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England v Austria: Group A - UEFA Women's EURO 2022
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O Europeu 2022 arrancou esta quarta-feira, em Old Trafford, com Inglaterra a vencer a Suécia com um golo de Beth Mead

Offside via Getty Images

O Europeu 2022 arrancou esta quarta-feira, em Old Trafford, com Inglaterra a vencer a Suécia com um golo de Beth Mead

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As lutas pela igualdade salarial, as 90 mil pessoas em Camp Nou, o efeito Putellas. O que o futebol feminino andou para aqui chegar

Portugal estreia-se este sábado, contra a Suíça, num Europeu que arrancou com recordes de assistência, bilhetes vendidos e investimento. Mas o futebol feminino teve de batalhar muito para aqui chegar.

É o sinal mais claro de que o futebol feminino está a crescer a uma velocidade sem qualquer tipo de precedentes: cada competição que acontece, seja um Mundial ou um Europeu, é denominada como a mais importante de sempre. Aconteceu com o Europeu 2017, aconteceu com o Mundial 2019 e volta a acontecer agora, com o Europeu 2022 que arrancou esta quarta-feira em Inglaterra e onde Portugal se estreia este sábado.

Beth tirou o chapéu em Old Trafford: foi bonita a festa, pá! (a crónica do jogo de abertura do Europeu feminino)

A Seleção Nacional, que tinha falhado o apuramento no playoff contra a Rússia, chegou ao Europeu graças à decisão da FIFA de excluir as equipas russas de todas as provas. Foi parar ao Grupo C, em conjunto com a candidata Suécia, os campeões europeus Países Baixos e a sempre difícil Suíça, e dá o primeiro passo este sábado contra as suíças, em Leigh (17h). Depois da histórica participação no Euro 2017, onde não passou da fase de grupos mas carimbou a primeira vitória de sempre na competição ao derrotar a Escócia, Portugal volta a entrar na prova com poucas possibilidades de seguir em frente mas com mais uma oportunidade para continuar a crescer.

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Um crescimento que, para além de estar inerente à trajetória portuguesa, é intrínseco à história do futebol feminino. O Europeu de Inglaterra arrancou em Old Trafford e terá a final em Wembley, já quebrou o recorde de bilhetes vendidos e de assistência num jogo e prepara-se para ser a competição mais relevante em termos públicos e mediáticos. Para trás ficaram os relvados enlameados, os equipamentos de tamanhos despropositados e a ausência de cobertura da comunicação social. Para a frente, porém, ainda está a necessidade de atingir uma igualdade e justiça salarial que está longe de ser transversal.

Netherlands v Denmark - UEFA Women's Euro 2017: Final

A seleção dos Países Baixos é a atual campeã europeia em título depois de ter conquistado o último Europeu, em 2017, em casa

Getty Images

Em 1984, as jogadoras foram trabalhar no dia depois da final. Em 2022, quase 69 mil pessoas estiveram em Old Trafford a ver o jogo inaugural

O primeiro Campeonato da Europa de futebol feminino aconteceu em 1984, há 38 anos. Ou, pelo menos, aquilo que mais se aproximou de um Campeonato da Europa de futebol feminino até então. Ainda sem o apoio oficial da UEFA, ou seja, sem o naming e sem o reconhecimento do organismo que regula o futebol europeu, a competição decorreu durante todo o ano, entre fases de grupos e eliminatórias, e culminou numa final a duas mãos entre Suécia e Inglaterra.

De um universo de 16 seleções que competiram em campos pequenos, sem condições, sem transmissões televisivas e com pouca ou nenhuma atenção da comunicação social, as suecas e as inglesas destacaram-se e marcaram a primeira mão da final para Gotemburgo, na Suécia. Aí, num país que foi dos primeiros a dar relevância ao futebol feminino e que já assumia uma preponderância que teria nas décadas seguintes, as jogadoras inglesas conheceram uma realidade para a qual não estavam preparadas.

