Em julho de 2020, Ricardo dos Santos, atleta português e do Benfica que vive há vários anos em Inglaterra com a também velocista Bianca Williams, acusou a Polícia Metropolitana de Londres de racismo após um episódio que levou mesmo a que avançasse com um processo contra as autoridades. “Parámos quando nos sentimos seguros para o fazer, estávamos no meio da estrada e vinham carros no sentido contrário. Não demorei mais de 20 segundos a parar. Quando chegaram perto de mim, estavam prontos para bater. Tiraram o bastão, tiraram-me o telemóvel e atiraram-me contra a parede. Gritei que tinha dores e eles disseram que eu cheirava a canábis. Expliquei-lhes que era um atleta profissional, que me podiam fazer testes”, contou na altura, num caso que aconteceu com a mulher e o filho bebé no carro.

[Ouça aqui as declarações de Ricardo dos Santos à Rádio Observador em julho de 2020]

Atleta do Benfica acusa polícia britânica de racismo. “Já fui mandado parar mais de 15 vezes”

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“Presenciei um incidente que ilustra o quão descontrolada a Polícia de Londres se tornou. Foi chocante e a polícia manteve-se no local uma hora. O casal estava inocente”, comentou então o vocalista dos The Pretenders, Chrissie Hynde, já depois do antigo campeão olímpico e mundial britânico e hoje treinador, Linford Christie, ter também critica a atuação policial. Numa primeira instância, as ações foram defendidas mas, mais tarde, Cressida Dick, comissária da polícia de Londres, fez um pedido de desculpas… esquecendo Ricardo dos Santos. “ O meu agente pediu desculpa à senhora Williams pelo sofrimento que claramente causou e eu digo o mesmo. ”, disse, admitindo “empatizar com alguém cujo automóvel é parado, tem uma criança no banco de trás e acaba por se descobrir que não está na posse de substâncias ilícitas”.

Ação disciplinar para polícias britânicos que prenderam atleta Ricardo dos Santos 

Agora, pouco mais de dois anos depois, o atleta dos 400 metros que vai participar nos Campeonatos da Europa que tiveram hoje início em Munique voltou a dar conta de um episódio de discriminação.

“Não me surpreende o facto de ter passado por isto novamente. Enquanto conduzia ontem [madrugada de domingo] a caminho de casa, fui parado por sete polícias armados que acharam que estava a mexer no telemóvel ao volante. A pedido deles, encostei [o carro] quando era seguro. Depois de parar, dois agentes correram em direção aos dois lados do carro. Um deles bateu na janela com o punho fechado e tentou abrir a porta do carro. Como estava frustrado e não sabia usar um Tesla, tirou o bastão e estava pronto para partir o vidro. Deixa-me chateado o facto de, dois anos depois, nada ter mudado. Qual a razão de serem precisos sete polícias quando eu estava sozinho? Dois ou três no máximo era suficiente”, denunciou o atleta de 27 anos através das suas redes sociais, tendo de imediato resposta em comunicado.

“Cerca das 4h da manhã de domingo, 14 de agosto, agentes armados estavam em patrulha num veículo policial. Viram um carro na A40 Westway e ficaram preocupados relativamente ao facto do condutor poder estar a utilizar o telemóvel ao volante. Os agentes deram ordem para encostar o veículo, ordem essa que não foi cumprida, e chamaram reforços. O condutor parou cinco minutos depois, altura em que os agentes explicaram o porquê de terem pedido para encostar. Após esta conversa, o veículo foi autorizado a seguir caminho. Entretanto, contactámos o proprietário pelo Twitter para que discuta connosco o assunto se necessário”, defendeu a Polícia de Londres, referindo ainda que tinha conhecimento dos vídeos que não demoraram a circular nas redes sociais em relação ao episódio com Ricardo dos Santos.

“Sim, apenas mostrei parte, porque o resto está com o meu advogado. Isto sem mencionar o motivo para ter demorado um pouco mais a parar”, respondeu o atleta português às autoridades no Twitter.