A primeira britânica, Liz Truss, deu uma entrevista a pedir desculpa, nomeou um novo ministro das Finanças e recuou quase totalmente no polémico “mini-orçamento” – tudo isto pareceu ter sido suficiente para acalmar os mercados. Mas outra coisa bem diferente é reconquistar a plena confiança dos investidores – e isso é algo que está longe de ser conseguido.

A bolsa de Londres subiu esta terça-feira 0,2% mas não acompanhou o otimismo ainda maior das principais bolsas internacionais. Pelo segundo dia consecutivo, com ganhos acentuados em Wall Street, as bolsas europeias subiram bastante mais: o DAX alemão ganhou 0,9% e o CAC francês subiu 0,4%. Outro indicador é que, nos mercados de obrigações, onde o Banco de Inglaterra continua ativo, os juros da dívida pública britânica (as chamadas gilts) baixaram esta terça-feira, mantendo-se porém perto dos 4% – ou seja, acima dos 3,2% que eram exigidos pelos investidores para comprar dívida britânica de longo prazo antes de rebentar a polémica com o “mini-orçamento”).

“Ainda que os mercados tenham reagido positivamente [aos recuos de Liz Truss], tanto a cotação da libra esterlina e as taxas de juro das gilts continuam sem regressar aos níveis anteriores ao mini-orçamento“, diz Azad Zangana, economista europeu da gestora de fundos Schroders, em nota difundida esta terça-feira. O valor da libra e o risco da dívida pública ainda não voltou ao normal: “nem acreditamos que isso irá acontecer no curto prazo“, diz o especialista.

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“Tendo em conta a volatilidade e a fragilidade do governo britânico, os investidores estão, justamente, a exigir um desconto na compra de ativos britânicos, devido ao risco adicional e a incerteza em torno das políticas que eles anunciam [e das quais se afastam, depois]”, acrescenta Azad Zangana.

Após a substituição do ministro das Finanças, Liz Truss está a tentar fazer um caminho de regresso à normalidade, quando as casas de apostas atribuem uma probabilidade superior a dois terços de que não chegará ao Natal como primeira-ministra. “Se Truss se demitir ou for empurrada para fora do Governo, então será bom para o partido [conservador] que consiga apresentar um candidato consensual para substituir o primeiro-ministro”, porque “mais divisão poderá levar a novas eleições, incluindo com intervenção por parte do Rei”, acrescenta Azad Zangana, rematando que “os investidores continuam nervosos, o que é compreensível“.

Oito minutos em palco, caril com gosto a traição e a competição com uma alface. Liz Truss pode não sobreviver até ao Natal

Duas sondagens publicadas esta terça-feira mostram que Liz Truss está em apuros — e nem sequer conta com o apoio do partido. Um total de 55% dos conservadores consideram que a chefe do governo do Reino Unido deve demitir-se, ao passo que 38% defendem que deve permanecer no cargo. De acordo com uma sondagem da empresa YouGov citada pela Sky News, 63% dos tories consideram que Boris Johnson seria uma boa opção para substituir Liz Truss — e 32% dizem mesmo que o ex-primeiro-ministro (que prometeu, no seu discurso de despedida, que voltaria) é o seu candidato favorito.

Mais de metade dos conservadores quer a demissão de Liz Truss e Boris Johnson é o preferido para a substituir