Cassidy Hutchinson, antiga assessora da Casa Branca na administração Trump, disse esta terça-feira em Washington que o ex-Presidente foi informado que os manifestantes que protagonizaram uma tentativa de ocupação do Capitólio estavam armados, mas que insistiu que os deixassem avançar. Mais: Hutchinson acusa Donald Trump de ter tentado aligeirar a segurança e de querer juntar-se aos manifestantes, ao ponto de ter tentado assumir o controlo da limusine presidencial.

“Deixem a minha gente passar” e marchar em direção ao Capitólio, terá dito Donald Trump pouco antes de milhares de apoiantes seus entrarem em confrontos violentos com a polícia, ao tentar entrar no edifício. Cinco pessoas morreram nesse dia.

No testemunho que deu esta terça-feira perante o comité do Congresso que está a investigar o ataque ao Capitólio, Hutchinson citou Trump a dar instruções à sua equipa, recorrendo a vários palavrões, para que retirassem os detetores de metal que, considerava o ex-Presidente, fariam perder tempo aos seus apoiantes.

“Não quero saber que eles tenham armas”, disse então Trump, citado por Cassidy Hutchinson. “Eles não estão aqui para me magoar. Estou-me marimbando se eles têm ou não armas”, terá dito especificamente. “Tirem a m**** dos magnómetros”, terá repetido várias vezes o Presidente para a sua equipa de segurança, referindo-se aos detetores de metais.

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A antiga assessora do chefe de gabinete do Presidente, Mark Meadows, garante que ouviu diretamente estas declarações.

Hutchinson afirmou também perante o comité que o Presidente à altura manifestou o desejo de se juntar aos manifestantes. Depois de a equipa de segurança lhe ter negado esse pedido, Trump terá tentado assumir o controlo da limusine presidencial em que se deslocava para sair do local ao tentar agarrar o volante do carro que estava a ser conduzido por um agente dos serviços secretos.

O Presidente disse algo como ‘Eu sou a m**** do Presidente, levem-me ao Capitólio já’, ao que [Robert Engel, responsável dos Serviços Secretos] respondeu ‘Temos de regressar à Ala Oeste'”, contou a assessora. “O Presidente tentou aproximar-se da parte da frente do veículo para agarrar no volante. O senhor Engel agarrou-lhe no braço e disse ‘Precisa de tirar a sua mão do volante. Vamos regressar à Ala Oeste, não vamos ao Capitólio'”.

Um dos agentes terá de seguida tentado imobilizar a mão do Presidente que, com a outra, tentou apertar a garganta do agente, sem sucesso.

Trump já reagiu às declarações de Hutchinson, desmentindo esta última parte. “A história falsa dela de que eu tentei agarrar o volante da limusine da Casa Branca para a levar para o Capitólio é doentia e fraudolenta, à semelhança do próprio comité”, escreveu o ex-Presidente na sua rede social, Truth Social, de acordo com The New York Times.

Um Presidente que não achou errado quererem enforcar o seu vice

Perante os cânticos dos manifestantes que exigiam que se enforcasse o vice-presidente, Mike Pence, Hutchinson afirmou que o chefe de gabinete da Casa Branca lhe disse que o Presidente não queria tomar nenhuma ação relativamente a isso. “Ele acha que o Mike merece. Não acha que eles estejam a fazer nada de errado”, ter-lhe-á dito Mark Meadows.

Como é habitual, o vice-presidente assumia à altura a presidência do Senado — nessa qualidade, Trump esperava que Pence não validasse os resultados eleitorais das presidenciais, que deram a vitória a Joe Biden, na câmara alta do Congresso. “Espero que o Mike faça a coisa certa”, disse inclusivamente o Presidente perante a manifestação, antes de a multidão invadir o Capitólio.

O Presidente também enviou tweets a criticar Pence antes e durante a manifestação, o que desagradou profundamente a Hutchinson.

Como americana, fiquei enojada. Não foi patrótico, não foi americano. Assistmos ao edifício do Capitólio a ser desfigurado por causa de uma mentira”, disse.

Hutchinson também relatou aos congressistas uma série de conversas que teve no próprio dia e nos dias anteriores com o seu chefe, Mark Meadows, e com o advogado de Trump, Rudy Giuliani, que a fizeram considerar que a violência do dia 6 de janeiro já seria de alguma forma antecipada pela equipa e possivelmente apoiada.

Meadows terá dito a Hutchinson que “as coisas podem ficar muito más”, disse ela, enquanto Giuliani ter-lhe-á afirmado que seria “um grande dia” e que o objetivo era o Capitólio. A assessora disse-se, por isso, “com medo e nervosa com o que poderia acontecer”.

O ataque de 6 de janeiro ocorreu na sequência de um discurso inflamado de Donald Trump, perto da Casa Branca, onde encorajou os seus apoiantes a marchar em direção ao Capitólio, lançando acusações infundadas de que os democratas tinham cometido fraude eleitoral naquela votação — que deu a vitória a Joe Biden nas presidenciais.