Xinjiang, a região chinesa em confinamento desde agosto devido ao aparecimento de casos de Covid-19, tem vindo a debater-se com problemas de escassez de comida e medicamentos, bem como falhas nos serviços de saúde. Face ao aumento das críticas, funcionários do governo foram instruídos a encher as redes sociais com publicações inócuas sobre os mais diversos assuntos, por forma a ocultar os apelos da população.

De acordo com uma diretiva governamental, divulgada pelo China Digital Times, os assuntos podem incluir desde “a vida doméstica, ao dia-a-dia parental, culinária ou questões pessoais”.

Há ainda instruções sobre as horas específicas a que os funcionários devem publicar: entre as 20h00 e as 22h00, num máximo de dois “posts” por dia (não podem, no entanto, fazer duas publicações em simultâneo).

A estratégia não tem convencido os 4,5 milhões de habitantes de Yili, que têm denunciado estas publicações. Uma das cinco autarquias da província de Xinjiang, Yili foi em agosto colocada em quarentena, sem aviso prévio, após o aparecimento de casos de Covid-19, ao abrigo da política de tolerância zero do governo chinês no combate à pandemia.

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Xinjiang tem-se tornado conhecida nos últimos anos por uma outra razão:  tem sido alvo da chamada campanha de limpeza étnica da minoria muçulmana uigur. Estima-se que cerca de um milhão de pessoas esteja detida em campos de reeducação, numa violação de direitos humanos que tem vindo a ser condenada pela comunidade internacional.

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As denúncias são várias, e vão desde a falta de alimentos e outros bens essenciais, até falhas no sistema de saúde, como mulheres grávidas a verem a entrada recusada nos hospitais, uma outra a quem não foi permitido regressar a casa depois de dar à luz, e um caso de um idoso a quem não foi admitida entrada nas urgências depois de chegar ao hospital a vomitar sangue.

“Estamos fechados em casa e faltam bens essenciais, e no entanto eles abriram as zonas turísticas ao público”, conta um habitante ao site What’s on Weibo (um portal que monitoriza a atividade na rede social Weibo, umas das maiores da China).  Yili, que faz fronteira com o Cazaquistão, é um dos pontos turísticos mais atrativos do país.

As autoridades, que a princípio qualificaram como fake news as notícias de problemas na região, já vieram entretanto admitir que se têm sentido dificuldades na distribuição de bens.

As autoridades de saúde do governo chinês reportaram este domingo a existência de 1.138 casos de Covid-19 no país, com cerca de 200 desses casos na região de Xinjiang.

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A política de tolerância zero da China tem colocado pressão em oficiais do governo para conter e erradicar quaisquer novos casos da doença. Pequim tem vindo a defender a estratégia, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou em maio que esta “não é sustentável”.

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