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A manifestação convocada para 24 de setembro, em Angola, para contestar o processo eleitoral, serão pacíficas. A garantia é feita por Adalberto Costa Júnior, o líder da UNITA, em declarações feitas no programa Contra-Corrente, da Rádio Observador, esta sexta-feira.

“As manifestações que forem assumidamente convocadas pela UNITA vão ser realizadas num ambiente de garantia de respeito às leis. Vão ser manifestações de paz mas de cidadania, porque temos a capacidade não só de as convocar como de poder fazer o controlo de como se podem desenvolver”, diz Adalberto Costa Júnior.

Ouça aqui as declarações do líder da UNITA na Rádio Observador.

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“Uma manifestação há 10 dias podia resultar num banho de sangue”

O líder da UNITA explica ainda que o partido optou por esperar algum tempo para fazer esta convocatória. “Podíamos ter feito uma convocatória há dez dias, por exemplo”, avançou. “E temos a certeza absoluta de que se o tivéssemos feito podíamos estar hoje com a responsabilidade de um banho de sangue nos nossos ombros e nas nossas costas. E foi exatamente o que quisemos evitar naquela altura.”

Por isso, o partido preferiu esperar que os ânimos acalmassem. “Não pensamos que vale tudo, não pensamos que deve ser o procedimento de quem tem responsabilidades políticas”, vincou o político angolano. “Achámos que, esbatido um pouco o imediato, com um pouco mais de ponderação, maior controlo e garantia de ordem, vamos efetivamente desenvolver este desafio que também faz parte do direito de cidadania em qualquer país.”

Ouça aqui o podcast “A História do Dia” sobre a situação em Angola.

Mudou alguma coisa em Angola com as eleições?

Nestas declarações, Adalberto Costa Júnior admite que “há muita, muita gente zangada” em Angola após as eleições. “Há muita gente com uma ânsia de protestar contra o governo.” O partido diz estar “consciente da realidade” e que entende que deve juntar “aquele que é um direito de manifestação e expressão” à sua ação dentro da Assembleia Nacional. “Os angolanos têm a possibilidade de irem à rua e manifestarem-se, mas não devem excluir a luta dentro das instituições. Seria um erro enorme oferecer por inteiro ao MPLA o palco das deliberações no âmbito da Assembleia Nacional.”

Apesar da contestação ao processo eleitoral, os 90 deputados eleitos nas listas da UNITA foram esta sexta-feira empossados no Parlamento angolano. Adalberto Costa Júnior indica que, ao ocuparem “os lugares na Assembleia” estão a juntar também “a luta por um estado verdadeiramente democrático e de Direito que é o que Angola não tem.”

“Com muita tranquilidade e responsabilidade, porque sei que hoje [sexta-feira] o passo que estamos a dar — e com a minha particular responsabilidade — é um passo que os angolanos não queriam que nós dessemos, uma parte substantiva dos angolanos”, admite Adalberto Costa Júnior. ”

O líder da UNITA voltou a frisar que o processo eleitoral não foi “justo e transparente” — mas recusa usar a palavra fraude: “Tivemos um processo de litígio no âmbito do pós-eleitoral grande, onde nunca usamos a palavra fraude. Foi também uma necessidade (…)”. “Nós usamos sempre [expressões como] desvio às leis, desrespeito às leis e à Constituição. Quando fomos metendo os processos tínhamos provas, continuamos a ter provas. Só em Luanda não nos foram contabilizados 220 mil votos que temos com atas assinadas pelo MPLA, por todos os outros partidos. Atas que o Tribunal Constitucional Partidário não teve o problema de dizer que eram atas falsas. Portanto, veja o desafio de Angola”.

Adalberto Costa Júnior diz que o resultado das eleições não expressa a vontade de quem “votou massivamente na mudança”. “E temos a expressão deste voto nas atas, pedimos ao Tribunal Constitucional que aceite as mesmas. Mas fomos mais longe. Como eles dizem que são falsas, estamos a pedir a uma equipa internacional que venha fazer a peritagem, uma avaliação judicial destas mesmas atas e verificarem se têm algum indicador de serem falsas.”

E diz ainda que “as próprias equipas de observação não consideraram as eleições transparentes, livres”, contrariamente ao que sempre fizeram em eleições anteriores, diz Adalberto Costa Júnior, que esclarece depois estar a referir-se ao grupo de observadores da CPLP e da União Africana,

Na participação na Rádio Observador, o líder da UNITA mencionou ainda uma conversa “com um encontro ao mais alto nível com dirigentes do MPLA”. “Vou talvez escandalizar quem me acompanha, dizendo que, na minha busca por um ambiente com tranquilidade de abordagem eleitoral, tive um encontro ao mais alto nível com dirigentes do MPLA, que me disseram ‘nós ganhámos a guerra’ e ‘enquanto nós existirmos ninguém mais vai governar esse país.'” O encontro decorreu “em finais de junho, princípio de julho”, recordou.

Adalberto Costa Júnior sublinha ainda que o partido não tem “dúvidas nenhumas de que quem votou na UNITA foi também muita gente do MPLA.”