A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff enviou uma carta aberta ao seu precursor no cargo, Michel Temer, avisando que “a história não perdoa a prática da traição”.

Estas declarações surgem um dia depois do ex-presidente brasileiro Michel Temer ter dito que Dilma Rousseff é “honestíssima”, negando ter participado num golpe parlamentar contra ela.

Temer diz que Dilma Rousseff é “honestíssima” e nega ter participado em golpe no Brasil

Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política”, escreveu Dilma Rousseff.

A 36.ª Presidente do Brasil, que exerceu o cargo até o seu afastamento por um processo de impeachment em 2016, apelidado pela esquerda de golpe, afirmou ainda que “É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes”.

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Relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor”, concluiu.

Um dia antes, Michel Temer garantiu não ter havido “golpe nenhum”.

“Quando começou a história da chamada procedência da acusação [contra Dilma Rousseff] na Câmara dos Deputados, eu vim para São Paulo e fiquei no meu escritório várias semanas por uma razão, que eu reconheço existe, é que o vice é sempre suspeito”, declarou Temer numa entrevista ao portal de notícias Uol.

Não houve golpe, o que houve foi um cumprimento da Constituição Federal. Basta ler lá, está dito, que se o Presidente cair assume o vice-presidente, primeiro ponto. Segundo ponto, eu quero dizer que a senhora ex-presidente, às vezes falam em corrupção, é mentira. Ela é honesta. Eu sei, o que eu pude acompanhar, que não há nada que possa apontá-la de corrupta. Para mim [Dilma Rousseff] é honestíssima”, acrescentou.

Na entrevista, Temer – que foi chamado de golpista por Rousseff e seus apoiantes durante o processo de destituição baseado em supostas irregularidades fiscais na gestão de programas sociais, acusação da qual foi declarada inocente pela justiça brasileira -, afirmou que a ex-presidente teve problemas políticos com o Congresso.

“Houve problemas políticos. Ela [Dilma Rousseff] teve dificuldades no relacionamento com o Congresso Nacional, teve dificuldade no relacionamento com a sociedade e teve as chamadas pedaladas [manobra fiscal que consiste no atrasos de envio de dinheiro a bancos públicos referentes ao pagamento de benefícios de programas sociais]”, afirmou Temer.

“Este conjunto de fatores é que levou multidões às ruas. Quem derruba Presidente, num impeachment [destituição], não é o Congresso Nacional. É o povo nas ruas que influencia o Congresso Nacional”, completou o ex-presidente.

À época da destituição de Dilma Rousseff, o Brasil era palco de grandes protestos contra o Governo e contra políticos e empresários envolvidos em escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, que levaram milhões de pessoas às ruas e também grupos menores de apoiantes da ex-presidente que defendiam a sua permanência no Governo.

Em 2019, o próprio Michel Temer acabou preso duas vezes acusado de corrupção em investigações da Lava Jato que desvendaram uma ampla rede de corrupção na estatal petrolífera Petrobras e em outras empresas públicas do país.

Michel Temer em prisão preventiva pela Operação Lava Jato

Temer foi acusado de receber subornos de empresas que ganharam contratos no consórcio vencedor da licitação da unidade Angra 3, que faz parte da central nuclear Almirante Álvaro Alberto, no Rio de Janeiro, e também de ter recebido supostas vantagens indevidas em razão de um decreto para a área de portos, acusação da qual foi considerando inocente.

Em junho passado, o Tribunal Regional Federal da 1.ª região decidiu manter a rejeição da denúncia contra o ex-presidente e outros sete investigados na operação Descontaminação, que envolvia supostas irregularidades em contratos firmados para a construção da empresa de energia nuclear Angra 3.