo indicado, apenas isso. Se olharmos para toda a situação que se está a passar com os atletas e em termos gerais, existe um cancelamento cultural contra o meu país”, começou por dizer em entrevista ao programa Hardtalk da BBC, antes de ser também questionado sobre as imagens que chegam de forma diária de todas as atrocidades que têm acontecido na Ucrânia desde a invasão.

“Eu vivo no mesmo mundo que o Stephen [Sackur, apresentador do programa Hardtalk], só estamos a uma distância de três ou quatro horas de avião. É muito doloroso ver tudo isso, a vários níveis. É óbvio que os meus sentimentos com tudo isso vão mudando como ser humano e como pessoa que quer viver num mundo em paz mas, sendo completamente honesto, vejo riscos tremendos em dizer o que quer que seja sobre este caso porque nunca serei capaz de satisfazer todos e por isso vou manter-me publicamente calado sobre isso”, referiu, já depois de ter destacado que não iria fazer qualquer comentário público sobre a guerra.