Em Gotemburgo, seis mil pessoas coloriram as bancadas do Estádio Ullevi. Existia transmissão televisiva, jornalistas, um relvado em boas condições e balneários preparados. “Foi incrível. A televisão, a cobertura dos jornais… Era algo que nunca tínhamos vivido”, contou recentemente Carol Thomas, então capitã da seleção inglesa, ao The Guardian. A Suécia venceu, por 1-0, e levou vantagem para a decisiva segunda mão.

O Europeu de Inglaterra arrancou em Old Trafford e terá a final em Wembley, já quebrou o recorde de bilhetes vendidos e de assistência num jogo e prepara-se para ser a competição mais relevante em termos públicos e mediáticos.

Uma segunda mão que foi o espelho do contraste que existia nos diferentes países europeus em relação ao futebol feminino. Em Kenilworth Road, o estádio do Luton, estavam pouco mais de duas mil pessoas nas bancadas de um recinto com capacidade para 10 mil. Não existia transmissão televisiva, a bola utilizada era mais pequena do que o habitual e a chuva não dava tréguas, deixando o relvado totalmente enlameado e impraticável. O adiamento chegou a estar em cima da mesa mas revelou-se impossível — afinal, o dia seguinte era uma segunda-feira e todas as jogadoras tinham de ir trabalhar ou estar nas aulas.

“Hoje em dia, o jogo tinha sido suspenso. As condições eram horríveis. Não havia relva, era tudo lama, a bola não rolava, era impossível jogar. Não estavam lá jornalistas. Tomámos banho e fomos para casa porque no dia seguinte tínhamos de ir para a escola ou para o trabalho”, recordou Hope Powell, que disputou a final do Europeu 1984 com apenas 17 anos. Inglaterra venceu a segunda mão no tempo regulamentar, deixando a final empatada, e tudo foi decidido nas grandes penalidades, onde a Suécia ganhou e tornou-se a primeira campeã europeia de futebol feminino. 38 anos depois, dificilmente o cenário poderia ser mais diferente.

No Europeu que arrancou esta quarta-feira e onde Portugal se estreia este sábado, contra a Suíça, está prevista uma movimentação económica que se aproxima dos 100 milhões de euros. Foram vendidos meio milhão de bilhetes, quebrando o recorde dos 250 mil do último Europeu, e as transmissões televisivas vão chegar a 195 países, com uma audiência global que a UEFA estima que chegue aos 250 milhões de pessoas. Todas as seleções são patrocinadas pelas principais marcas desportivas, utilizando até equipamentos especialmente desenhados para o corpo feminino, e as melhores jogadoras de cada país são já autênticas celebridades.

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Esta temporada, o recorde de assistência num jogo de futebol feminino foi quebrado duas vezes em 23 dias: ambas com o Barcelona e ambas em Camp Nou

NurPhoto via Getty Images

Esta quarta-feira, em Old Trafford, Inglaterra e Áustria deram o pontapé de saída do Europeu. Um golo solitário de Beth Mead, ainda na primeira parte, deu a vitória às inglesas, que são das principais candidatas à conquista do troféu. No estádio do Manchester United, estavam 68.871 pessoas nas bancadas: um novo recorde de assistência num Europeu feminino, superando os 41.301 espectadores que em 2013 assistiram à final entre a Alemanha e a Noruega, na Suécia.

Os recordes de assistência, aliás, têm sido um dos principais indicadores do crescimento do futebol feminino. Em Espanha, onde Real Madrid, Barcelona e Atl. Madrid têm liderado a consolidação de uma modalidade que só na época passada viu o Campeonato tornar-se profissional, o recorde absoluto de espectadores num encontro de futebol feminino foi quebrado duas vezes no espaço de 23 dias. No final de março, 90.185 pessoas encheram Camp Nou para assistir ao Clássico entre Barcelona e Real Madrid, nos quartos de final da Liga dos Campeões; menos de um mês depois, em abril, 91.648 adeptos viram o encontro entre as catalães e o Wolfsburgo, nas meias-finais da Champions. Até este ano, a maior marca de sempre tinha ainda mais de duas décadas, com as 90.185 pessoas que assistiram à final do Mundial 1999 entre os Estados Unidos e a China, no Rose Bowl, em Los Angeles.

