O nome de Vadim Shishimarin, o jovem russo de 21 anos julgado pela Ucrânia acusado de crimes de guerra após ter matado um civil, tornou-se conhecido em todo o mundo. O comandante de uma unidade militar, que terá recebido ordens para disparar contra um homem de 62 anos desarmado, reconheceu a autoria do crime, num tribunal de Kiev, podendo agora ser condenado à prisão perpétua.

Do outro lado da fronteira, concretamente a mais de 4.500 quilómetros, está a mãe do jovem de 21 anos, que vive em Ust-Ilimsk, perto da Mongólia. Numa entrevista citada pelo órgão independente russo Meduza, Lyubov, que não partilha o apelido, mostra-se resignada — e conta que só soube que o filho estava na Ucrânia a 1 de março, uma semana depois de a invasão russa ao país ter começado.

Também foi apenas a 1 de março que Lyubov soube que o filho tinha sido preso pelas autoridades ucranianas. “Não fazia ideia de que havia uma guerra, de algo que se estava a passar na Ucrânia. Eu não procuro nada na Internet, nem vejo notícias. Não me interessa, porque apenas mostram todos os tipos de disparates”, revelou a mulher, que apenas soube da situação de Vadim quando a nora lhe enviou um vídeo. 

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Só voltou a ter novidades a 13 de março, quando Vadim fez uma videochamada a dizer que “tudo estava bem” e para a mãe “não se preocupar”. Desde essa data, apenas falou mais uma vez com ele. Apesar de não conseguir entrar em contacto, Lyubov tem feito de tudo para saber mais do paradeiro e do estado do filho: “Tenho feito apelos desde 1 de março. Até escrevi ao Putin [Presidente russo]”.

A única resposta que obteve foi do Ministério da Defesa russo, que assegurou que estava a fazer tudo ao seu alcance para resolver o assunto: “Ainda estão a dizer isso”. Sobre o julgamento do filho, Lyubov entende que Vadim “é um soldado contratado” e que tem de arcar com as consequências dos seus atos. “Mas ele é meu filho”, ressalva, acrescentando que também não tem grandes detalhes sobre o assunto.

Comandante de unidade militar é o primeiro soldado russo a ser julgado na Ucrânia por suspeitas de assassinar um civil

Indicando que era contra o filho ingressar na carreira militar — algo que decidiu fazer antes da invasão à Ucrânia —, Lyubov queria que o jovem fosse antes para a universidade. E descreveu-o como com uma “criança querida e justa”: “Nunca tive problemas com ele. Ele sempre estudava muito e sempre me ajudou. Não era rebelde”. Por conhecer tão bem Vadim, a mãe não acredita que tenha matado o civil de 62 anos – pelo menos não por vontade própria. “Matar uma pessoa desarmada? Não. Ele nem sequer levantaria a mão.”

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É por isso que Lyubov admite que o filho podia estar “sob a influência de drogas e álcool”, reforçando a ideia de que este não seria capaz de matar ninguém “sóbrio”. A mãe também conjetura que Vladim possa estar “a ser forçado” a admitir crimes que não cometeu. 

Em relação à guerra na Ucrânia, Lyubov não a vê com bons olhos. “Tenho pena dos nossos rapazes e dos ucranianos. Crianças com as minhas estão a morrer lá. O marido de alguém, o filho de alguém”, lamentou, acrescentando que não percebo por que motivo é “que alguém precisa” de um conflito em que morre tanta gente.