Era um jogo mas ao mesmo tempo era tudo menos um jogo. Porque o Estoril tem sido um das equipas com melhor início de temporada. Porque foi na Amoreira que o FC Porto começou com uma grande reviravolta na segunda parte a marcha para a conquista do último Campeonato. Porque a margem de erro depois da derrota em Vila do Conde numa Primeira Liga que não teve até agora espaço para deslizes era pouca (e os encontros com Sp. Braga e Benfica estão próximos). Além de tudo isso, era mais do que um jogo.

Estoril-FC Porto. Rodrigo e André Franco jogam de início (0-0, 3′)

Era mais do que um jogo por tudo aquilo que aconteceu na goleada sofrida no Dragão para a Liga dos Campeões frente ao Club Brugge. Não foi o desaire mais pesado da era Sérgio Conceição mas sentiu-se como tal. Não foi uma derrota decisiva mas ganhou quase essa substância. Mais do que isso, e conforme foi falado pelos responsáveis no plano interno durante a semana, foi a exibição que teve menos de ADN FC Porto desde que Sérgio Conceição assumiu o comando dos azuis e brancos no verão de 2017. Os 26 quilómetros corridos em conjunto por Uribe e Eustáquio no meio-campo mostraram que não faltou vontade mas, erros individuais e coletivos à parte (bem patentes em todos os golos belgas), a forma como a equipa não teve a habitual agressividade com e sem posse e passou ao lado das segundas bolas foi anormal.

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Era mais do que um jogo por tudo aquilo que aconteceu depois da goleada sofrida no Dragão para a Liga dos Campeões frente ao Club Brugge. O ataque na zona do Museu à viatura da mulher de Sérgio Conceição, onde seguiam também os filhos Rodrigo (que está agora no plantel principal) e Moisés, teve um especial e natural impacto no treinador mas não passou ao lado do grupo, ciente da importância que o técnico que ganhou três Campeonatos e oito títulos em cinco anos tem no plantel e da gravidade de tudo o que se passou nessa noite de terror no recinto dos azuis e brancos. Mesmo não sentindo que fosse possível pedir uma saída do clube, todos sabiam que esse episódio tão cedo não será esquecido por quem o viveu.

Era mais do que um jogo por tudo aquilo que teria de acontecer depois da goleada sofrida no Dragão para a Liga dos Campeões frente ao Club Brugge. Quando se pensava que o desaire diante do Rio Ave tinha sido um alerta que marcaria o resto da temporada, naquele que Sérgio Conceição considerou ter sido o seu pior jogo desde que voltou ao clube agora como treinador (algo que a receção aos belgas bateu), a noite falhada na estreia em casa para a principal prova europeia de clubes voltou a revelar a pior face de um FC Porto que ainda procura referências perdidas, seja no centro da defesa sem Mbemba, seja no meio-campo sem Vitinha. Após Vila do Conde, foram várias as alterações na equipa; agora, havia essa “suspeita”.

Por uma questão física ou mera gestão (só no final da partida se poderá perceber isso), Pepe ficava de fora dos eleitos numa convocatória de 24 jogadores dando novamente lugar ao muito elogiado Fábio Cardoso. Mas as mudanças não ficaram por aí, sem que se pudesse apontar apenas o encontro com o Club Brugge como referência para a escolha: Rodrigo Conceição estreou-se como titular em vez de João Mário, David Carmo e Zaidu continuaram na equipa, o meio-campo foi o mesmo, André Franco foi a novidade em vez de Galeno e Taremi voltou a fazer dupla com Evanilson não havendo de novo Otávio. Quatro mexidas nos nomes, uma mudança pedida a nível de atitude e forma de encarar o jogo. E esse era o ponto.

Na primeira parte, pouco ou nada foi alterado. Os erros defensivos continuaram a ser uma constante (e as consequências podiam ter sido piores), o jogo ofensivo foi quase nulo e a reação ficou apenas no papel com uma equipa do Estoril sempre capaz de controlar todos os momentos. Depois, mais com o coração do que com a cabeça, houve pelo menos atitude para procurar mais. Com dois remates nos ferros, com algumas defesas apertadas de Dani Figueira, com uma grande penalidade salvadora nos descontos convertida por Taremi a surgir como um mal menor para o que se passou. No meio de tudo isto, salvou-se Uribe. Pepê também teve algumas fases importantes de crescimento da equipa, Rodrigo Conceição procurou dar a profundidade e Taremi. fez o habitual jogo entre linhas mas foi o capitão a tentar dar o exemplo que muitos não quiseram seguir. Se a equipa portista não entrou na Linha, o médio bem tentou remar contra esta fase.

