Assim como o futebol português teve um antes e um depois do dia 10 de julho de 2016, também o futsal nacional encontrou um antes e um depois do dia 10 de fevereiro de 2018 – neste caso até mais reforçado do que no futebol. Nessa data, Portugal dobrou um Cabo das Tormentas chamado Espanha e encontrou a sua Boa Esperança com a conquista do primeiro Campeonato da Europa da história. Mais do que isso, numa ideia que se alargou também aos clubes, percebeu que não era em nada inferior ao rival ibérico apesar do histórico que apontava nesse sentido. Tudo mudou. Não voltou a ser o mesmo. E era isso que a Seleção tentava mais uma vez demonstrar em busca de fazer ainda mais história na modalidade.

Foi igual ao Europeu de futebol. Igual, igual. Mas com um Éder ainda mais herói (a crónica do Europeu de futsal)

A seguir a essa conquista, Portugal soube perceber que o Europeu de 2018 era um ponto de partida e não um patamar de chegada (ou, como resumiu sempre o selecionador Jorge Braz, uma montanha que se tentava escalar até ao topo mas recomeçava de novo em cada competição). Foi com essa mudança de mentalidade que se tornou também pela primeira vez campeão do Mundo na Lituânia em 2021 batendo a Espanha nos quartos e a Argentina na final, foi com o prolongamento dessa mentalidade que se sagrou bicampeão europeu ganhando à Espanha nas meias-finais e à Rússia no encontro decisivo.

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Era o sonho do Mágico e tornou-se realidade com um bis do sucessor (a crónica do título mundial de Portugal)

Seguia-se a Finalíssima na Argentina, uma nova prova que junta os dois finalistas da Europa (a Espanha ficou com a vaga da Rússia, excluída das competições internacionais) e da América do Sul. Nas meias, o Velho Continente saiu por cima, com Portugal a ganhar com reviravolta ao Paraguai por 2-1 e a Espanha a vencer a Argentina no 3-0. O primeiro vencedor sairia do duelo mais vezes jogado ao mais alto nível entre seleções, com a Seleção a ter o ascendente anímico das três vitórias consecutivas desde 2018.

“Este jogo vai ter muito de gestão emocional, de perceber a sequência que o jogo vai ter. Certamente, Espanha terá os seus momentos, nós teremos os nossos. Será uma final muito equilibrada, de certeza. Espanha quererá certamente inverter o que tem acontecido nas últimas vezes. Queremos manter tudo o que de bom temos e acrescentar ainda algo mais. Se queremos mais e ambicionamos mais títulos, no nosso processo também temos de ter sempre algo mais. Temos de ser Portugal. Uma coisa é certa: vamos querer muito ser nós. Mas atenção: Espanha nunca deixou de ser Espanha. As seleções que aqui estão são de top mundial. Atingimos esse patamar, mas estas equipas nunca deixaram de ter qualidade”, tinha destacado Jorge Braz na antecâmara de mais um encontro que colocava em discussão um título.

Numa primeira parte com menos oportunidades flagrantes do que é normal apesar dos vários remates com perigo nas duas balizas, foi a Espanha a sair em vantagem para o intervalo com um golo no derradeiro minuto na sequência de um lance de estratégia trabalhado num desconto de tempo que valeu a Mellado, a surgir nas costas de Erick, o golo inaugural. Portugal voltava a estar em desvantagem mas nem por isso deixou que a ansiedade traísse o trabalho para chegar ao golo do empate, que chegou por Afonso Jesus aos 28′ após um roubo de bola em zona adiantada com um chapéu com muita classe. Até ao final, as chances de golo foram mais flagrantes, as equipas foram arriscando mas o jogo seguiu para prolongamento.

A confiança de Jorge Braz no futuro ficou bem patente no tempo extra, com alguns momentos em que estavam na quadra os mais jovens Tomás Paçó, Afonso Jesus, Silvestre e Zicky Té (o grande ídolo dos fãs nas bancadas) em simultâneo. Houve remates às malhas laterais, perdas de bola comprometedoras que podiam ter custado caro, muita cautela da Seleção que andava tapada por faltas e em risco de sofrer um livre direto que podia arrumar com as contas. Apesar de todas as tentativas, a decisão foi mesmo para os penáltis. “Que orgulho que tenho, que orgulho”, dizia Jorge Braz aos jogadores ainda antes do início do desempate, quase que libertando os jogadores de qualquer pressão. E Portugal ganhou mesmo, com Bruno Coelho, André Coelho, Pany Varela e Tomás Paçó a marcarem entre as duas defesas de Edu, gigante guarda-redes que viu André Sousa fazer os 50 minutos da final para entrar e resolver nos penáltis.