Já começam a ser conhecidos os contornos da “segunda fase” da invasão da Ucrânia, semanas depois de as forças russas terem abandonado a região de Kiev. O foco da Rússia passará agora por controlar toda a parte Sul e Leste da Ucrânia, incluindo a região do Donbass, para criar um corredor para a Crimeia, a pensínsula ucraniana anexada por Moscovo em 2014.

“Desde o início da segunda fase da operação especial, há dois dias, um dos objetivos do exército russo é estabelecer o controlo total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia”, afirmou o comandante-adjunto do Distrito Militar Central da Rússia, general Rustam Minnekayev, citado pela agência francesa AFP, durante uma reunião com empresas do complexo industrial russo.

O general russo garantiu também que essas movimentações poderão assegurar “influência nas infraestruturas vitais da economia ucraniana, os portos do Mar Negro, através dos quais os produtos agrícolas e metalúrgicos são entregues”, acrescentou.

Estamos a combater o mundo inteiro, neste momento, como na Grande Guerra Patriótica”, disse ainda o general Minnekayev, recorrendo ao nome dado na Rússia à Segunda Guerra Mundial. “Toda a Europa, todo o planeta estava contra nós na altura. Agora, é a mesma coisa, eles nunca gostaram da Rússia”, acrescentou.

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Rússia quer entrar na Moldávia

Mas a ideia não será ficar pela Ucrânia, uma vez que as forças russas dizem estar a planear entrar também na região de Transnístria, na Moldávia (um território separatista e pró-russo, sem proteção quer da União Europeia quer da NATO), uma movimentação para a qual o controlo das regiões Sul e Leste seriam úteis. O motivo? Segundo o mesmo general, citado pelas agências russas, haverá “provas” de opressão da população russófono na região de Transnístria.

Este é, de resto, o mesmo argumento que a Rússia usou nos dias anteriores ao início da invasão da Ucrânia, quando falou da necessidade de libertar a população russófona das regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk — que reconheceu como repúblicas populares independentes.

A Ucrânia acredita que o controlo destas regiões poderá servir para a Rússia lançar ataques contra o lado occidental da Ucrânia. Há semanas, as Forças Armadas ucranianas acusavam a Rússia de estar a colocar-se já na Transnístria para criar “provocações” na fronteira com a Ucrânia, de forma a criar uma nova frente de guerra.

O Governo moldavo diz estar a “monitorizar de perto” a evolução da situação no terreno, negando que já haja forças russas colocadas na região.

Segundo analistas citados pela Sky News, além destes objetivos — controlo de Donbass, criação de um corredor terrestre para a Crimeia, controlo do Sul e Leste da Ucrânia com entrada para a região moldava e bloqueio dos portos no Mar Negro — a fase três, estando assegurados estes objetivos, deverá passar por um novo ataque à capital, Kiev.

A mudança na estratégia da Rússia tem-se evidenciado pelo abandono da região de Kiev, com foco renovado nos ataques a cidades no Leste e Sul da Ucrânia, como Kharkiv ou Mariupol. Esta última, cidade portuária, está cercada há semanas — tendo a Rússia anunciado esta quinta-feira que a sua “libertação” estaria completa, uma informação desmentida pela Ucrânia, que assegura manter o controlo de Mariupol.

Do lado dos mesmos analistas, a previsão é que o objetivo final de Putin continue a passar por substituir o Governo ucraniano por um Executivo pró-russo — e regista-se a “surpresa” provocada pelo facto de o Kremlin se sentir à vontade para anunciar abertamente as suas intenções, mesmo que continue a classificar a invasão como uma “operação militar”.