O encontro começou logo com um passe mais longo de Diogo Costa para Zaidu que parecia chamar todos os fantasmas do meio da semana mas essa imagem não teria depois correspondência ainda que nenhuma das equipas tivesse feito sequer um remate à baliza. Com Pepê a jogar de forma assumida mais por dentro e André Franco a cair mais na direita mas de quando em vez a surgir à esquerda, o FC Porto foi conseguindo ter mais bola, projetou os dois laterais para a profundidade que a equipa pede quando joga sem alas mas teve como único lance de relativo perigo uma bola longa colocada nas costas para Taremi que nem tentou visar a baliza e perdeu a posse ao tentar amortecer para Evanilson (9′). Já o Estoril, sempre fiel à forma de jogar, tentava construir a partir de trás, “congelava” o jogo em posse mas não encontrava Erison.

O primeiro remate do jogo surgiria quase a meio da metade inicial, com Rodrigo Martins a aproveitar uma transição rápida que apanhou a equipa azul e branca desequilibrada para rematar muito perto do poste da baliza de Diogo Costa (21′). Pouco depois, Evanilson deixou a bola bater em demasia após um passe em profundidade e Dani Figueira foi a tempo de tirar para fora. A partida começava a mexer, também com Rodrigo Conceição a esticar jogo pela direita quase a dar a mote aos companheiros para terem uma outra agressividade no ataque ao último terço. No entanto, ninguém “ouviu” essa mensagem. Tanto assim foi que as oportunidades foram para o Estoril, com Diogo Costa a tirar o golo a Erison no primeiro remate antes da recarga de Tiago Gouveia ao poste (30′) e a defender depois mais uma tentativa de Gouveia (32′).

Sérgio Conceição baixava a cabeça e colocava a mão como que a perguntar a si mesmo como era possível tantas facilidades defensivas ao conjunto da Linha mas Pepê conseguiu finalmente agarrar mais no jogo a partir da esquerda para uma ponta final até ao intervalo com um FC Porto mais ao nível pré-Club Brugge, com André Franco a ter o primeiro remate (fraco) à figura de Dani Figueira e o VAR a confirmar dois golos anulados por fora de jogo, a um autogolo de Pedro Álvaro (34′) e a uma combinação entre Taremi e Zaidu (36′). No entanto, os erros defensivos voltaram a penalizar os dragões, com David Carmo a aliviar mal uma bola de cabeça, Tiago Gouveia a receber mais à direita nas costas de Zaidu e a rematar cruzado para o 1-0 com que se chegaria ao descanso perante um Sérgio Conceição cada vez mais incrédulo (41′).

Ao contrário do que aconteceu na Liga dos Campeões, Sérgio Conceição optou por não fazer alterações ao intervalo e viu a equipa entrar bem melhor no encontro, com um cruzamento perigoso de Evanilson sem finalização, Pepê a agarrar mais no jogo e Taremi a acertar com estrondo na trave num remate em zona central (51′). Ainda assim, essa projeção ofensiva em busca do empate tinha também um outro lado que era explorado da melhor forma pelo Estoril, que conseguiu colocar Rodrigo Martins a ganhar vantagem pela esquerda numa transição antes do cruzamento para Diogo Costa impedir o 2-0 de Francisco Geraldes (55′). Com tudo mais partido, as oportunidades e os golos podiam surgir em qualquer uma das balizas apesar de um claro apertar de malha dos azuis e brancos com Evanilson a cabecear a rasar o poste (65′).

Galeno foi a primeira opção saída do banco por parte de Sérgio Conceição, que abdicou de André Franco (jogo muito apagado na estreia) para desenhar um 4x2x4 com bola que tentava criar outros problemas à defesa estorilista. E foi mesmo o brasileiro a ter a primeira ameaça após entrar em campo, com aquele movimento tradicional de fora para dentro até ao remate a ficar nas mãos de Dani Figueira (68′). Mais um aviso para a formação da Linha, que deixara de ligar setores até aos três da frente como na primeira parte e que pior ficou depois da expulsão por acumulação de Ndiaye (76′). E o encontro acabou no meio-campo do Estoril, com Veron a acertar no poste de cabeça após livre batido de Pepê (79′), Dani Figueira a evitar o empate de Toni Martínez (81′), Uribe a ver um tiro desviado a passar perto da trave (84′) e Taremi a conseguir o empate já no final dos descontos, num penálti de VAR que valeu o 1-1 final (90+9′).