O ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, acusou esta segunda-feira a China de “andar a ameaçar Taiwan há anos” — uma ameaça que “tem vindo a tornar-se mais séria nos últimos anos” — e desvalorizou o impacto da visita à região da líder do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, na escalada de tensão recente:

Quer Pelosi visite ou não Taiwan, a ameaça do exército chinês contra Taiwan sempre existiu e esse é um facto com o qual temos de lidar”, referiu ainda Joseph Wu.

A China “não pode impor a Taiwan que não dê as boas-vindas a quem quiser vir e mostrar apoio a Taiwan”, acrescentou ainda o ministro, referindo: “Preocupa-me que a China possa mesmo começar uma guerra contra Taiwan. Mas o que está a tentar fazer agora é assustar-nos e a melhor forma de lidar com isso é mostrando à China que não temos medo”.

Taiwan Foreign Minister Joseph Wu speaks to the

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan (© Daniel Tsang/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)

As declarações de Joseph Wu foram proferidas em entrevista à CNN, emitida esta segunda-feira — o mesmo dia em que o exército chinês anunciou que iria fazer (já neste 8 de agosto) novos exercícios militares marítimos e aéreos perto de Taiwan, como noticiou a Agência Reuters.

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O fim dos testes com simulações de ataques militares à ilha, motivados pela ida da líder do Congresso dos EUA Nancy Pelosi a Taiwan, chegou a estar previsto para este domingo. Porém, nesse dia o Exército chinês já adiantara que iria fazer novos exercícios militares — para testar o seu potencial de levar a cabo ataques aéreos a longa distância e ataques no solo — de forma regular algures entre esta segunda-feira, 8 de agosto, e o dia 8 de setembro.

Este novo conjunto de exercícios militares que começam esta segunda-feira prevê uma simulação de operações de ataque por via marítima, referia ainda a Reuters citando fonte oficial do exército chinês.

Na véspera, este domingo, o ministério da Defesa de Taiwan tinha acusado o exército chinês de ter simulado operações de ataque à ilha, aumentando a tensão na região e os receios internacionais sobre uma eventual intervenção militar da China em Taiwan.

Segundo o governo local, “vários grupos” de aviões, navios e drones chineses tinham sido detetados durante a manhã no Estreito da ilha. As forças chinesas, informava ainda o ministério da Defesa de Taiwan (citado pela Agência Lusa), continuavam “a realizar exercícios conjuntos por mar e ar, simulando ataques contra a ilha de Taiwan e contra os nossos navios no mar”.

[“Quais os perigos da visita de Nancy Pelosi a Taiwan?” foi o título de um episódio recente do podcast A História do Dia, da Rádio Observador, que pode ouvir aqui:]

Quais os perigos da visita de Nancy Pelosi a Taiwan?

Também este domingo, e como retaliação face aos exercícios militares feitos pela China nas imediações da ilha, a Agência Central de Notícias oficial local (citada pelo The Guardian) anunciou que o exército de Taiwan também vai fazer exercícios de artilharia de fogo real a sul de Pingtung estas terça-feira e quinta-feira. A Associated Press acrescentava que esses exercícios incluiriam atiradores, veículos de combate, veículos blindados e helicópteros de ataque.

Os exercícios militares da China feitos nas imediações de Taiwan já motivaram também uma reação dos Estados Unidos da América. Um porta-voz da Casa Branca, citado pela Reuters, considerou no sábado os exercícios militares da China “provocadores e irresponsáveis”. “Essas atividades são uma escalada significativa nos esforços da China para mudar o status quo“, afirmou a mesma fonte.

A tensão na região tem vindo a aumentar e acentuou-se recentemente com a visita da norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan. A líder do Congresso dos EUA defendeu a sua visita, afirmando que deve ser vista como “uma declaração inequívoca de que a América está ao lado de Taiwan” e denunciando “a agressão acelerada do Partido Comunista Chinês (PCC)” à ilha.

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Oficialmente, os EUA reconhecem a chamada “Política de Uma Única China” e não mantêm relações diplomáticas com Taiwan. Porém, na prática, mantêm fortes relações com o seu governo, previstas na Lei das Relações com Taiwan. Esta lei inclui garantias de apoio militar.