A (des)igualdade salarial, a grande questão que continua a ser um problema em praticamente todo o lado

Em fevereiro, depois de uma batalha judicial que durou seis anos, a notícia chegou: a seleção de futebol feminino dos Estados Unidos e a Federação norte-americana de futebol chegaram finalmente a um acordo relativamente à igualdade salarial em relação à equipa masculina. A US Soccer aceitou pagar cerca de 24 milhões de dólares à seleção feminina — o mesmo que paga à seleção masculina. E esse passo, até por estar associado àquela que é naturalmente interpretada como a melhor seleção do mundo, não deixa de espelhar o longo caminho que o futebol feminino tem vindo a percorrer.

No final de março, 90.185 pessoas encheram Camp Nou para assistir ao Clássico entre Barcelona e Real Madrid, nos quartos de final da Liga dos Campeões; menos de um mês depois, em abril, 91.648 adeptos viram o encontro entre as catalães e o Wolfsburgo, nas meias-finais da Champions.

22 desses 24 milhões serão divididos pelas jogadoras, sendo que os dois milhões que sobram serão alocados a um fundo que reverte para o pós-carreira das atletas e para associações que promovem e desenvolvem o desporto feminino. A quantia é um terço daquilo que as jogadoras exigiam no processo judicial, que também envolvia um pagamento por danos morais, e foi uma vitória pessoal de Cindy Parlow Cone, uma antiga atleta que chegou à liderança da US Soccer em março de 2020 e na sequência da demissão do luso-descendente Carlos Cordeiro.

“Este é apenas um passo no caminho da reconstrução da nossa relação com a seleção feminina. Acho que é um enorme feito e estou entusiasmada com o futuro para trabalhar em conjunto com elas. Agora, podemos concentrar-nos noutras coisas, como no desenvolvimento do jogo a todos os níveis e o aumento de oportunidades para as raparigas e as mulheres”, referiu, na altura, Parlow Cone, que foi internacional norte-americana em mais de 150 ocasiões.

Seis anos depois, a seleção feminina dos Estados Unidos chegou a acordo com a Federação para obter igualdade salarial

O processo judicial agravou-se em março de 2019, a três meses do Campeonato do Mundo desse ano, quando as jogadoras da seleção processaram a US Soccer devido a queixas de discriminação de género. A tomada de posição das atletas surgiu como o culminar de uma luta sobre igualdade salarial e condições laborais travada entre as duas partes há muito tempo e no processo a Federação — o organismo que regula todo o futebol, masculino e feminino, nos Estados Unidos — foi acusada de ter, durante anos, aquilo a que as jogadoras chamavam “discriminação de género institucionalizada”. As queixas das jogadoras não diziam respeito somente aos salários mas também ao facto de a federação norte-americana controlar onde as jogadoras jogavam e com que frequência, a forma como treinavam, os tratamentos médicos que recebiam e até a maneira como viajavam até aos locais dos jogos.

United States v Haiti - 2022 Concacaf W Championship

Megan Rapinoe foi uma das principais impulsionadoras do processo judicial que levou à igualdade salarial nas seleções dos Estados Unidos

Getty Images

Os pontos referidos no processo tornado público há dois anos incluíam alguns dos problemas descritos por cinco jogadoras então titulares da seleção — Alex Morgan, Hope Solo, CarliLloyd, MeganRapinoe e BeckySauerbrunn — numa queixa feita à Comissão de Igualdade de Oportunidade Laboral dos Estados Unidos em 2016. A ausência de uma resolução, de qualquer ação governamental ou atitude por parte da Federação após essa primeira medida levou depois um conjunto ainda maior de atletas a apresentar então a ação judicial.

