Na habitual flash interview que acontece no final dos jogos, a jornalista da Sport TV, Rita Latas, questionou Rúben Amorim sobre as declarações feitas por Slimani, ex-jogador do Sporting, que acusou o treinador de preferir Paulinho. Na altura, Amorim remeteu a resposta para a conferência de imprensa mas, ainda assim, o caso deu origem a processo disciplinar.

Certo é que o delegado do Sporting pediu ao delegado da Liga que registasse a pergunta da jornalista no relatório por se enquadrar “fora do âmbito do jogo”, tal como indica o regulamento da entidade. Já esta quarta-feira, o Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu abrir um processo disciplinar à jornalista.

Em resposta ao Maisfutebol, Manuel Queiroz, presidente do Clube Nacional de Imprensa Desportiva (CNID), assegurou que “se houver alguma multa que a Rita Latas tenha de pagar, o CNID terá gosto em ir pagá-la num saco com moedas de um cêntimo”, referindo que o regulamento vai contra a liberdade de imprensa.

Ela fez apenas o seu trabalho, com toda a lisura. Fez uma pergunta, o treinador respondeu dentro daquilo que entendia. Desconhecia o regulamento neste particular. É a primeira vez que uma situação destas acontece. O CNID, e acredito que também o Sindicato de Jornalistas, nunca foram auscultados para a elaboração do regulamento. Quando muito, quem poderia ser penalizado seria o canal de televisão, por ter firmado um contrato com essas cláusulas. Agora, um jornalista, por fazer o seu trabalho?”, questiona o presidente.

Queiroz admite ir “até às últimas consequências” para provar a inocência da jornalista. “Vamos até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, se for caso disso”. Por sua vez, o CNID reagiu em comunicado, mostrando-se contra o regulamento da Liga. “Os jornalistas não podem ser escrutinados por nenhum Conselho de nenhuma Federação ou Liga, nem por nenhum clube. Nunca. Jamais”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em declarações à TSF, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Luís Simões, diz que a ação movida pela FPF “remete para censura”, tratando-se de um caso “assustador”. A entidade promete levar o caso “às mais altas instâncias”, nomeadamente ao primeiro-ministro e ao Presidente da República.

Conselho de Disciplina diz que “não pode ignorar factos descritos” no relatório

Em resposta, o CD da FPF diz que abriu o processo disciplinar com base no que foi descrito no relatório oficial da partida que opôs o Sporting ao Desp. Chaves. O documento “fazia referência ao facto de a jornalista ter feito, durante a flash interview, pergunta não relacionada com o jogo que acabara de terminar” e podia “sancionar de imediato” a jornalista “em processo sumário”. Decisão vai padecer de uma “reflexão mais detida” e “ponderada”.

Os jornalistas que desempenham as suas funções por ocasião do jogo são agentes desportivos”, as flash interview são “exclusivamente sobre as ocorrências do jogo” e “a violação desta disposição é passível de enquadramento no artigo 141.º do Regulamento Disciplinar”, diz o CD.