Considerado por muitos um lugar inatingível e misterioso em que nem celebridades escapam ao critério de seleção, o clube-discoteca Berghain, uma das principais atrações de Berlim voltou à “normalidade” em abril, depois de dois anos de pandemia.

E com o regresso sem quase todas as restrições impostas pela Covid-19 veio também uma aspiração de 2021 e uma tradição seletiva. A primeira é partilhada por outras discotecas da vida noturna da capital alemã: fazer parte do património imaterial da humanidade e cair sob a alçada de proteção da UNESCO. A segunda é mais um pormenor que a torna famosa: há quem exagere, como o jornal espanhol El Mundo que a considera o “lugar mais inacessível do mundo”.

É que nem todos podem entrar neste local de passagem obrigatória para amantes de música techno. Mesmo que se chame Elon Musk e seja o homen mais ricos do mundo.  

Conhecido por ser a “fortaleza escura” de Berlim, como refere o jornal El Mundo, tem à entrada o porteiro mais exigente do Ocidente, Sven Marquardt. O diário espanhol chama mesmo “chungo”  a uma das personagem mais famosa da noite de Berlim e também a mais obscura, por ser quem cede a passagem para aquela que é a experiência no “melhor lugar à face da terra”, como considerou a atriz norte-americana Claire Danes.

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O “pequeno ditador”, como é conhecido, com um porte intimidador, com cicatrizes, tatuagens e joias góticas, é o responsável por fazer funcionar “pacificamente” as festas. Não há um critério em específico utilizado para a seleção das pessoas, para além da energia que transmitem quando olham nos olhos do guardião de Berghain, conta ao El Mundo.

Vernissage of Exhibition 'Stageless' in Berlin

“Não passarás” é a frase que, noite após noite, Sven profere a algumas das milhares de pessoas que permanecem cerca de duas horas nas filas quilométricas à frente do clube. “Devo ter a certeza de que quem entra, está lá porque sente a música e quer festejar”, disse Marquardt em entrevista ao El Mundo.

Elon Musk já foi informado por duas vezes — sendo a última há um mês — que não podia entrar no espaço mais famoso e restrito do mundo já que concentrava mais atenção que a própria festa. O conhecido CEO acabou por desistir e dizer na sua página do Twitter, a rede social que está a passos de comprar por 40 mil milhões de euros:

“Eles escreveram PAZ na parede de Berghain! Recusei a entrada”.

O clube, que estava aberto 24 horas por dia durante o fim de semana — desde sexta-feira à noite até às primeiras horas de domingo antes da pandemia — mantém regras antigas como só permitir telemóveis que tenham fita adesiva a tapar as câmaras. Não é permitido recolher imagens ou sons dentro do “templo” techno, que é tão famoso quanto desconhecido: são raríssimas as fotos do interior do espaço e das festas.

Enquanto o mundo volta a sair à rua e a vida noturna de Berlim retoma a sua história, após quase dois anos sem fazer dançar, os Dj’s de música eletrónica que fazem parte da organização Rave the Planet, aguardam a decisão da UNESCO em considerar património imaterial clubes-discoteca como Berghain. Já têm a seu favor precedentes como a decisão do parlamento alemão em reconhecer os clubes-discoteca como espaços culturais, em maio de 2021. E Berghain tem uma ajuda suplementar: em 2016 um tribunal alemão considerou-o “de alta cultura”.