O processo representava todas as jogadoras que foram à seleção dos Estados Unidos desde fevereiro de 2015 e exigia então o pagamento de retroativos e danos. A ação judicial foi o último capítulo de uma luta que durou vários anos (primeiro de forma interna e privada, depois de forma pública) e que teve como pontos fulcrais a compensação salarial, o apoio às atletas e as condições laborais enquanto as jogadoras representam os Estados Unidos: o grupo que levou o caso para os tribunais defendia que lhe era exigido um número superior de jogos e vitórias do que aquele que é pedido à seleção masculina e que a recompensa monetária era significativamente inferior.

Em março de 2020, Carlos Cordeiro mostrou-se “surpreendido” com a ação judicial interposta pelas jogadoras e garantiu que estava determinado a manter várias reuniões com as atletas para resolver a situação. “A Federação acredita que todas as atletas merecem um salário justo e igualitário. Esforçamo-nos para manter este valor fulcral em todos os momentos. Já tive uma discussão aberta, cordial e profissional com algumas jogadoras para entender as suas preocupações e vamos continuar a trabalhar juntos para resolver este problema”, explicou aquele que era, na altura, o presidente da US Soccer.

A tomada de posição das atletas surgiu como o culminar de uma luta sobre igualdade salarial e condições laborais travada entre as duas partes há muito tempo e no processo a Federação — o organismo que regula todo o futebol, masculino e feminino, nos Estados Unidos — foi acusada de ter, durante anos, aquilo a que as jogadoras chamavam "discriminação de género institucionalizada".

“Para a nossa geração, saber que vamos deixar o jogo num lugar exponencialmente melhor do que aquele em que o encontrámos, significa tudo. É só isso que importa. Até porque, para ser honesta, não existe justiça em nada disto se não garantirmos que não volta a acontecer”, reagiu Megan Rapinoe, uma das figuras mais importantes da seleção que conquistou os dois últimos Mundiais, em 2015 e 2019.

Mais de um ano antes, em setembro de 2020, o Brasil já tinha dado o mesmo passo. O então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou que todas as jogadoras da seleção feminina iriam receber exatamente o mesmo que os jogadores da seleção masculina recebem sempre que são convocados. “Desde março deste ano que a CBF chegou a um valor igual em termos de prémios e remuneração diária entre homens e mulheres. Quer isto dizer que as jogadoras ganham o mesmo que os jogadores durante as convocatórias. O que eles recebem por dia em cada convocatória, as mulheres também recebem”, explicou Rogério Caboclo, na mesma declaração em que anunciou a contratação de duas novas coordenadoras para o futebol feminino por parte da Confederação.

Marta (e companhia) ganhou a luta: Brasil anuncia igualdade de salários entre homens e mulheres na seleção

Caboclo detalhou ainda que a igualdade de salários seria global, ou seja, iria aplicar-se também aos grandes torneios: os prémios que os homens recebem por vitórias ou a conquista final de um Campeonato do Mundo, da Copa América ou dos Jogos Olímpicos, as mulheres também vão receber. O Brasil juntou-se assim a países como a Noruega, a Austrália e a Nova Zelândia, onde as seleções masculina e feminina já recebiam exatamente o mesmo em cada convocatória, num lote onde agora também já estão os Estados Unidos.

Denmark v Brazil - Women's International Friendly

Pernille Harder, avançada do Chelsea e grande referência da Dinamarca, foi uma das jogadoras que boicotou a partida contra a Suécia, no apuramento para o Mundial 2019

DeFodi Images via Getty Images

A decisão da Confederação Brasileira de Futebol ofereceu um significado extra às palavras de Marta, uma das melhores jogadoras de sempre — no verão de 2019 e logo depois de o Brasil ser eliminado por França nos oitavos de final do Mundial, a brasileira de 34 anos não escondeu as lágrimas enquanto fez um apelo ainda no relvado. “É isto que peço às raparigas brasileiras. O futuro do futebol feminino depende de vocês para sobreviver. É sobre querer mais. É sobre cuidarem mais de vocês. É sobre treinar mais. É estarem prontas para jogar 90 minutos e ser capazes de jogar mais 30”, começou por dizer Marta, que lembrou depois que a geração de jogadoras brasileiras estava a precisar de uma renovação.

