O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, denunciou, esta sexta-feira, que há “por todo o país” elementos pró-Putin nas organizações que estão a acolher refugiados ucranianos, alertando trata-se de um fenómeno que se repete em toda a Europa.

O jornal Expresso revela, na sua edição desta semana, o caso concretos dos serviços de apoio a refugiados da Câmara Municipal de Setúbal, onde alguns ucranianos se sentiram ameaçados por terem sido recebidos por responsáveis de uma associação pró-russa. Em declarações à RTP, Sadoka concretizou as acusações e disse que o acolhimento de refugiados ucranianos por organizações pró-russas também aconteceu em Aveiro, Gondomar e Albufeira.

“Desde que os refugiados começaram a chegar a Portugal, em março, começámos a receber alertas de que tinham sido recebidos por pessoas de elementos pró-russos que se faziam passar por elementos de organizações internacionais e até ucranianas”, contou Pavlo Sadoka, garantindo que as denúncias chegaram “de norte a sul do país”.  Nestes encontros, os ucranianos acabados de fugir da guerra temiam pela sua segurança assim como dos familiares e amigos que tinham ficado no país, acrescentou Pavlo Sadoka.

A Associação dos Ucranianos em Portugal alertou “há mais de um mês, os serviços secretos portugueses (Serviço de Informações de República Portuguesa) para a presença de agentes infiltrados nas organizações que estavam a dar apoio aos refugiados e a recolher informações sobre as suas famílias”, disse.

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“Os russos têm a melhor rede de espionagem de todo o mundo e utilizam todo o tipo de esquemas. Claro que nós não podemos provar, porque não somos nenhuma agência de investigação, mas a História diz-nos que esta é uma situação muito perigosa”, explicou Pavlo Sadoka.

Segundo o representante da Associação, esta situação está a repetir-se por toda a Europa: “A Associação de Ucranianos em Portugal esteve reunida esta semana com outras organizações e vimos que é igual em toda a Europa”.

Aveiro e Albufeira desmentem denúncia

Em reação, o presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, disse que a autarquia tem como interlocutor da comunidade ucraniana – a terceira estrangeira mais numerosa na região – um padre ortodoxo no acolhimento aos refugiados.

“Nós, em Aveiro, temos um interlocutor da comunidade ucraniana, o padre Vazil, pessoa a quem reconhecemos idoneidade e credibilidade e que nos ajuda a referenciar interlocutores complementares credíveis”, explicou o presidente da autarquia. O autarca garantiu ainda que, desde que foi eleito, a Câmara de Aveiro não concedeu qualquer apoio à Associação de Apoio ao Imigrante, alojada em São Bernardo, embora o tenha feito no tempo do seu antecessor, Élio Maia.

“Fui o primeiro político português a alertar que, no acolhimento aos refugiados, nem todos são pró-ucranianos. O que eu disse é que havia em Aveiro cidadãos ucranianos a apoiar a chegada de refugiados que eram pró-russos, e nem tudo o que é ucraniano é bom, pelo que é preciso ter cuidado”, declarou à Lusa.

“Estamos a falar de um país, a Rússia, que usa espionagem como nós usamos o ar para respirar e é preciso não sermos ingénuos porque estamos a falar de uma guerra, onde vale tudo menos tirar olhos e a Rússia é conhecida no mundo historicamente ser um país que trabalha bem a espionagem”, concluiu.

Também o Presidente da Câmara de Albufeira, José Carlos Rolo, refutou a denúncia de Pavlo Sadoka, desmentindo as mesmas numa resposta à Rádio Observador, na tarde desta sexta-feira.

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*Notícia atualizada às 21h00 com correção do título