Carlos III. Assim se chama o novo monarca cujo nome foi anunciado pela primeira-ministra inglesa, Liz Truss, à porta de Downing Street: “God save the King”. O filho de Isabel II escolheu ser tratado pelo seu nome de batismo, tendo sido uma decisão bastante ponderada. Em cima da mesa, também esteve Jorge VII, em homenagem ao avô materno.
Segundo o Telegraph, não foi uma escolha óbvia, por causa dos legados de Carlos I e Carlos II, antecessores que se depararam com inúmeras dificuldades em períodos históricos conturbados.
O reinado de Carlos I (1625-1649) ficou marcado pelo início da guerra civil britânica e por crise económica. Quatro anos após ter sido coroado, o monarca anunciou que não ia convocar as cortes durante dez anos, o que equivalia a governar de forma absoluta. A decisão causou revolta na maioria da população, que também nunca perdoara o facto de o Rei ter casado com uma rainha francesa e católica.
Num país anglicano e com disputas religiosas, o monarca foi acusado de favorecer os católicos, o que — juntamente com o seu autoritarismo — criou um terreno fértil para um conflito. Em 1642, após vários levantamentos populares um pouco por todo o reino, irrompeu a guerra civil. Inicialmente, o exército de Carlos I saiu vitorioso, mas, cinco anos depois, foi derrotado — e teve de fugir para a Escócia.
O exército chefiado pelo general Oliver Cromwell impôs-se nos desígnios do país e os escoceses, apesar de jurarem lealdade ao monarca, entregaram-no às forças inimigas. Carlos I foi condenado por traição e acabou por ser executado em 1649. Com a morte do Rei, Inglaterra tornou-se uma república.
Ainda assim, as tropas afetas à monarquia não desistiram e organizaram a resistência durante o período histórico designado como República de Cromwell (ou Protetorado). O exército liderado por Carlos II — filho do anterior monarca — nunca deu tréguas ao general e travou várias batalhas, nos primeiros anos sem sucesso.
A morte de Oliver Cromwell, em 1658, deu legitimidade e força para que Carlos II restaurasse a monarquia. E assim o fez, tendo sido coroado dois anos depois. Embora tenha conseguido pacificar os ânimos no país, o novo Rei seguiu as pisadas do pai: dissolveu o Parlamento, tentou implementar uma monarquia absoluta e demonstrou simpatia para aqueles que professam o catolicismo. E também se casou com uma Rainha católica, desta feita com uma portuguesa: Catarina de Bragança, filha de D. João IV.
Na vida pessoal, Carlos II ficou conhecido por ter muitas amantes, com as quais teve mais de dez filhos ilegítimos. Contudo, o Rei e Catarina de Bragança nunca deixaram nenhum sucessor. Quem sucedeu ao monarca foi o irmão Jaime II, cujo reinado voltou a ser assombrado por uma revolta, tendo sido o último Rei Católico a governar o Reino Unido.