Foi um dia cheio para o Presidente russo. Vladimir Putin agendou para o dia da Unidade Nacional vários encontros em Moscovo e, de cada um deles, saíram recados, todos com foco na Ucrânia. As palavras do chefe de Estado, muitas vezes ditas à porta fechada, foram tornadas públicas pelas agências estatais russas Ria Novosti e Tass. O mais imediato foi sobre Kherson, a cidade que parece estar prestes a regressar ao domínio ucraniano, embora do lado de Kiev ninguém confirme essa informação.

Saiam da cidade, foi o sumo das palavras de Putin, dizendo-se preocupado com eventuais baixas civis em Kherson. Ao longo do dia, também alertou para os países que cobiçam os territórios da Ucrânia (e não falava da Rússia, evidentemente) e de como a situação no país vizinho — invadido a 24 de fevereiro por sua indicação — se tornou suicida para Moscovo. Falando para o público doméstico, o Presidente russo fez um balanço da mobilização parcial, revelando que mais de 300 mil voluntários se alistaram, dispostos a ir para a frente de combate. Destes, 49 mil soldados já terão seguido para a Ucrânia, depois de treinados.   

Emboscada ou retirada dos russos? As dúvidas das últimas horas sobre o que se passa em Kherson

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1. Kherson

“Agora, é claro, aqueles que vivem em Kherson devem sair das zonas onde há ações mais perigosas, pois a população não deve sofrer.”

Do lado russo têm sido várias as indicações de que algo de grande estará para acontecer na cidade. A bandeira da Federação Russa desapareceu do centro administrativo da região, sem qualquer explicação oficial. Um dia depois disso, Vladimir Putin, enquanto conversava com jovens, defendeu que os moradores devem abandonar a região, de forma a evitar baixas civis.

Russian President Vladimir Putin Visits Red Square On National Unity Day

Putin com um ramo de rosas, na Praça Vermelha, para colocar no Monumento de Minim e Pozharsky, heróis da guerra do século XVII

Mobilização

“Já temos 318 mil. Por que temos este número de 318 mil? Porque os voluntários estão a juntar-se às fileiras. O número de voluntários não para.”

Os voluntários não param de chegar. Foi esta a ideia passada por Putin, muito embora haja notícias de milhares de russos a abandonar o país depois de anunciada a mobilização parcial. Segundo o Presidente russo, o número de mobilizados já ultrapassa os 318 mil homens, embora a maioria ainda esteja em território russo. Estas informações foram avançadas enquanto Putin falava com um grupo de voluntários, a quem explicou que 49 mil homens já tinham seguido para a frente da batalha. Os restantes ainda estão a ser treinados.

Ucrânia

“Sempre tratámos, e tratamos o povo ucraniano com respeito e cordialidade. Assim foi e é, apesar do trágico confronto de hoje”

Falando com historiadores, Putin afirmou que, do lado da Rússia, os ucranianos sempre foram tratados com cordialidade e respeito. O momento atual é uma exceção. No entanto, deixou claro que, na sua opinião, se nada tivesse sido feito — referindo-se à invasão de 24 de fevereiro — a situação atual seria a mesma, mas os russos estariam piores.

“Se não tivéssemos tomado as medidas adequadas em fevereiro, tudo teria sido igual, apenas estaríamos numa posição pior. Os alegados amigos da Ucrânia levaram a situação do país para uma fase em que se tornou mortal e suicida para a Rússia”, disse o Presidente russo.

Cobiça

“A ideia está viva. E a ideia de absorver a Ucrânia não desapareceu. Quase ninguém sabe disso, e apenas em documentos de arquivo estão os territórios que foram arrancados da Polónia.”

No 10.º aniversário do restabelecimento da Sociedade Histórica Militar Russa, Putin defendeu que há países, geograficamente próximos, que ainda tem ideias colonialistas em relação à Ucrânia, referindo-se a uma vontade antiga que a Polónia tem, na sua opinião, de anexar territórios ucranianos.