Tudo começou exatamente há um ano, quando o jornal Il Tempo anunciou “um novo terramoto no futebol italiano” e o La Repubblica confirmou que a Comissão de Fiscalização dos Clubes de Futebol enviou para o procurador federal da Federação Italiana de Futebol, Giuseppe Chiné, 62 transferências de jogadores entre 2019 e 2021 que envolveram alegadamente valores elevados que na verdade só faziam circular dinheiro na parte da contabilidade para maquilhar contas. Depois, as atenções viraram-se mais para a Juventus com a operação Prisma, que levou a inúmeras buscas na sede da Vecchia Signora e em escritórios de advogados e empresários para cruzar com dados dos Relatórios e Contas apresentados. Mais tarde, ainda com o clube bianconeri no olho do furacão, surgiram suspeitas de contratos paralelos assinados sem tributação.

As autoridades foram procurando cruzar documentos e contratos ao longo desse período, sendo que esta semana o Fisco de Turim acusava os responsáveis da Juventus de falsas comunicações à sociedade e aos mercados, obstáculos ao exercício de funções e manipulação e uso de faturas em operações inexistentes. No entanto, perante esse quadro legal que visava o presidente Andre Agnelli ou dirigentes como Pavel Nedved, Fabio Paratici ou Maurizio Arrivabene, o pedido para que Agnelli ficasse em prisão domiciliária acabou por ser recusado pelo juiz de Averiguações Preliminares, que considerou que o líder do clube não necessita de atuações cautelares perante o que está em causa. A decisão seguiu agora para recurso.

“As provas que foram recolhidas permitem traçar o perfil de uma atividade que altera os balanços, em primeiro lugar através do recurso anómalo a operações de trocas de direitos desportivos de um elevado número de atletas com o objetivo de satisfazer as necessidades dos pressupostos que afinal eram fictícias, mas depois pelo conteúdo das conversas registadas durante a investigação”, defende a acusação, que dá exemplos desses números alegadamente desvirtuados nos exercícios de 2018, 2019 e 2020, onde as perdas não foram de 209,5 milhões de euros mas sim de 222,5 milhões e um património positivo de 28,8 milhões positivos e não de 175 milhões negativos. No entanto, há mais. E é aqui que entra Cristiano Ronaldo. 

A investigação encontrou dados que permitem concluir a alegada existência de “elementos concretos para fazer acreditar que, em relação à primeira manobra salarial na época de 2019/20, os jogadores, de acordo com o clube, renunciaram em conjunto a um mês e meio de salários e não quatro meses durante o período de pandemia, conforme foi comunicado pela Juventus em março de 2020. As três mensalidades foram alocadas a anos seguintes”, defendem as autoridades. Essa conclusão chegou perante alegados contratos que foram feitos de forma paralela e encontrados nas buscas feitas no último ano.

De acordo com a Gazzetta dello Sport, foi nessas recolhas de provas que foi encontrado um “documento secreto” assinado por Juventus e Cristiano Ronaldo onde havia o compromisso do conjunto de Turim em pagar 19,9 milhões de euros ao avançado apesar dos cortes salariais que foram anunciados. Essa linha de investigação chegou depois de uma chamada intercetada entre dois dirigentes da Vecchia Signora que falava esse contrato paralelo feito com o português que só agora terá sido descoberto pelas autoridades e que previa o pagamento mesmo que o jogador saísses, como viria a acontecer em 2021. Esse contrato, bem como outros celebrados nessa altura de pandemia, não terão sido contabilizados pelo clube.

Segundo o La Stampa, Ronaldo terá recusado prestar declarações à justiça transalpina no âmbito deste caso de investigação por fraude fiscal à Juventus. Se assim for e continuar, a hipótese de poder um dia regressar à Serie A, nomeadamente ao Nápoles a quem foi apontado no último verão e nos últimos dias perspetivando o mercado de janeiro, perde força e pode mesmo cair por terra sem chegar a materializar-se.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR