Em seis dias, tudo mudou. Os sorrisos passaram a lágrimas, a tristeza passou a satisfação, o que parecia ter a porta fechada abriu a janela de oportunidade, o que era um túnel de fuga passou a beco sem saída.

De um lado, o Moreirense. Não dependia de si para segurar uma vaga no playoff de acesso à próxima Liga, resolveu cedo a questão com o Vizela, esperou pelo que se passava em Tondela e fez a festa quando, apenas a quatro minutos do final, o Boavista conseguiu empatar o encontro. Depois de vários azares que foram perseguindo a equipa, do golo sofrido frente aos axadrezados aos 90′ a uma grande penalidade falhada no final do jogo no Estoril, havia um motivo para festejar após a goleada num dérbi minhoto.

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Hoje, as lágrimas de Sá Pinto foram de alegria: Moreirense goleia no dérbi e vai ao playoff, Tondela e Belenenses SAD descem à Segunda Liga

Do outro, o Desp. Chaves. Que dependia apenas de si na última jornada da Segunda Liga, que jogava em Vila do Conde com o líder Rio Ave, que sofreu logo no primeiro minutos, que teve algumas oportunidades para chegar ao empate e reabrir a discussão, que acabou por perder por 3-0 quebrando uma série final de seis vitórias e dois empates (um deles com uma grande penalidade falhada nos descontos) e entrando no playoff de acesso à próxima Liga vendo os vila-condenses e o Casa Pia em Matosinhos fazerem a festa.

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Na primeira mão, os transmontanos deram a melhor resposta menos de uma semana depois, recebendo e vencendo os cónegos por 2-0 com um golo de João Teixeira no quarto de hora inicial e um grande lance individual do lateral João Correia a meio da segunda parte. Havia festa dos flavienses no relvado e nas bancadas, havia lágrimas de alguns jogadores do Moreirense no banco. No entanto, faltavam ainda 90 minutos para se conhecer quem seria a 18.ª e última equipa na Primeira Liga de 2022/23.

“Esta equipa já esteve morta várias vezes este ano. Lembro-me que estivemos a cinco pontos do playoff e a seis da salvação direta. Mostrámos várias vezes que, perante as adversidades, conseguimos superar-nos. De uma vez por todas, temos de jogar à imagem daquilo que fizemos nesses jogos e à imagem do próprio povo da vila de Moreira de Cónegos, que é encarado como gente de trabalho, lutadora e humilde, que faz grandes sacrifícios e quer vencer na vida. Esse é o nosso lema”, destacava Sá Pinto, que voltava a falhar o encontro por castigo. “Para mim é uma grande injustiça estar fora. Este capitão da GNR Orlando Mendes foi um grande irresponsável. Ele deve ter ouvidos de super homem para ouvir aquilo que diz que ouviu. Era impossível no meio daquele estádio. É um grande mentiroso. Vai ser contra tudo e contra todos. Isto faz-nos mais fortes, mais unidos”, referiu ainda a propósito das razões que levaram a essa punição.

E o Moreirense ainda esboçou essa reação, com um golo de Paulinho a meio da primeira parte que deu outra esperança aos adeptos da casa que, a par da bancada quase repleta de transmontanos, quase encheram o Estádio Comendador Joaquim Almeida de Freitas. No entanto, e até ao final, o Desp. Chaves foi conseguindo segurar essa margem mínima entre o habitual “queimar de tempo” nestas circunstâncias e assegurou o regresso ao principal escalão do futebol português três anos depois.

“Vai uma alegria imensa na alma, depois de muito desgaste emocional. Começámos a época com dificuldades, os casos de Covid-19 e as lesões. Jogámos desde novembro no fio da navalha porque tínhamos jogos em atraso e chegámos a estar com 13 pontos de atraso. Fomos resilientes e chegamos à última jornada a acreditar que podíamos subir diretamente. Não aconteceu. Tivemos de ir ao playoff, contra uma boa equipa, e creio que fomos melhores nos dois jogos e a subida é justa. Estou muito satisfeito pelo que conseguimos. A subida é dedicada aos adeptos a quem estou muito grato”, referiu no final do encontro à SportTV Vítor Campelos, técnico que comandou o Desp. Chaves à Primeira Liga.

“Na primeira parte não estávamos a ser tão agressivos, no bom sentido, e faltou-nos coragem para ter bola. Acertámos algumas coisas ao intervalo e a segunda parte foi diferente para melhor. No jogo inteiro, houve mais domínio do Moreirense, mas as ocasiões flagrantes foram nossas. Deixo uma palavra à instituição Moreirense. Desde miúdo que vinha ver jogos do Moreirense, foi o clube que me abriu as portas na Liga. Algumas das pessoas do Moreirense são das melhores que conheci no futebol”, acrescentou.