Primeiro passo: entrar melhor. Segundo passo: continuar melhor. Terceiro passo: sair melhor. O encontro decisivo de Portugal frente à Suécia em Leigh, que iria determinar uma possível histórica presença na fase a eliminar do Campeonato da Europa de futebol feminino, era um dos mais importantes de sempre da Seleção Nacional e chegava na sequência de uma derrota diante dos Países Baixos, campeões em título, mas nem por isso existia menor convicção naquele que poderia ser mais um passo no crescimento exponencial da modalidade no país perante a grande exibição que a equipa teve frente a uma das candidatas ao título.

Desenganem-se: elas não foram lá só para sonhar. Foram mostrar que o futebol feminino português é real e recomenda-se

“As nossas jogadoras fazem-nos sonhar. Aquilo que são capazes de fazer dentro de campo, aquilo que têm mostrado neste Campeonato da Europa, elas fazem-nos acreditar. À equipa técnica, ao staff, mas acima de tudo os portugueses. Iremos fazer tudo para continuar em prova”, resumira Francisco Neto, um selecionador nacional orgulhoso pelo percurso até ao jogo decisivo, que tivera antes um empate a dois com a Suíça que soube a pouco perante a grande recuperação na segunda parte, e ciente do que estava em causa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma segunda parte de luxo para esquecer cinco minutos de pesadelo: Portugal empata com a Suíça na estreia no Europeu

“Este jogo tem um peso extra. É a possibilidade de continuarmos na competição ou terminarmos a nossa caminhada.  Acima de tudo, vemos este encontro como grande oportunidade de crescermos e de voltarmos a mostrar competência. É com grande satisfação que vamos para este desafio. O feedback que temos recebido de toda a gente, aqui no Europeu, é estimulante e dá-nos confiança. Para seguir em frente, temos de fazer mais e melhor, sabendo que, tal como disse o meu querido amigo Jorge Braz [selecionador de futsal], temos uma montanha muito grande e dura para trepar e nós temos essa ambição e essa coragem de procurar escalar essa montanha”, destacara antes do jogo diante da vice-campeã olímpica, com melhor ranking FIFA a nível europeu e “a equipa com maior experiência presente nesta competição”.

Em termos estatísticos, a probabilidade de vitória e passagem da Suécia aos quartos era de 92%. Em jogo jogado, mesmo não chegando à fasquia dos 50%, Portugal ainda conseguiu nivelar em alguns momentos a diferença óbvia que tinha para as escandinavas. No entanto, e numa imagem que tem pouco ou nada a ver com aquilo que a Seleção fez nesta segunda fase final de um Europeu, as cartas na mesa não foram suficientes para evitar uma goleada com quase todos os golos a surgirem de bola parada (0-5).

Francisco Neto promoveu apenas duas alterações na equipa mas que poderiam traduzir mais do que isso. A primeira, na baliza, foi direta: entrou Patrícia Morais, saiu Inês Pereira. A segunda, na frente, obrigava a outras mexidas: Kika Nazareth, que não tinha começado o Europeu nas melhores condições físicas, era pela primeira vez titular como falsa avançada centro, colocando Diana Silva na esquerda e a polivalente Ana Borges como lateral na vaga de Joana Marchão. No entanto, essas mexidas não evitaram os já habituais calafrios nos minutos iniciais, com Asllani a cair na área pedindo um penálti ainda no primeiro minuto e Patrícia Morais a evitar o golo inaugural de Rytting Kaneryd na área pouco depois (3′). Pelo meio, e na primeira boa saída em transição, Tatiana Pinto atirou de meia distância para defesa de Hedvig Lindahl.

O encontro teve depois várias paragens na sua parte inicial para assistência a jogadoras mas aquele que era o primeiro objetivo em comparação com os encontros anteriores estava conseguido: o nulo mantinha-se e Portugal não tinha de correr atrás do prejuízo como acontecera antes. Aliás, até foi mesmo a Seleção a ficar perto do golo, com Carole Costa a aproveitar uma segunda bola após canto para atirar pouco ao lado (16′). No entanto, bastou a Suécia ganhar o primeiro canto para toda essa estratégia cair por terra com Angeldal, a aproveitar uma saída sem conseguir aliviar a bola de Patrícia Morais, a empurrar para a baliza deserta de pé direito para o 1-0 sem que as suecas tivessem feito por merecer a vantagem (21′).

A Seleção volta a ter de recuperar de uma desvantagem, deixando de contar também com Catarina Amado que teve de sair de maca num lance em que as jogadoras nacionais pediram outra sanção via VAR perante a intensidade do pisão na lateral (o que não aconteceu). E Portugal ainda teve uma oportunidade para chegar ao empate, numa jogada que começou em Kika Nazareth, teve cruzamento na direita de Jéssica Silva e desvio na área de Diana Silva para defesa de Lindahl (40′). Contudo, os minutos finais da primeira parte acabaram por ser fatais para as aspirações nacionais: já depois de um golo anulado a Stina Blackstenius por fora de jogo (42′), Angeldal bisou na sequência de um livre lateral com passe atrasado para o remate sem hipóteses (45′) e Carole Costa, depois de mais um canto, desviou para a própria baliza (45+7′).

O encontro ficava resolvido e o cenário pior se tornou quando Asllani, na sequência de uma mão na área de Diana Silva, aumentou de grande penalidade para 4-0 (54′). Sempre que a Suécia tinha uma bola parada no meio-campo nacional havia perigo e foi assim que ainda marcou mais um golo anulado depois pelo VAR por fora de jogo, sendo que Portugal teve oportunidade para pelo menos reduzir a desvantagem no marcador mas o remate de Andreia Norton acabou por sair ao lado quando o jogo estava mais partido. Estava carimbado o adeus ao Campeonato da Europa com uma exibição manchada pelos erros defensivos e que não teve reflexo no resultado tendo em conta a capacidade que teve no jogo jogado com as suecas, que ainda chegaram nos descontos ao 5-0 numa saída rápida para o ataque concluída por Stina Blackstenius.