“Não vai haver uma Formiga para sempre, não vai haver uma Marta para sempre, não vai haver uma Cristiane para sempre. Pensem sobre aquilo que estou a dizer. Chorem no início para que possam sorrir no final. Estamos a tentar representar as mulheres e mostrar como as mulheres podem desempenhar qualquer tipo de papel. Todas as equipas que aqui estão, estão todas a representar as mulheres. E deixem-me ser clara: isto não tem a ver apenas com o desporto”, concluiu Marta, que já venceu a Bola de Ouro em seis ocasiões, é a jogadora com mais golos na história dos Mundiais (17) e em 2019 tornou-se a primeira, homem ou mulher, a marcar em cinco edições distintas do Campeonato do Mundo.

Na Dinamarca, porém, foi necessário chegar a medidas mais extremas. Finalista vencida do último Europeu, tendo perdido a final para os Países Baixos, a seleção dinamarquesa apresentou-se na qualificação para o Mundial 2019 com a expectativa clara de ser uma das principais candidatas à conquista do troféu. O que não encaixava nessa espiral de crescimento era o facto de as condições laborais das jogadoras, em comparação com as dos jogadores, continuarem a ser incompreensíveis. Durante a qualificação, as atletas — com Pernille Harder, avançada do Chelsea e uma das melhores jogadoras do mundo, à cabeça — juntaram-se e exigiram um salário mínimo de mil euros para todas as que não tivessem um contrato profissional com os respetivos clubes mas fossem constantemente convocadas para a seleção. A resposta da Federação foi negativa. E as consequências não tardaram.

"É isto que peço às raparigas brasileiras. O futuro do futebol feminino depende de vocês para sobreviver. É sobre querer mais. É sobre cuidarem mais de vocês. É sobre treinar mais. É estarem prontas para jogar 90 minutos e ser capazes de jogar mais 30".
Marta, internacional brasileira e uma das melhores jogadoras de sempre

A primeira onda de choque surgiu num encontro particular contra os Países Baixos, a reedição da final do Europeu que tinha acontecido meses antes. Em protesto, as jogadoras dinamarquesas decidiram não participar na partida, tornando evidente o desagrado com a Federação. Cerca de mês e meio depois, apareceu o corte definitivo: ainda sem acordo com a organização, a seleção da Dinamarca não compareceu no jogo contra a Suécia, já a contar para a qualificação para o Mundial 2019. As suecas apoiaram a decisão das adversárias, as jogadoras dinamarquesas justificaram-se mas a FIFA, quase de imediato, declarou o encontro como uma falta de comparência, multou a Federação em 20 mil euros e atribuiu uma vitória por 3-0 à Suécia.

Depois de ter acontecido o inevitável, a Federação e as jogadoras assinaram um pacto de não agressão para que os jogos seguintes não estivessem em causa. Não obstante, a derrota na secretaria contra a Suécia colocou em causa o apuramento: na segunda mão, um golo de Jakobsson foi suficiente para garantir a vitória sueca e a Dinamarca, finalista do Europeu anterior e uma das candidatas à conquista do troféu, ficou fora do Campeonato do Mundo. Sem Mundial, a questão das condições laborais e salariais ficou congelada — e só foi desbloqueada, ironicamente, pela seleção masculina.

Num ato louvável e muito liderado por Simon Kjaer, médio do AC Milan e capitão da Dinamarca, a seleção masculina ameaçou rescindir todos os acordos que tinha com a Federação e chegou a colocar em causa a participação nas partidas de apuramento para o Euro 2020. Entre a espada e a parede, a Federação dinamarquesa acabou por ceder e anunciou igualdade salarial entre homens e mulheres.

