Carlos Alcaraz já tinha salvo dois set points antes de ganhar o tie break no terceiro set, um dos momentos mais determinantes para a conquista do US Open frente a Casper Ruud, mas era naquele décimo jogo do quarto set que se centravam todas as atenções quando o espanhol servia para o título. Falhou duas bolas que pareciam fáceis, incluindo um smash na rede, fez prevalecer o seu serviço fechando o encontro com mais um ás num jogo onde fez bem mais do que é habitual. A história estava feita em Nova Iorque.

O novo Nadal que não quer ser Nadal já supera Nadal: Alcaraz conquista US Open e faz história como número 1 mundial mais novo de sempre

Mal o norueguês falhou a resposta a esse serviço, Carlitos caiu no chão a chorar. Não conteve a emoção. Levantou-se uns segundos depois, foi à rede trocar um abraço e curtas palavras com Casper Ruud, virou-se de imediato para a zona onde estava o seu camarote, ainda perguntou qual era o melhor caminho para lá chegar, não esperou e começou a galgar cadeiras e bancadas até chegar aos seus. Pais, irmão, treinador Juan Carlos Ferrero, fisioterapeuta, restante staff. Ninguém escondia a explosão de sentimentos, sendo que o abraço ao antigo jogador espanhol que também chegou a número 1 do ranking mundial foi um dos mais especiais. O mesmo caminho até regressar, o aceno para as bancadas como forma de agradecimento, a frase “Bravo Carlitos!” que passava nos ecrãs enquanto trocavas umas palavras com John McEnroe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com o triunfo no US Open, naquele que foi o primeiro Grand Slam da carreira, o novo rei Carlos I, que se colocou como um dos principais pretendentes ao render da guarda que se aproxima no ténis mundial, tornou-se o jogador mais novo de sempre a liderar o ranking mundial (quebrando o recorde que pertencia a Lleyton Hewitt, que já tinha 20 anos) e também o primeiro a ganhar um Major tão novo desde Rafael Nadal em Roland Garros no ano de 2005. Tudo, claro, fazendo o caminho mais longo de sempre até a uma final, com os últimos três jogos decididos a altas horas em cinco sets. Com isso tornou-se também o mais novo a ganhar no US Open desde Pete Sampras, vencedor de 14 Grand Slams, em 1990.

“Felicidades Carlos Alcaraz pelo teu primeiro Grand Slam e pelo número 1 que é o reflexo da tua primeira grande temporada que estou certo que será apenas a primeira de muitas. Grande esforço Casper Ruus, muito orgulhoso de ti. Más sorte hoje mas grande torneio e temporada! Continua assim!”, escreveu Rafa Nadal no Twitter, numa das reações mais virais após o triunfo de Carlitos que foi festejado de uma forma efusiva em El Palmar, a zona de Múrcia onde nasceu e já se tornou há muito um herói.

“Primeiro queria falar para todos vocês, por ser um dia especial e os meus pensamentos estão com todos vocês. É sempre complicado viver este dia mas gostaria de partilhar com todos vocês”, começou por dizer no centro do Arthur Ashe, pegando um pouco na deixa que tinha sido iniciada por Casper Ruus ao recordar também os ataques do 11 de setembro há 21 anos (algo ainda hoje muito presente em Flushing Meadows, com a inscrição da data a estar presente numa zona lateral do court onde se jogou a final).

“Foi algo com que sempre sonhei desde que era miúdo, poder ser o número 1 e poder ser campeão de um Grand Slam foi algo pelo qual lutei sempre muito. É difícil falar agora, são muitas emoções neste momento mas…”, prosseguiu de novo interrompido pelas palmas do público que não arredou pé das bancadas e ia percebendo o nervosismo do espanhol que estava à beira das lágrimas. “Foi algo que sempre tentei atingir, trabalhei muito com a minha equipa e a minha família porque só tenho 19 anos e todas as decisões mais difíceis são com os meus pais e com a minha equipa também. É especial para mim”, salientou.

“Houve algumas pessoas da minha família que não puderam vir, o meu avô em quem estive sempre a pensar, mas pensei em todos eles. Se agora já estou cansado? Não, agora estou feliz… Quando disse isso é porque não podemos pensar que estamos cansados nos jogos finais de um Grand Slam ou de qualquer torneio, temos de dar tudo em court e é algo no qual trabalho muito. Não é altura para estar cansado”, concluiu, antes de deixar também algumas palavras em espanhol. “Obrigado a todos, houve muita gente que veio de Espanha para me apoiar e animar neste dia tão especial e obrigado por tudo. O carinho que recebi desde o primeiro dia foi fantástico, foi o ambiente e o público que mais senti”, atirou, antes de receber um cheque de 2,6 milhões de dólares e o troféu das mãos do ex-campeão John McEnroe.

“É algo incrível poder ter esta taça nas minhas mãos e chegar a número 1 do mundo. Foi algo com que sempre sonhei desde que comecei jogar ténis, desde o princípio de tudo. Trabalhei sempre muito e é um momento especial para mim que nunca vou esquecer na minha vida. Ganhei o primeiro set pelo meu serviço, o Casper estava a jogar muito bem no fundo do court nos três primeiros sets mas consegui ir acalmando um pouco os nervos e recuperar o meu jogo no fundo também. No final, acho que soube sofrer. Servir para o título? Sinceramente, só pensava em atirar-me para cima e servir bem. Não foi fácil, mais até pelas pernas. Estava tranquilo em termos mentais mas já me estava a pesar. Sabia que tinha era de servir bem”, comentou depois aos microfones do Eurosport com o antigo jogador Àlex Corretja.