A Fórmula 1 foi uma das primeiras modalidades a reagir de forma proativa ao início da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, garantindo desde logo que o Grande Prémio de Sochi não iria acontecer na temporada de 2022. Dias depois, prolongou as medidas e rescindiu contrato com os promotores da corrida russa, indicando que a Fórmula 1 não vai voltar ao país pelo menos até 2025. Contudo, restava um aparente telhado de vidro: Nikita Mazepin, piloto russo da Haas, que permanecia na grelha apesar de todos os compatriotas estarem a ser afastados das respetivas modalidades. No fim de semana, também Mazepin ficou fora do baralho.

“A Haas decidiu dissolver, com efeitos imediatos, a parceria com a Uralkali, assim como o contrato com Nikita Mazepin. Tal como a restante comunidade da Fórmula 1, a equipa está chocada e entristecida com a invasão da Ucrânia e deseja um rápido e pacífico fim do conflito”, podia ler-se no comunicado da Haas, que também revelava o fim da endinheirada ligação com a empresa russa onde Dmitry Mazepin, o pai do piloto, é um dos acionistas.

Escuderia de Fórmula 1 Haas rescinde com russo Nikita Mazepin

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De forma expectável, apesar da demora na tomada de decisão, Nikita Mazepin ficava de fora do Mundial de Fórmula 1. Aos 23 anos, prestes a começar a segunda temporada na categoria rainha do automobilismo, o russo nunca foi consensual — esteve sempre envolvido em escândalos, tanto dentro como fora de pista, sendo questionado pela própria capacidade para conduzir um monolugar e colocado em causa pelo facto de, alegadamente, só estar na Haas por ser filho de quem é. Esta quarta-feira, dias depois da rescisão de contrato, Mazepin decidiu quebrar o silêncio.

“Não existe qualquer razão legal para que a equipa tenha decidido terminar o contrato a partir do momento em que a FIA nos deixava correr com a bandeira neutra. Eu aceitei ser neutro e queria escrever uma carta sobre isso. Mas não me deram tempo. Fiquei sem o sonho pelo qual lutei durante 18 anos da minha vida e sem forma de o defender”, começou por dizer o piloto numa declaração por vídeochamada a vários meios de comunicação social internacionais e a partir de Moscovo.

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Durante a quase conferência de imprensa, Nikita Mazepin nunca se dirigiu diretamente ao que se está a passar na Ucrânia e nunca abordou as ligações que o pai tem ao regime russo, sendo um dos elementos do círculo próximo de Vladimir Putin. “O mundo já não é o que era há duas semanas. Eu sei e entendo isso, é um tempo difícil. Tenho amigos dos dois lados do conflito e nada se compara com isso. Mas não quero falar sobre esse assunto. Só falo do facto de que, na semana passada, me disseram que o meu contrato seria terminado quando a FIA e o Conselho Mundial me disseram que poderia correr com a bandeira neutra. Aceitei incondicionalmente, pelo que a decisão da Haas de rescindir unilateralmente não foi tomada através de sanções, de uma autoridade desportiva, de algo que eu tenha feito ou o meu pai ou a empresa dele. E não acho que isso seja bom”, acrescentou.

“A equipa disse-me que a FIA permitia, que não existiam problemas para os testes de Barcelona. Não imaginava que isto pudesse acontecer. Acreditei nas palavras das pessoas, a equipa nunca me disse que isto iria acontecer. Soube que me iam mandar embora no mesmo dia que vocês, há quatro dias. Ao mesmo tempo que a imprensa. Ninguém está pronto para isto. Não me deram pistas nem apoio”, acusou Mazepin, garantindo que não vê a Fórmula 1 como um “capítulo passado”. “Vou estar sempre pronto, fisicamente, se algum dia chegar uma oportunidade. Não estou a olhar para outras categorias”, explicou.

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Contudo, para o piloto russo, não existe a possibilidade de ainda voltar à Haas. “Não quero ir para onde não me querem, não posso voltar à Haas, mesmo que exista uma possibilidade de recorrer legalmente. A Fórmula 1 é perigosa para fazer isso. Este trabalho é complicado. Estás debaixo dos holofotes e nunca imaginei que perderia o lugar assim”, disse Mazepin, revelando ainda que recebeu chamadas de Sergio Pérez, Valtteri Bottas, Charles Leclerc e George Russell, que lhe deram “ânimo e apoio”.

Por agora, e a menos de duas semanas do início do Campeonato do Mundo, a Haas ainda não anunciou o substituto de Nikita Mazepin enquanto colega de Mick Schumacher. Segundo a imprensa especializada, a lista reduzida de candidatos inclui Kevin Magnussen, que esteve na Fórmula 1 entre 2014 e 2020 e já passou pela Haas, e Oscar Piastri, atual campeão do mundo de Fórmula 2 e piloto de reserva da Alpine. O Mundial 2022 de Fórmula 1 arranca já no próximo dia 20 de março, com o Grande Prémio do Bahrain.