FC Barcelona v VfL Wolfsburg: Semi Final First Leg - UEFA Women's Champions League

Alexia Putellas, a melhor jogadora do mundo, vai falhar o Europeu por lesão

Getty Images

Alexia Putellas, a estrela maior que nem precisa de estar presente para ser a figura de um desporto

Já é quase uma maldição: em 2019, a melhor jogadora do mundo falhou o Mundial por diferendos com a própria Federação; em 2022, a melhor jogadora do mundo vai falhar o Europeu por lesão. Há três anos, Ada Hegerberg não foi convocada para o Campeonato do Mundo por estar de relações cortadas com a estrutura da Noruega, num problema que entretanto já foi ultrapassado. Este ano, Alexia Putellas sofreu uma rotura de ligamentos a menos de uma semana do início da competição e deixou Espanha desprovida do seu principal elemento.

Um Mundial que não tem a melhor do mundo e é o mais importante de sempre. Mas porquê?

O contraste entre Hegerberg e Putellas, porém, é também uma das imagens que ilustra a evolução do futebol feminino. Com apenas 26 anos, a avançada norueguesa é a melhor marcadora da história da Liga dos Campeões, que já conquistou em seis ocasiões, leva sete campeonatos e cinco Taças de França com o Lyon e ganhou a Bola de Ouro em 2018. Ainda assim, nunca foi verdadeiramente uma estrela global, passando totalmente ao lado dos mais distraídos e sendo uma referência apenas para os mais atentos ao futebol feminino. Uma realidade que não se aplica à espanhola.

Com 28 anos, Alexia Putellas já ganhou uma Liga dos Campeões, leva seis campeonatos e seis Taças da Rainha com o Barcelona e foi a vencedora da última Bola de Ouro. Pelo meio, aproveitou o hype espanhol pelo futebol feminino — entre as mais de 90 mil pessoas em Camp Nou, uma equipa do Barcelona que joga o melhor futebol do mundo e a subida de nível da seleção — para se tornar uma autêntica estrela e a atual figura maior da modalidade. Putellas tem quase dois milhões de seguidores no Instagram, é uma das caras da Nike e recordista de camisolas vendidas não só no Barcelona como na seleção. É a capitã de uma equipa onde vai fazer muita falta mas que, claramente, vive à boleia da imagem do seu principal elemento.

Já é quase uma maldição: em 2019, a melhor jogadora do mundo falhou o Mundial por diferendos com a própria Federação; em 2022, a melhor jogadora do mundo vai falhar o Europeu por lesão.

No espaço de um ano, a espanhola atingiu níveis de popularidade dos quais Ada Hegerberg nunca se aproximou. Atualmente, principalmente em Espanha mas um pouco por toda a Europa, Alexia Putellas tem a fama, a relevância e a importância de um jogador de futebol de uma das principais equipas do mundo. Na realidade portuguesa, o exemplo mais próximo será Jéssica Silva, avançada que conquistou a Liga dos Campeões com o Lyon, que jogou nos Estados Unidos e que atualmente é conhecida e reconhecida por todos — algo que não aconteceu com Cláudia Neto, Carla Couto ou Edite, as três principais jogadoras portuguesas nas últimas décadas.

O futebol feminino cresceu, está a crescer e vai continuar a crescer na Europa e também em Portugal. No recente plano estratégico para o período 2020-2030 divulgado pela Federação Portuguesa de Futebol, é possível entender que o futebol feminino cresceu mais do que o masculino ou o futsal no que toca a atletas federados, competitividade e participação em competições nas últimas épocas. A Seleção Nacional estreia-se no Europeu este sábado, contra a Suíça, e a passagem para lá da fase de grupos é extraordinariamente difícil — mas este é apenas mais um primeiro passo de um longo caminho de sucesso que continua sem travar.

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