Autarcas do Alto Minho e da Galiza exigiram esta quarta-feira “justiça” para os seis milhões de habitantes da eurorregião, reclamando aos governos português e espanhol a melhoria dos 60 quilómetros da estrada que liga Ponte da Barca a Ourense.

“Pretendemos sensibilizar ainda mais os nossos governos para a necessidade de uma intervenção na estrada, para melhorar o traçado sinuoso de alguns pontos bastante críticos, bem como a criação de faixas que permitam a ultrapassagem, em segurança, reduzindo o tempo do percurso”, afirmou o presidente da Câmara de Ponte da Barca, Augusto Marinho.

Em causa está e estrada que liga o Itinerário Complementar 28 (IC28) à fronteira da Madalena e a Ourense, na Galiza, com uma extensão de cerca de 60 quilómetros.

O autarca social-democrata falava durante a cerimónia de assinatura de uma carta dirigidas ao primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e ao presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, realizada junto à fronteira da Madalena, no Lindoso, concelho de Ponte da Barca.

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A beneficiação daquela via é reivindicada há mais de uma década. Construída nos anos 80 e por onde passam, por dia, “mais de quatro mil viaturas”, a estrada é, segundo Augusto Marinho, “muito sinuosa e perigosa“.

“Por aqui passam não só trabalhadores transfronteiriços mas sobretudo transportes de mercadorias, o que evidencia a importância que tem para toda a região”, disse.

Autarcas de quatro municípios do Alto Minho, um deles representando também a Comunidade Intermunicipal da região, e 14 autarcas da Galiza, bem como o representante da província de Ourense, subscreveram a missiva a exigir aos governos a concretização daquela obra “com brevidade, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência ou através de instrumentos de financiamento no contexto da cooperação transfronteiriça”.

“Esta ligação tem um impacto em toda a região Norte, por ser a porta de entrada para a província de Ourense, pela sua proximidade à autoestrada espanhola A52 e alta velocidade (AVE). É a partir destas importantes infraestruturas que conseguimos estar no centro de Espanha, em Madrid, mas também no centro da Europa, reforçando a competitividade deste território”, referiu Augusto Marinho.

Segundo o autarca, “a beneficiação desta [estrada] está inscrita no Plano Rodoviário Nacional (PRN), definida como prioritária, bem como no plano de investimentos conjuntos da eurorregião Norte de Portugal/Galiza”, destacou.

O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Manuel Esteves, apontou a próxima Cimeira Ibérica, que deverá realizar-se em outubro, como a “oportunidade de ouro” para os dois governos “fazerem justiça ao povo e ao território, justiça a uma região que quer efetivamente ter coesão política, coesão económica e coesão social”.

“Se a famosa bazuca são 16 mil milhões de euros, nós estamos a falar de 15 milhões de euros nesta beneficiação. Digam-me qual é a questão que está aqui em causa? Nenhuma. Só falta vontade política”, criticou o autarca social-democrata, que acrescentou: “reivindicamos vontade política, reivindicamos a estrada, não uma nova estrada, apenas a beneficiação desta porque estamos num território sensível“.

Referindo que a estrada “é crucial para a região Norte e para a Galiza”, João Manuel Esteves sustentou que, olhando para a realidade do Alto Minho e de Ourense, em causa “estão mais de meio milhão de pessoas que beneficiariam diretamente com a melhoria” da via.

Destacou ainda a importância da “união” dos autarcas portugueses e galegos “em prol das suas gentes, do seu povo”, garantindo a continuidade dos esforços para que a beneficiação da estrada seja uma realidade e acabem os “papéis, as promessas e as palavras“.

“Como dizemos em Portugal, palavras leva-as o vento. Queremos mais modernidade, mais oportunidades para o nosso território. Queremos que as pessoas se fixem aqui, que trabalhem aqui, que os seus filhos cresçam aqui, que a vida aconteça aqui. Não podemos deixar que as pessoas desapareçam todas”, exortou.

Também a autarca de Lóbios, Maria Cármen Yáñez Salgado, sublinhou que a reivindicação conjunta está sustentada “nas necessidades económicas e sociais” da região transfronteiriça.

“Se não adotarmos medidas que travem o abandono do rural, teremos localidades fantasma. Estamos num parque natural, reserva mundial da biosfera, com um potencial tremendo, a nível cultural, natural, turístico, económico que não podemos deixar morrer. Somos obrigados, juntamente com os nossos vizinhos portugueses, a lutar pelo que consideramos justo”, disse a autarca galeg, garantindo que serão “tomadas todas as medidas e formas de pressões necessárias para conseguir melhorar a estrada“.