O grupo parlamentar do PCP não vai participar na reunião por videoconferência que juntará deputados portugueses e ucranianos, na próxima terça-feira. O partido confirmou ao Observador que não irá estar presente, uma informação que também foi transmitida aos grupos parlamentares pelos serviços do Parlamento.

Em resposta ao Observador, fonte oficial do PCP na Assembleia da República confirma apenas que os deputados do partido “não vão participar” na sessão que juntará as comissões de Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus e que ficou marcada na semana passada por acordo de quase todos os partidos — menos, precisamente, do PCP, que votou contra.

Na altura, a líder parlamentar comunista, Paula Santos, defendeu na Comissão de Negócios Estrangeiros que aprovar a reunião com os deputados ucranianos equivaleria a “caucionar” decisões das autoridades ucranianas como a suspensão e extinção de partidos — caso do partido comunista ucraniano, que foi ilegalizado, assim como onze partidos com ligações à Rússia, mais recentemente.

Os outros partidos tiveram uma opinião diferente e autorizaram, na quarta-feira passada, a reunião com a Comissão de integração da Ucrânia na União Europeia. Foram os deputados dessa estrutura que pediram a reunião aos parlamentares portugueses. E o objetivo da integração da Ucrânia na UE foi exatamente um dos pontos em que Volodymyr Zelensky fez questão de fazer pressão quando falou ao Parlamento português, a 22 de Abril, também por videoconferência.

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Zelensky nas entrelinhas. As comparações emotivas, os pedidos difíceis e o apelo para que o Portugal “decente” apoie a Ucrânia na UE

“Acredito que o povo de Portugal, e com ele os políticos portugueses, vão apoiar o nosso Estado na sua vontade fundamental de estar convosco na União Europeia. O livre deve apoiar o livre. O decente deve apoiar o decente. O consciente deve apoiar o consciente”, disse Zelensky. No Conselho Europeu, fazendo um balanço sobre as posições de cada país neste ponto, disse que Portugal “está quase” a apoiar a ambição ucraniana de se juntar à UE — embora António Costa já tenha defendido que a prioridade é aprofundar o acordo de associação do país com a UE e não tanto o processo de adesão, que pode arrastar-se durante muitos anos.

Foi também nessa sessão com Zelensky no Parlamento português que o PCP decidiu não marcar presença. As posições isoladas do partido em relação à guerra na Ucrânia têm-se mantido desde o início da invasão, mas as afirmações mais duras foram feitas na sequência dessa reunião, com a líder parlamentar, Paula Santos, a dizer que as referências de Zelensky ao 25 de Abril não passaram de um “insulto” e que se na revolução portuguesa se pôs “fim ao fascismo”, no regime ucraniano acontece “o contrário”.

Na Ucrânia, o exército integra, de facto, batalhões de extrema-direita e com membros neonazis, sendo o mais conhecido destes o batalhão Azov. No entanto, politicamente essas forças não têm qualquer representação. De resto, nas últimas eleições legislativas a coligação de extrema-direita conseguiu apenas 2,15% dos votos, falhando o objetivo de eleger representação no Parlamento.